Dois.

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Todo mundo batalha contra algum fantasma do passado.

Saber disso, muitas vezes, confortava Park Jimin, por mais que isso soasse brutalmente egoísta.

Ele não era o único a sofrer com algo.

A vida não era sempre boa e seres humanos não possuem uma coleção de acontecimentos que proporcionam risadas e boas histórias para contar numa roda de amigos.

Depois de um tombo, daqueles feios que arrancam a paz, Jimin colocou-se de pé e seguia em frente. Tentava, pelo menos. É que superar algumas coisas não são tão fáceis assim. Por outro lado, se fosse levar em consideração todos os seus esforços, estava indo bem. Precisava se orgulhar disso, afinal de contas. Achava importante comemorar as pequenas vitórias da vida.

Mas, foi numa noite nublada de domingo, semanas depois de beber cerveja com o seu vizinho, que escutou a porta do apartamento ao lado se abrir com um baque.

Sobressaltado, espiou o que estava acontecendo através do olho mágico. Sua primeira reação, de longe, foi abrir a porta do seu apartamento depois de conferir o estado de Jeon Jeongguk.

Inacreditável. Era diferente olhá-lo assim diretamente, sem ser através do olho mágico.

A pele permanecia pálida, um pouco mais pálida do que o normal na verdade, mas havia um corte tão intenso na bochecha, o sangue brilhante e tão vivo dimanando com liberdade e maculando a gola da camisa clara. Um dos olhos estava inchando.

Jeongguk tentava lidar com o braço, aparentemente estava dolorido porque ele fazia um esforço considerável para não fazer tanta careta ao esticar o braço para procurar pelo molho de chaves no bolso da calça. Teve uma dificuldade sobrenatural para encaixar a chave na fechadura, o que era, no mínimo, frustrante.

— Tá tudo bem... — A voz de Jeongguk pôde ser ouvida num sopro dolente porque o seu vizinho olhava-o inerte, espantado demais com o estado em que ele se encontrava. — Faz parte do meu trabalho.

— Eu te ajudo — pegou o molho de chaves com agilidade e sem deixar que a chave escolhida se perdesse entre as outras, encaixou-a na fechadura e girou.

A porta se abriu ligeiramente e Jeongguk caminhou com dificuldade para dentro do apartamento. Os passos eram vacilantes, as pernas estremeciam e parecia difícil demais manter os olhos abertos.

Jimin ofereceu-se para lhe ajudar, segurando-o para que pudesse obter alguma firmeza e, em questão de segundos, Jeongguk estava no sofá sentado, os olhos fechados, a respiração vacilante. Os lábios se entreabriram minimamente para murmurar algo, um agradecimento talvez, mas o simples movimento pareceu trazer dor à bochecha. Então, apenas um murmúrio reverberou pelo apartamento.

Quantos socos eram o suficiente para desmontá-lo daquele jeito?

Não era o apartamento de Park, — na verdade, seria melhor se tivessem ido para lá porque Jimin conseguiria encontrar tudo o que precisava de olhos fechados —, mas já não era mais possível movimentar Jeongguk, teria que se virar. E seria bom se fosse rápido. Por isso, começou a transitar pelo apartamento até chegar ao banheiro.

Abriu o armário abaixo da pia e encontrou algodão e, procurando com mais atenção, também localizou um frasco de água oxigenada. Lá trás, perdido entre uma loção, sabonetes e um tubo de pasta de dente de hortelã, encontrou um pacote fechado de gaze. Pelo menos, Jeongguk era organizado.

Ao voltar para a sala, sentou-se ao lado de Jeongguk que, ainda de olhos fechados, não realizou movimento algum. A cena era meio aterrorizante e deixava Jimin apreensivo. O peito do lutador subia e descia.

Pugilista • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora