Capítulo 2 - Lauren is Laurenzo

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Meu encontro havia sido marcado para daqui a uma semana, no dia vinte de novembro. Durante todo o trajeto para casa, fiquei pensando na maneira como contaria aos meus pais que não tinha sido emparedada com Austin, e sim com aquela inválida.

Não era só o fato de ela ser uma incapaz que me assustava, mas também o de ela ser uma menina. Como eu poderia ser compatível a uma mulher, se nunca me senti atraída por uma antes? Não que eu tivesse me sentido atraída por muitos homens também. Na verdade, eu gostava do homem aranha.

Busquei na minha mente a lembrança da sua imagem, mas só conseguia lembrar com exatidão daqueles enormes olhos verdes e vazios. Uma inválida. No feminino. Eu merecia.

Travei quando, finalmente, cheguei a frente da minha residência. Sofi ainda estava na mesma posição na janela desde que saí. Será que ela não se moveu um centímetro sequer?

Atravessei a porta devagar. Eu devia estar com um semblante péssimo. Dei de cara com uma sala de estar cheia de gente. Meus pais, Ally, Troy, Normani, Dinah e toda sua família. Sofi veio correndo de onde me observava anteriormente.

"Onde está o Austy?" Ela perguntou, me fitando com curiosidade.

Afaguei seu cabelo e dirigi meu olhar para todas aquelas pessoas, que estavam sedentas por saber a novidade, "Nós... Eu e Austin... Não somos compatíveis."

Dinah revirou os olhos e deu um tapa no ar, "Eu já sabia disso."

"Às vezes as pessoas dão certo, mas não são destinadas." Normani balbuciou, ela estava com o rosto horrivelmente inchado e os olhos vermelhos. Pobre Mani, deve ter chorado por horas. Mas o seu comentário, obviamente, se encaixava mais ao Thomas do que ao Austin.

"Oh, mija. Não chore." Mama veio em minha direção, com os olhos marejados. "Eu gostava do Austin também, ele era um bom menino."

"Só a senhora mesmo." Dinah falou baixinho, mas eu pude ouvir.

"Mama, eu sequer estou chorando..." Tirei seus braços de cima de mim e me sentei em uma das poltronas vagas.

Meu pai me encarou, "Então, se você não foi emparedada com Austin, quem é o seu par?"

Engoli em seco, "Erm, é que deu um pequeno problema na hora do meu resultado..."

"Ficou encalhada como eu!" Dinah me interrompeu. "Ninguém mandou rir de mim."

Lhe lancei um olhar de descrença, como ela podia fazer piada em uma situação dessas? Dinah apenas levantou as mãos para cima, se desculpando.

"Como eu estava dizendo..." Hesitei, esperando para ver se ninguém mais me interromperia. "Raramente algo assim acontece. Não é comum... Eu sou uma exceção, e nem sei o porquê, mas... Hm... Doutor Cowell quer testar se isso dá certo..."

"Pelo amor de Deus, Camila, fala logo." Ally perdeu a paciência.

"Eu fui emparedada a uma garota e ela é inválida." Senti aquilo sair da minha garganta como vômito. Eu estava tão melhor. Afinal, ninguém podia me culpar por isso, não era minha culpa, eu era mais uma vítima do destino. Ou das máquinas dos Cowell. Que seja.

Todos estavam paralisados. O silêncio só foi quebrado pela voz de Sofi.

"Legal, ela é bonita?"

Soltei o ar que estava prendendo nos pulmões, abrindo os braços para que minha irmã viesse para o meu colo. Aos poucos, o efeito Medusa se desfez, e as pessoas começaram a associar que isso realmente estava acontecendo.

Eu, Camila Cabello, destinada a uma incapaz.

"Mas essa gente não tem coração, Camila." Uma das primas de Dinah soltou. Eu nunca sabia quem era quem, os parentes de Dinah tinham todos a mesma fisionomia, praticamente.

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