Capítulo 3 - Marcelo

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Alguns meses antes...

Marcelo é um homem de hábitos. Acorda cedo junto com os primeiros raios do sol. A verdade é que ele não tem tanta necessidade de sono, quatro a cinco horas já se sente renovado. Em jejum sai para correr na praia. É raro nesse horário encontrar hospedes exceto por aqueles que estão voltando de alguma balada, normalmente quem ele encontra em sua corrida matinal são os nativos. Antes de retornar sempre bate papo com alguns deles e dessa forma fica informado sobre os acontecimentos da comunidade a qual ajuda sempre que pode e depois segue para o que mais gosta de fazer; seu corpo sente necessidade de sentir a água salgada do mar lhe abraçando, é ela que dá o aval para seguir por mais um dia. Em seu retorno até o resort já se mostra diferente de quando saiu seus hóspedes já circulam por suas dependências agraciados pelo sol brilhante baiano no charmoso povoado de Trancoso.

De volta ao seu bangalô particular toma seu banho, barbeia-se. Marcelo tem verdadeira implicância com essa parte. Ele faz a barba todos os dias e não admite que seus funcionários não façam o mesmo. Quando os contrata deixa muito claro que isso é um dos pré-requisitos para o cargo que ocuparão. Homens devem estar barbeados e de cabelos cortados e mulheres que tem cabelos compridos deverão usar os cabelos presos em um coque. Ele acredita que um rosto limpo demonstra boa apresentação e credibilidade ao trabalho. Isso não tem haver com beleza, mas sim com asseio.

Vestido com seu roupão encontrou a mesa posta com o café da manhã. Marcelo prefere tomar sozinho em seus aposentos. Uma porção generosa de frutas da estação, café, suco também da fruta da estação. Marcelo tem fraco por alguns bolos e tortas doces, a de pitanga é uma de suas favoritas e dona Jacinta a confeiteira de anos já sabe de cor os gostos de seu patrão. É nesse momento que Marcelo aproveita para ler o jornal ao mesmo tempo em que assiste ao noticiário e então segue terminando seu ritual de higiene se arrumando com a roupa escolhida para o trabalho durante aquele dia. Enganam-se quem pensa que Marcelo use bermudas e camisas florais. Marcelo acostumou-se e gostou de estar elegante no período de sua vida que morou em São Paulo, sendo assim, sempre usa uma calça social e camisa neutra em um tecido mais fresco, mas sempre que pode recorre aos ternos. Finalmente está pronto para começar mais um dia no comando da Aroeira Resort Hotels.

Primeira parada na recepção pegando os relatórios diários sobre a ocupação, disponibilidades, reclamações e segue para o seu escritório, lá ele tem acesso a toda a sua rede hoteleira que tem sede em todo o litoral nordestino e no sudeste hotéis pelas capitais e centros metropolitanos. A marca Aroeira era conhecida no país todo e também referencia para os clientes estrangeiros quando vinham até o Brasil. Seu empreendimento já tinha sido capa das principais revistas especializadas em turismo e hotelaria tanto em âmbito nacional quanto internacional. Eventualmente era convidado para ministrar palestras sobre gerenciamento nesse ramo. Marcelo era um homem de negócio de muito prestígio e ele fazia questão de sempre estar bem informado com as novidades que surgiam não se permitia a ficar parado no tempo e essa determinação refletia em seu sucesso profissional, mas nem tudo é perfeito, o lado pessoal de Marcelo andava há muito tempo em frangalhos.

Apesar de estar separado de sua primeira esposa por quase vinte anos, nunca a esqueceu de fato. Ela ainda era a verdadeira dona do seu coração. As mulheres que passaram em sua vida durante esse tempo nunca permitiu que ficassem. E assim foi se acostumando com a sua solidão, uma solidão rodeada por milhares de pessoas, seus funcionários e hospede. E por conta disso mergulhou cada vez mais no trabalho preenchendo com ele todos seus minutos.

O período da manhã ficava praticamente dentro do seu escritório envolto nos mais diversos relatórios de seus estabelecimentos, só se permitia uma pausa em dos seus momentos mais sagrados do dia, o horário do seu almoço. Marcelo dava muito valor a essa refeição e gostava de fazer no restaurante principal do resort ou em qualquer outro dos seus estabelecimentos que ofereciam esse serviço. Fazia justamente para avaliar a qualidade que ofertava e se tivesse algo que lhe incomodava já se prontificava em corrigir.

No Vento Gelado do Inverno [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora