Capítulo 3 - A Primeira

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Talvez eu pudesse contar nos dedos as vezes em que havia segurado a mão de um homem na minha vida. Eu não ia prova isso agora, porque ou eu ia ficar deprimida de estar errada ou ia fica deprimida de estar certa. Melhor deixar na imaginação. Mas era ainda mais provável que aquela fosse a primeira vez que eu realmente pegava na minha a mão de um homem estranho. Alguém que não era meu pai, meu irmão, meu colega de escola. Simplesmente um homem.

Um homem que eu tinha visto pelado no dia anterior; muito obrigada, memória. Você funciona muito bem nas horas mais convenientes.

Meu rosto queimava com a enxurrada de pensamentos constrangedores me deixando surda a respeito de: por que diabos eu tinha pegado a mão do Mamoru?

Aparentando estar igualmente confuso, a mão dele tremeu. Talvez considerava retomá-la para si. Qual fosse o motivo, no final, acabou deixando-a ali na minha.

Num impulso tão inexplicável como o meu anterior, eu juntei minhas mãos, fazendo um sanduíche com a dele.

— Você tá tão gelado — comentei com a voz instável. Um comentário idiota já que estávamos em pleno outono, numa cidade nas montanhas, num frio desgraçado, no meio da rua e sem luvas. Perceber que ainda por cima eu o havia dirigido àquele homem não me fez me sentir menos louca.

— Eu devia ter trazido luvas — ele respondeu.

Sua mão tremeu de novo, mais um pouco e ele a tiraria dali. Por que avaliar isso me trazia aflição?

— Em pensar que ainda é uma hora da tarde... O inverno vai ser bem forte este ano — ele continuou a falar.

Eu só assenti; não conseguia tirar os olhos de onde minhas mãos seguravam a dele.

— Não vai me perguntar sobre o Takayuki-san?

— Por onde eu começaria?

Ele riu.

— Eu sou mesmo adotado — ele disse, então.

Agora sim ele tinha toda a minha atenção. Meus olhos saltaram pro rosto dele, para saber que piada estranha era aquela. Só que não era. Ou Mamoru era um ótimo ator.

— Adotado? — acabei repetindo suas palavras.

— "Só se forem de pai e mãe diferentes", não foi o que você disse? Por que está tão surpresa agora?

— Só quis dizer que vocês são muito diferentes. Só uma piada. Sabe, tipo quem diz que vocês se parecem no branco dos olhos?

— Sim, eu entendi. Mas foi a primeira vez que alguém reparou em como somos diferentes. Quem se esforça para ser sincero sempre fala de como temos um ar parecido.

Acabei rindo. Quando Mamoru me olhou sem entender, precisei explicar:

— É que isso parece muito com dizer que se parecem no branco dos olhos. Tipo o ar que vocês respiram é parecido.

— Não é bem nesse sentido... — Mamoru acabou puxando sua mão de volta nessa hora, para mexer com o cabelo e bagunçá-lo. Ele também fizera um gesto assim antes, não era? Ele continuou: — Nós só não somos de falar muito e sempre fomos estudiosos. — Pausou um pouco. — O que quero dizer é que comparam as nossas personalidades.

— Pois não achei vocês nem nisso parecidos — eu disse. Até que eu havia realmente feito uma comparação assim. Mas eu tinha sido propositalmente injusta, só porque os dois tinham me irritado. — Aquele homem tá mais pra um lobo em pele de cordeiro.

— Não é verdade; Takayuki-san realmente é tudo o que parece ser.

— Um adúltero pervertido.

Então, Fique ao meu LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora