Hogwarts Express

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               A euforia presente na plataforma era algo que Helena nunca havia presenciado, a quantidade de informação que a rondava era intimidante e quanto mais dava atenção aos detalhes, mais sentia o nervosismo crescer dentro de si. Ainda não havia se acostumado com a ideia de que seria mais uma vez a garota nova de uma escola, ainda mais quando se tratava de uma das escolas de magia mais prestigiadas do mundo, e nem sequer entendia direito o porque de terem deixado seu país de origem para residirem na Inglaterra. Apenas estava ali, a segundos de embarcar para uma viagem sem volta e sem direções concretas. Desviando sua atenção de seus devaneios, tornou a olhar para sua mãe que acenava de forma orgulhosa para si enquanto a garota se afastava e apesar da feição tranquila, seu corpo estava tomado pela preocupação, afinal ela sim sabia o motivo de seu retorno a sua terra natal e este estava longe de ser dos mais dignos e melhores.

              A medida que sua visão foi tomada pelas pessoas circulando no local, Helena voltou sua  atenção ao seu irmão, que lhe destinou um sorriso fraco na tentativa de confortá-la mesmo estando no mesmo estado que ela, se não pior. Era seu penúltimo ano, sua vida toda estava no Brasil, seus amigos, sua namorada, seu futuro e da noite para o dia teve de deixar tudo para traz, sendo submetido a uma mudança drástica sem explicações concretas ou verdadeiras. Essa era uma das virtudes do garoto, ele sabia exatamente quando estava sendo enganado ou quando estavam mentindo, sua atenção  extrema aos detalhes lhe permitia isso. Entretanto, era algo que raramente utilizava para confrontos, apenas manipulava a situação para algo a seu favor sem que ninguém tomasse conhecimento. Ao sentir o toque sutil de Helena, Pedro apenas a abraçou junto a si buscando transparecer completamente contido e inabalável, ele era o mais velho e tinha o dever de mantê-la segura e confortável, ou era isso que ele se dizia todos os dias para não desabar com toda a frustração que vinha sentindo desde que pisaram em solo inglês.

              Assim que chegaram nas proximidades do trem, embarcaram suas malas no compartimento destinado para elas, antes de seguirem o fluxo de alunos embarcando no trem. Helena tomada por sua inquietação costumeira quando se sentia desconfortável, passava atentamente seu olhar pelos uniformes que alguns jovens usavam, contendo diferentes cores e brasões, não sabia exatamente o que cada um significava, apenas se recordava de algumas histórias contadas por sua mãe, já que ela também fora uma estudante de Hogwarts, e uma parte de si acreditava que esse era o motivo da mudança repentina. Não demorou para que a vez de ambos para adentrarem o vagão chegasse, acenaram uma ultima vez para a matriarca de sua família.

              -Ainda não entendi o que estamos fazendo nesse fim de mundo...- Helena comentou com Pedro em bom e alto português, atraindo alguns olhares curiosos que logo foram ignorados.

              - Se depender de nossos pais, nem vamos entender. Mas agora não tem mais volta e fale em inglês antes que pensem que somos dois lunáticos ou coisa do tipo.- Pedro respondeu de forma direta enquanto buscava por uma cabine vazia para se sentarem.

              -Eu não poderia me importar menos com o que vão pensar de nós, Pedro. Problema não é meu que apenas falam uma língua, além de que dessa forma não acabamos com nenhum curioso enxerido se metendo ou espalhando...- Antes que pudesse terminar sua frase, a brasileira sentiu um choque contra o seu corpo fazendo com que cambaleasse para trás.- Mas que droga...

              -Opa, foi mal ai! Mas realmente deveria prestar mais atenção por onde anda.- O ruivo com quem Helena havia acabado de trombar falou com um sorriso descontraído no rosto e o típico sotaque britânico, logo recebendo um olhar incrédulo da garota.

              Vendo o que estava prestes a acontecer, Pedro não tardou para intervir. Sabia como sua irmã era e como a situação poderia escalar em questão de segundos, principalmente por ela estar com os nervos a flor da pele. Além do garoto não parecer querer uma discussão com o comentário feito.

              -Ela é assim mesmo, vive com a cabeça nas nuvens.- Pedro cortou sua irmã, logo sentindo um leve tapa em seu braço por conta do comentário.- Vocês por acaso não saberiam se há alguma cabine vazia por aqui, né?- Questionou alternando sua atenção entre o autor do esbarrão e o outro ruivo ao seu lado, idêntico a ele.

             -Acho que a esse ponto não mais, mas se quiserem podem se sentar com nós dois.- O outro ruivo respondeu, logo recebendo a confirmação de Pedro, tornando sua atenção para Helena que ainda mantinha um semblante sério.

             - E você, atrapalhada, o que diz?- O autor do esbarrão a olhou percebendo o semblante surpreso da garota.

             - Se com isso já esta me chamando de atrapalhada, não quero nem saber quais vão ser os apelidos caso pegue intimidade.- Comentou ajeitando seus cabelos pretos e ondulados cortados na altura do ombro.- Mas por mim tudo bem, alias, me chamo Helena, Helena Hoffman e esse é meu irmão, Pedro Hoffman.

            - Sou o Fred, Fred Weasley e esse é meu irmão George Weasley.- O ruivo se apresentou, os guiando para a cabine que haviam pego.- É um prazer conhece-los e não se preocupe, irá adorar meus apelidos.

            - Isso é o que veremos.- A garota deu levemente de ombros, conforme adentravam a cabine praticamente vazia, com exceção de um garoto, Lee Jordan, amigo dos gêmeos.

                                                                       (...)

            A longa viagem parecia estar seguindo de forma tranquila. Fred, George e Lee eram pessoas bem receptivas na visão dos irmãos, mesmo que não se comparava ao jeito brasileiro que estavam acostumados. O trio lhes contaram muito sobre a nova escolas que iriam atender, os professores, suas artimanhas e principalmente sobre as casas nas quais seriam separados. Este provavelmente era o ponto da conversa que mais interessou Helena, que de todos ali era a mais nova. Pelo modo que lhe fora explicado, a Sonserina era a pior das casas, o lugar onde grande parte dos bruxos acabavam se rendendo as trevas, a Lufa-Lufa eram aqueles que valorizavam lealdade e justiça acima de tudo, a Corvinal consistia de pessoas curiosas e inteligentes e por fim, a Grifinória que eram os corajosos e denominada a melhor casa de todas pelos três grifinos. 

            Em meio as brincadeiras e histórias trocadas entre o grupo, suas atenções foram chamadas com a parada repentina da locomotiva. Pelos olhares confusos, Helena e Pedro deduziram que aquilo não fazia parte do trajeto. Antes mesmo que pudessem perguntar algo, um frio extremo lhes atingiu, fazendo com que a pequena Hoffman se encolhesse ao lado de seu irmão que passou parte de seu casaco ao redor dela. Já não estavam acostumados com o clima ameno europeu, portanto sentiam seus corpos inteiros tremerem no intuito de gerar algum tipo de calor.

            - O que está acontecendo?- George questionou seu irmão e Lee, o qual mantinha uma feição pensativa.

            - Não tenho certeza, mas deve ter algo a ver com a fuga de Sirius Black. Algum tipo de revista.- Lee explicou mantendo seu olhar para o lado de fora da janela na tentativa de enxergar algo que não fosse completo breu.

            - Quem é Sirius Black?- Foi a vez de Pedro expor suas duvidas e pelos olhares trocados entre o trio a sua frente, já sabia que não iria gostar da resposta.

            - Ele é um assassino ligado ao Lorde das Trevas que escapou de Azkaban.- Fred destinou um olhar sério para os irmãos.- Ele é o primeiro a conseguir fazer isso, depois de doze anos encarcerado. Aparentemente ele está atrás de algo mas meu pai não quis nos contar o que.

            - Ótimo, como se não bastasse a mudança, agora um assassino está rondando por ai.- Helena se pronunciou com um tom impaciente, fitando o rosto de Pedro que parecia preocupado. "Acalme-se" ela escutou Fred dizer, ou ao menos pensou que sim.- Eu estou calma Fred.

             Nesse exato todos da cabine a olharam confusos e seu irmão, apreensivo. Fazia tempos que a garota não lia a mente das pessoas, não depois do surto que teve quando tal habilidade se tornou incontrolável. Porém, antes mesmo que pudessem comentar algo, foram interrompidos com alguém ou melhor algo, abrindo a porta da cabine. A sensação ruim foi infligida a todos, como se toda a felicidade que possuíam desaparecesse em questão de segundos. Uma figura encapuzada e esquelética se fez presente, tendo como o seu foco a jovem mais próxima, dolorosamente sugando sua alma para fora de seu corpo enquanto todas as suas piores memórias repassavam incessantemente por sua mente até uma forte luz branca se fazer presente afastando o dementador e o seu corpo cair inconsciente no chão.

Caminhos cruzados// Fred WeasleyOnde histórias criam vida. Descubra agora