Paper Rings

Capítulo 5 - Juro por Coney Island

- Não estou brincando, eu com certeza teria te beijado naquele dia se não fosse o Niall chegando de repente. - Harry dividia uma garrafa de energético com Louis em um de seus inúmeros encontros de última hora nas escadas de incêndio do Second Street.

- Não, você não teria. Com certeza não, eu não teria deixado. - Soava como uma brincadeira e como uma frase leve saindo da boca dele, mas ao mesmo uma sensação de euforia tomava conta de seu corpo.

- E agora, você deixaria? - Era assustador como ele sempre encarava fundo nos olhos de Louis. Como ele sempre projetava toda a sua atenção de maneira natural, sem esforço.

- Não - ele ri, mas a verdade é que deixaria. - Me passe os morangos, sim?

- Eu estou séria e profundamente ofendido! Por que você me odeia? - Ele passa o pote de plástico enquanto forma um bico nos lábios que Louis queria morder tanto quanto as frutas.

- Não é minha culpa se você é chatinho.

- Sério, você precisa parar de se achar melhor que todo mundo só porque você tem uma média oito. - A conversa inteira era provocação e ironia, salgada e áspera. Eram como gato e rato na perseguição mais clássica de todas.

- Eu não me acho melhor que todo mundo. - Ele faz uma pausa para mastigar o último pedaço mordido de morango e levanta um dedo no ar para mostrar que ainda não tinha concluído. - Eu me acho melhor que você.

Só porque ser assim, solto e atrevido, não era fácil para Louis, não significava que ele não deveria tentar. Ele vinha tentando pelas últimas semanas na verdade, desde que viu o bilhete preso no mural e escrito em papel quadriculado. Tentava se parecer cada vez mais com Só Louis, seu alterego confiante e perspicaz. Mesmo assim, no fundo do seu pensar sempre existia algo o segurando, como uma erva daninha que insiste em nascer em um campo florido. Ele constantemente se perguntava por que Harry continuava sendo tão paciente; por que ele dava tantas chances; por que ele ainda não tinha o beijado e, especialmente, por que ele continuava ali se tinha tantas outras pessoas na universidade e na cidade com quem poderia estar ao invés dele.

Apesar de todas as dúvidas que permeavam seu cérebro antes de dormir, ele tentava aproveitar a oportunidade que tinha recebido. Era assim que ele se sentia, como alguém muito sortudo que teve a oportunidade de ser escolhido por Harry Styles, até que ele se cansasse e partisse para o próximo ganhador. Então, em sua cabeça, Louis deveria absorver cada instante disso, deveria memorizar a feição dele quando contava uma piada ruim, deveria memorizar o jeito que a covinha aparecia depois de uma gargalhada longa, devia memorizar a entonação da sua voz quando falava Chérie. Porque mais cedo ou mais tarde, Harry perceberia que Louis era uma propaganda enganosa, e fingir ser espontâneo e surpreendente era o único jeito que ele via de mantê-lo por perto por mais tempo.

- Você definitivamente não é.

- Prove. - Parte de Harry se perguntava se ele estava falando de si mesmo ou da frase que ele tinha acabado de dizer.

- Eu aposto que sei um monte de coisas que você não sabe. - Ele dá um gole longo na garrafa de plástico gelada e Louis observa seu pomo de adão descer e subir na garganta.

- Tipo?

- Tipo. - Ele pausa por um momento pra escolher, dentre as muitas curiosidades inúteis estocadas em sua mente, a mais impressionante, mas a palavra pareceu uma frase completa. - Tipo, todo ano a Torre Eiffel aumenta de tamanho no verão, de cinco a quinze centímetros, por causa de dilatação do metal, sabe.

- E o que mais? Você pode ter decorado isso hoje de manhã.

- A Muralha da China demorou uns 2600 anos pra ficar pronta. Tem um prédio na Alemanha que produz música quando chove. A arquitetura tem uma deusa grega, chama Héstia, filha de Cronos e Reia, mas eu só gravei esses nomes, não entendo nada de mitologia. - Ele pareceu, mesmo que por alguns segundos, uma enciclopédia, despejando informação atrás de informação e ele poderia dizer qualquer coisa que Louis acreditaria, mas ele não estava inventando, aquilo tudo era mesmo verdade, e no final respirou fundo.