Caroline's POV
A luz branca que é transmitida pelas lampadas gigantes presentes no teto dá um ar sombrio à livraria. Os livros estão empoeirados, alguns nas prateleiras todos desorganizados e outros ainda em ferrujentos carros à espera que alguém os arrume. O pequeno espaço presente no centro da cidade continha um cheiro a mofo e a bulor tão intenso que por mais de uma vezes pensei que iria vomitar. Estou à duas horas a jogar Candy Crush, rezando para que o tempo passe mais depressa para às nove da noite puder ir para casa. Aceitei este trabalho porque o estabelecimento fica perto do prédio em que eu vivo, era um dos únicos que me agradara e porque não é preciso fazer muito por aqui. Este lugar está sempre vazio, tanto faça sol como esteja a chover ninguém põe aqui os pés, exceto os seus funcionários. Sr. Klyon teve a gentileza de me mostrar todos os cantos da sua loja, é um homem velho com as costas a começarem-se a curvar e sendo ele o gerente gabava-se dos seus outros negócios contando que esta livraria era um presente que tinha oferecido à sua falecida mulher. Admito que me comovi um pouco com a sua história, mas tentei não o demonstrar fisicamente.
"Caroline, não te esqueças de entregar as chaves ao Calum." Relembrou-me o meu gerente, saindo pela grande porta de madeira, fazendo me gastar a minha última jogada do jogo num estúpido movimento. Resmungo um palavrão baixinho, tentando não dize-lo em voz alta. Tenho que supostamente esperar que o Calum um outro colega meu chegue e... Saio do meu jogo e vejo as horas reparando que ele já estava atasado.
Exausta de jogar no telemóvel, olho em volta e penso no que o meu chefe me contou, no quanto a sua mulher investiu na livraria, que acabou por perder o encanto e depois de pensar duas vezes agarro num pano e dirijo-me para uma secção ao calhas e retiro todos os livros das prateleiras e coloco-os no chão, limpando de seguida tanto o móvel de madeira como os livros e voltando a po-los no sitio, mas desta vez organizados por autores e depois foi para outra secção, e outra e depois outra.
Quando ia na quarta estante, um rapaz moreno, com a pele mais escura que a minha, com traços de asiático entra na loja fazendo com que a pequena campainha presente no cima da porta tocasse e que um som melodioso enche-se o silêncio do espaço. Ele olha em volta até colocar os seus olhos em mim e um enorme sorriso forma-se na sua cara, ele passa por mim sem proferir uma única palavra dirigindo-se de seguida para a entrada por de trás do balcão. Eu encolho-me quando o sinto a aproximar-se de mim, como sempre faço, e continuo o meu trabalho quando tenho acerteza de que me encontro outra vez sozinha.
Assobios são ouvidos quando o Calum sai da " sala dos funcionários" e rapidamente se junta a mim na minha limpeza geral.
"Sou o Calum e tu deves ser a Caroline certo?" Ele estende-me a sua mão mas eu simplesmente ignoro o seu gesto e concentro-me no que estou a fazer. Pelo canto do olho consigo ver o sorriso dele a fechar-se mas não por completo. "Então... A professora de Inglês pediu para te informar que estamos a fazer trabalhos em grupos e eu voluntariei-me para ficar contigo, se não houver problema claro."
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Finalmente o meu turno acabou e estou ansiosa para chegar a casa. O asiático- que afinal não é asiático- passou o resto do tempo a tentar meter conversa comigo e eu apenas assentia com a cabeça as sua palavras, no final vi-me praticamente obrigada a dar-lhe o meu número de telemóvel, pois ele insistia que precisava de falar comigo sobre o trabalho que tinhamos de realizar o mais rápido possivel, apesar de ser obvio que ele poderia falar comigo na escola ou até mesmo na livraria. Depois de me despedir dele com um aceno, foi a minha vez de caminhar até casa, acompanhada pelos The Cab a tocarem do meu telemóvel, a viagem fora curta visto que só tinha de andar um quarto de hora e quando chego ao meu prédio subo ao terceiro andar pelo elevador, destranco a porta e entro.
A Juuh está sentada na sua cadeira à mesa na cozinha, a brincar com um dos seus peluches e a Neiz está a colorir papeis com bonecos ranhosos neles. Olho em volta depois de cumprimentar as minhas irmãs mais novas, tentando encontrar Mark, mas este não se encontra na cozinha nem na sala, encaminho-me lentamente pelo corredor que dá passagem aos quartos e bato à porta do seu espaço.
"Entre." Faço como a voz me disse entrando e vendo papeis amarrotados por todo o lado e os olhos do meu padrasto vermelhos com ainda algumas lágrimas nos seus olhos verdes.
Rapidamente, corro até ele e abraço-o, sem perceber o que se estava a passar.
"Mark, o que se passa?" Pergunto depois de me separar dos seus braços, sento-me ao seu lado esperando por uma resposta da sua parte.
"Mmmmm... Recebi uma carta do tribunal e eles não concordam em pagar-nos ...a pens...são da tua m...mãe." As palavras do Mark entram pelo meu ouvido a cem e saiem a mil pelo o outro, como é que nós não vamos receber a pensão da minha mãe? Eu sei que a minha mãe e o Mark nunca chegaram a casar, mas tiveram uma filha juntos por amor de Deus. A minha vontade é gritar bem alto e partir algum objeto frágil de imediato. E agora como é que vamos sobriviver sem dinheiro? Eu trabalho para receber 150 dollars e o Mark está desempregado.
"E agora?" Acabo por perguntar num murmuro, temendo a resposta dele.
"O exercito aceitou-me de volta e..." Sinto as minhas bochechas a ferverem de raiva, o Mark não me pode deixar sozinha, não agora. Ele é tão egoista.
" É só por um mês, e prometeram que depois me arranjavam algo para fazer aqui, nem que tenha de ser a lavar as casas de banho, Caroline eu adoro-te a ti e as tuas irmãs e não partiria se não soubesse que tu és capaz de cuidar delas."
" Então e a escola, não há outra opções?" Os meus olhos enchem-se de lágrimas e abraço o Mark outra vez, chorando na sua camisola.
"Caroline, eu tenho que partir amanhã." E com as suas últimas palavras levanto-me e fujo do seu quarto, fujo até à entrada do meu prédio, fujo pelas escadas de incêncio, subindo os degraus dois a dois. Corro até começar a sentir as minhas pernas fracas e bambas, mas mesmo assim esforço me para chegar ao topo do prédio. Já no terraço ando apressadamente até à outra ponta e acabo por cair no chão de barriga para cima, apreciando as estrelas que brilhavam no céu. Ainda a chorar mas desta vez mais calma entrando na realidade da minha vida futura, afinal como é que eu devo tomar conta de duas crianças de 3 e 6 anos?+++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++++
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Too Late // l•h
Fanfiction"E qual é o teu nome?" Os seus olhos esverdeados observam-me, não percebendo o facto de eu estar a falar com ela. "Caroline, e o... te..teu?" A sua resposta é hesitante, e com um sorriso na cara respondo-lhe: "Luke."