(A) Mar

Ela é diferente

2020

– Ai Gizelly, me erra porra! – Bianca fala quando mais uma vez a amiga coloca a mão dela sobre a cabeça. – Parece o Jack Bacon pedindo carinho toda hora, eu ein. – A morena diz reclamando, mas continua o carinho na cabeça da outra que estava toda jogada na cama.

– Bianca deixa de ser reclamona, eu ein pão duragem de carinho nunca! – A outra fala rindo. – Mas continuando a história... Bianca aquela mulher não é da terra não, é UMA DEUSA! – Gizelly contava sobre a noite anterior que foi para balada. – Eu juro que já vi mulher bonita, mas igual essa, sem condições humanas...

– Viado ela te encantou mesmo né? – Bianca sabia que Gizelly era apaixonada por mulheres, não sentia somente atração, na empresa ela sempre gostou de trabalhar com o ramo feminino por sentir uma paixão absurda pelo corpo feminino e todas as causas que lutam para tentar tornar uma sociedade menos machista. – Como ela era? Me conta, me conta...

– Ela era morena sabe? Olhos verdes... Do jeito que eu gosto... – Gizelly fez uma pausa e suspirou.

– Agora foi, tá apaixonada... – A outra tirou sarro dela.

– Que apaixonada... Eu to mesmo, mas é por duas... – Gargalhando com a cara confusa da amiga, ela prosseguiu. – Bebê, essa era pra você, apesar de eu gostar muito de morenas, quem chamou a minha atenção foi a loira... – Mais um suspiro e Bianca pensou "Fodeu", pois sabia como a amiga ficava quando estava no inicio de uma paquera, fica, etc.

– Ai Gigica você falando assim e suspirando me assusta... – A morena comentou. – Você sabe que é uma sapatão emocionadíssima e ainda por cima libriana... Apesar de eu ser, você parece que nasceu virada pra lua. – Sorriu, pois sabia da intensidade das duas, mas sem dúvidas a sua era foca em outras coisas, enquanto a de Gizelly era total nos relacionamentos que ela tinha na vida: amizade, namoro, paquera, fica.

– Relaxa, meu amor, não vou ficar igual as outras vezes. – Gi sabia também o quanto era intensa e sempre que se jogava de cabeça em algum relacionamento, depois quando não dava certo era a melhor amiga que a socorria. – Enfim continuando... A morena era muito a sua cara, os olhos verdes, corpo perfeito, mas a que eu estou APAIXONAAAADA é a loira... Juro Bianca, ela é uma deusa de tão linda. – A morena parou lembrando da noite passada e o quanto ter conhecido a loira foi perfeito. – Além de linda, ela super comunicativa, era um tanto estranho o modo como ela falava...

– Ué, por que? Ela não é brasileira? – Bianca indagou. – Ai Gizelly não me diz que tu conheceu uma mulher estrangeira e vai querer ir morar fora...

– Que isso, Bianca? Tá doida, minha filha? – Disse como se fosse a coisa mais absurda do universo de acontecer. – Se bem que por essa mulher eu ia até o fundo do mar...

– Gizelly para de enrolação e termina de me contar, beijou ou não beijou, carai? – Bianca super curiosa, apesar de já ter escutado várias histórias de balada da amiga, sentia que aquela podia ser diferente.

– Não, beijar não... Porque a gente preferiu conversar e beber, claro que rolou um clima... – Suspiros de Gizelly. – E sabe Bia? Parece que não conheci ela e sim que a reecontrei... É estranho, mas é como se eu soubesse quem ela é e que ela soubesse quem eu sou. – Bianca sabia que a amiga era muito ligada em coisas cósmicas e era fascinada pelo mundo marítimo e tudo o que cercava ele. – Lembra as histórias de Caraiva? Sobre as sereias e que cada pessoa que quase se afogou lá fica sendo observada por uma...

– Você não esquece mesmo isso né... – Desde que Gizelly havia se afogado em Caraiva ficou cada vez mais encantada pelas lendas da cidade e pelo mundo marítimo. – Incrível isso, mas o que o cu tem haver com as calças Gizellay?

– Bi, não sei, mas eu senti como se essa mulher tivesse me observando... Tudo bem que pode ser só uma impressão e eu que sou maluca, mas foi bom sabe? – A carinha que Gizelly fazia ao citar a mulher era a coisa mais fofa de se ver: os olhos brilhavam, a pele ficava mais vermelha. – Ela tem uma energia surreal e você com certeza se daria bem com ela, fora que ela parece ser hiper divertida quando bebe...

– É quem sabe a gente não sai e faz um encontro de casal, você e ela, eu e amiga gostosona dela? – Bianca sorriu com a cara de safada. – Mas e aí você pegou o número dela né?

– VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR! – Gizelly gritou e assustou Bianca. – Ela não tem celular!

– Que? Como assim? – A morena olhava para a amiga incrédula. – Que mundo essa mulher vive meu Deus?

– Ela não tem rede social, nada, nadinha! – Gizelly ria. – Eu tive a mesma reação que você, não acreditei nela, mas amiga dela confirmou... Eu peguei o número da amiga dela. – A morena desbloqueou o celular e foi até a foto de perfil do Whatsapp para mostrar.

– CARALHO VIADO! Ela é perfeita mesmo... Eu preciso conhecer. – Bianca disse assim que viu a foto.

– Rafaella Kalimann... Eu achei o nome digno da dona dele, né não? – Cutuca Bianca que ainda está de boca aberta. – Bianca fecha a boca que a baba ta escorrendo já. – Gargalhou se jogando novamente na cama.

– Eu to muito impactada ainda, Gizelly... Mas tu não me disse o nome da outra, como é? – Perguntou e de fato Gi se tocou que não tinha dito o nome da loira da nome anterior.

– Ah, verdade... É Marcela McGowan.

Marcela

– Você tem certeza, Ma? – Rafa indaga Marcela que tinha chegado da rua recentemente. – Pode ter confundido...

– Eu tenho certeza, Rafa, era ela... Era aquela menina que eu salvei. – Marcela chegou desesperada em casa após ter visto uma menina que salvou a muito tempo atrás em Caraiva. – É ela, apesar de estar diferente, eu a reconheceria de longe...

– Marcela calma, o que você vai fazer? – Rafa pergunta ao ver o desespero da amiga. – Você não pode simplesmente chegar nela e dizer "Ei te salvei quando era pequena, lembra? Agora tenho que te levar, porque eu fiz merda e era pra você ter morrido mesmo". – A morena fala de forma engraçada e faz a loira ficar um pouco mais calma.

– Você tem razão... Mas eu fiquei tão eufórica que quis falar com ela logo. – Marcela sempre foi assim, impulsiva e as vezes até sem noção, ela era livre e sabia que fazer as coisas quando o coração mandava era algo que lhe demonstrava liberdade. – Ela está tão diferente, continua com a mesma áurea de quando eu salvei...

– Você realmente ficou encantada por essa criança, né? – Rafaella acompanhou toda essa "caçada" de Marcela pela criança perdida de Caraiva. – Nunca vi você assim, por ninguém que salvou...

– Ela é diferente, sinto que preciso me aproximar dela antes... – A loira engoliu seco.

– Antes de leva-la para morrer... – Rafaella concluiu.