Os mistérios

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Era uma vez... Não isso é muito clichê para essa história que eu pretendo contar e talvez até muito comum para esse contexto todo. Na real é que nem eu imaginava que isso fosse possível, mas depois de tudo o que aconteceu eu acredito até que a fé move montanhas.

Meu nome é Gizelly Bicalho, tenho 28 anos e moro em Vitória, Espírito Santo. Bem, eu não sou uma pessoa crente e que tenha uma religião para dizer que sigo ou que frequento, mas acredito em todas as crenças e acho todas válidas, desde que se tenha respeito pela diversidade.

Hoje eu sou publicitária, trabalho na minha própria empresa e tenho como sócia a minha amiga da vida toda, Bianca, que é tão boa publicitária como eu, na verdade ela é muito mais marqueteira que eu. Nós fomos criadas praticamente juntas desde que nascemos ela nasceu um dia antes de mim, nossas mães dizem que nós somos conectadas desde então.

Desde criança eu sou uma viajante ambulante, antes com os meus pais e agora sozinha, viajo todo verão ou sempre que há uma folga maior na empresa. Viajar é libertador, eu acho que viajar significa liberdade, se eu procurasse liberdade no Google apareceria "VIAJE". Eu tenho uma enorme bagagem de destinos, mas eu tenho um cantinho que recorro sempre que algo não está bom ou apenas para descansar... Caraíva, vocês conhecem?

Caraíva era o destino das minhas férias de verão durante toda a infância e adolescência, depois que sai da casa dos meus pais procurei conhecer outros lugares, mas sempre volto ao meu lugar favorito. Em Caraíva aconteceram as melhores e piores coisas da minha vida... Quebrei meu primeiro osso, peguei meu primeiro porre, dei meu primeiro beijo, descobrir que gosto de mulheres, fui pedida em namoro, pedi alguém em namoro e, acreditem, quase morri. Por falar nisso... É essa parte que me faz acreditar que existe de um tudo nesse mundo.

1998

– Bia, 'vamo' comigo lá no mar, por favor? – Gizelly chama a moreninha que estava na areia. – Por favor, Biazinha. – A menor junta as mãos para tentar convencer a outra que estava até então calada.

– Gi, não vem não, tu lembra que não me deu a batata frita que eu te pedi? – A outra finalmente tira a atenção do que estava fazendo para responder a amiga. – Isso é pra ti aprender a ser egoísta, Gizelly Bicalho. – Deu língua e saiu correndo em direção aos pais.

– Que raiva, Bianca Andrade, que raiva! – Esbravejou e foi em direção ao mar. O mar para Gizelly era fonte de renovação e de energia. Ela amava tomar banho, desde pequena foi assim, o pai sempre a levou para ver o mar, apresentou ele tão cedo a ela que era como se a pequena tivesse nascido do mar. – Ela vai ver, eu vou comprar aquele bolo e vou comer sozinha também. – Dizia enquanto entrava no mar.

Ao entrar no mar, Gizelly não deixava nenhum sentimento ruim atrapalhar o seu momento com ele, era só os dois. Naquele dia, o oceano ali estava um pouco mais agitado, mas nada que ela não estivesse acostumada, já tinha enfrentado revoltas maiores. Apesar da sua fascinação pelo mar, a menina não acreditava nas lendas que existiam na cidade sobre as criaturas místicas ou monstros marítimos, achava que isso não passava de pura lenda urbana.

– Como pode ser tão lindo? – Gizelly diz assim que dá o primeiro mergulho. Na região não era comum ataques de tubarão, mas os moradores já avistaram alguns em uns pontos da praia, logo a menina não tinha receio de ir mais longe da faixa de areia, até porque sempre nadou muito bem e como sua mãe dizia "O mar é melhor amigo da Gizelly".

            As ondas estavam altas, rápidas, mas nada iria fazer ela recuar, já ia embora e só voltaria ali alguns meses depois, precisa se despedir. Gizelly se afastou cerca de 10 metros da areia e isso era longe o bastante, mas achou que estava pouco e foi mais além. Tudo aconteceu muito rápido, nem ela sabe explicar o que aconteceu, mas de repente ela foi jogada por uma onda mais alta que as outras e não teve como reagir ou nadar de volta a areia. O ar acabava e ela tentava voltar, mas cada vez que tentava estava ainda mais longe das barracas dos pais e da areia... O ar acabou e Gizelly desistiu, era pequena, apesar de ter um corpo mais cheinho, sua força não podia com a daquelas ondas.

Ela apenas sentiu que alguém pegou pelos braços, mas não sabia quem poderia ser ali, tão longe da areia e nem ao menos quem teria visto ela se afogando. O que a menina viu foi uma imensidão rosa se misturando com o azul do mar, algo brilhoso e uns olhos castanhos cor de mel. Aquilo rosa era cabelo? Era uma mulher que tinha salvado ela? Mas de cabelo rosa? Como? Onde essa mulher estava durante os dias que elas estavam ali?

2020

– Isso é uma loucura! – Gizelly diz ao relembrar o que aconteceu em um dos verões em Caraíva. – Mas o mar tem seus mistérios, disso eu sei.

Gizelly após o episódio do afogamento não deixou de admirar o mar, ficou ainda mais admirada e maravilhada com tudo. Ninguém sabia da mulher de cabelo rosa e olhos cor de mel que a criança falava que tinha salvado ela no mar. Ela então deduziu que essa mulher seria a sua sereia da guarda, pois depois do que aconteceu sempre sentia que alguém a observava e não de fora do mar, sim de dentro. Por isso, ela ficou ainda mais intrigada por tudo que remetia ao mar e as coisas que eram ligadas a ele.

(A) MarOnde histórias criam vida. Descubra agora