Hope se rende à saudade

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H: - Faça.
A: - Tem certeza ? Hope, ele vai esquecer tudo.
H: - Faça. Ele já me esqueceu uma vez, não seria um desafio novo para mim. Se assim ele fica a salvo, faça.

Deixei que as gêmeas me drenassem para o feitiço que removeria todo e qualquer vestígio de Malivore e do mundo sobrenatural do Landon, mas antes de começar precisariamos discutir o que ele deveria se lembrar para seguir em frente.

H: - Ele vai acordar no ponto de ônibus, a mochila vai estar pronta para viajar. Nela, vai ter uma passagem para New Orleans,
posso garantir que ele fique bem lá. Ele vai lembrar de ter fugido de casa depois que o Raf se foi naquele acidente junto com a namorada. Vai sofrer por perdê-lo, mas sabe que New Orleans será um recomeço. Vai lembrar de ter encontrado sua mãe, mas ela não correspondeu ao que ele esperava e ele sabe que foi melhor deixá-la para trás. Não queremos que ele comece uma busca sem fim, certo ? Vai esquecer o meu nome, o meu rosto, tudo sobre mim antes e depois de nos reencontrarmos.

Todos ouviram em silêncio. Não necessariamente porque estivessem concordando, mas porque não havia algo diferente a ser feito. Pensei e repensei em todas as lacunas que deveriam ser preenchidas, mas nada de novo me ocorreu. Era isso. Instruções dadas, fizemos o feitiço e o Dr. Saltzman se encarregaria de deixá-lo no lugar combinado. Assim que acabamos, olhei para seu rosto sereno, ainda desacordado, seria minha última visão do Landon. Ou pelo menos deveria ser.

Tudo foi feito como o combinado. Subi para meu quarto e chorei, muito. Então era aquilo. Depois de tudo que passamos, esse seria meu fim com o Landon. Tentei me agarrar ao pensamento de que ele estaria bem e seguro, mas isso não fez com que doesse menos. Nossa história havia sido apagada para ele e, se eu quisesse passar por isso, teria que ser apagada para mim também.
Lembei que deveria ligar para a tia Freya, para pedir que desse um jeito "casual" de encontrar o Landon e contratá-lo como garçom no Russeou, pelo menos enquanto ele não encontrava outra coisa. Expliquei tudo que tinhamos feito e de como ela não poderia deixar nada escapar sobre mim, nós ou nosso mundo. Não foi difícil convencê-la, ela sempre me entendia muito bem.

Dias depois, tia Freya ligou para avisar que estava tudo certo com o Landon. Ele havia chegado à cidade e agora trabalhava no bar. Ela me disse que ele tocava violão para entreter os turistas nos dias de folga, mas pedi que parasse por aí. Já não estava fácil seguir em frente, ficar sabendo como ele estava tocando a vida não ajudava muito. Agradeci mais uma vez por tudo que ela fez e desliguei.

Era incrível como tudo parecia ter voltado ao normal, ao mais normar que minha vida já foi. Mesmo tendo me reaproximado das gêmeas, não conseguia evitar de cair em velhos hábitos de isolamento. Meus dias passavam cinzas. Eu pintava, treinava, escrevia no meu diário, saía em missões de recrutamento de vez em quando. Mas era só. Dois meses depois, eu estava tendo uma semana bem ruim, péssima. Não estava mais conseguindo lidar com a demora das horas, com as aulas, com as conversas de superação que a Lizzie construía quando percebia meus piores dias. Tudo estava horrível. Até minha magia estava instável. Pela primeira vez, consegui sentir na pele o que meu pai e meus tios provavelmente sentiram quando tiveram que se afastar uns dos outros e de mim anos atrás. A necessidade de ver o rosto de alguém, ouvir sua voz, saber que está a algumas horas de distância, e simplesmente não poder. Não fazer. Eu tinha ficado muito boa em controlar impulsos, mas esse não foi um deles.

Saí sorrateiramente da escola, após o toque de recolher, peguei meu carro (atenciosamente deixado pelo tio Elijah para ser entregue quando eu tivesse idade) e fui até o Landon. Cada parte de mim sabia o quão errada e perigosa era aquela decisão, mas eu fui mesmo assim. Não sei ao certo o que estava esperando. Acho que esperava mudar de ideia depois de horas dirigindo e dar meia volta retornando para a escola, mas não o fiz. Cada quilômetro mais perto do Landon só me fazia querer mais seguir em frente. Dirigi a noite toda e quando cheguei ao quartel francês simplesmente não sabia o que fazer. Não fui até em casa, não poderia. Estacionei perto em uma rua qualquer e saí, caminhando pelo lugar onde cresci. Tantas memórias me vieram à mente; tantos momentos bons e utros bem ruins. Lembro de ter caminhado por horas depois de comprar um café. Quando enfim decidi que tinha sido uma péssima ideia ter ido ali e estava voltando para o carro, eu o vi. Ouvi, na verdade. Fiquei escutando à distância, ele estava tocando uma das minhas músicas favoritas e quando acabou me surpreendi por estar diante dele.

One-shot Handon em New Orleans | Handon in New OrleansOnde histórias criam vida. Descubra agora