Com 77 anos, e uma amiga com quase a mesma idade, D. Jandira partiu para uma viagem de 12 dias para a Terra Santa em uma excursão da Igreja. Quando voltou, a memória recente já não era a mesma, então não conseguia dar detalhes de todos os passeios, mas ela viveu seu sonho. E continuou a nos contar suas histórias antigas, estas ela nunca esqueceu...
Viveu até aos 83 anos, nos últimos tempos já não podia fazer doces, pois ficar na beira do tacho por horas não é fácil, mas não aceitava que estava debilitada, era "a filha que não deixava"...
Os últimos meses foram difíceis, ficou acamada e não interagia muito, mas contava a mesma história vezes seguidas para a mesma visita... Ela e suas memórias... até que não falasse mais.
Foi triste a ver tão debilitada, mas até este momento tão duro foi oportunidade de cura emocional, principalmente para sua filha, pois D Jandira ficava desconfortável com abraços e demonstrações de afeto, mas foi preciso muito contato, atenção e carinho no fim, o que gerou uma proximidade maior entre elas, mesmo quando ela já não percebia mais nada...
Não quero me ater ao fim, só quero dizer que toda a família esteve sempre por perto.
Quando lembro-me dela, não é o fim que vejo. Mas sim suas mãos. Mãos sofridas e gastas. Mãos sempre ocupadas, produzindo, transformando, criando. Mãos orantes, nas horas santas, missas e terços, sempre rezando pela sua família. Mãos expressivas, sendo se juntando espalmadas em admiração, em um punho sobre a palma em indignação, ansiosas pelos cabelos nos momentos decisivos da novela. Uma mulher batalhadora que apesar de todas as dificuldades, conseguiu sustentar, conduzir e amar sua família, sem perder seus valores e nem a sua fé.
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Mas a vida era assim...
Short StoryA história de minha avó materna, D. Jandira, parece coisa de filme ou livro. Sabe aquelas inspiradoras, sofridas, emocionantes? Ela não era perfeita, contudo uma verdadeira guerreira, que amou sua família e lutou por ela. Uma mulher forte, determina...