Capítulo 8 - Eduardo

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— Marcelo! Onde você está? — Renata bradava do outro lado da linha telefônica. — Seu filho está precisando de você!

Era madruga. Mais uma madrugada muito fria na serra catarinense. Não fazia muito tempo que os dois corpos que ocupavam aquela cama aconchegante e quente se renderam ao mundo do sono. Antes se deliciaram um do outro como se fosse um bom vinho que merece ser degustado com calma para que se sinta o seu aroma e sabor. Então quando o celular acomodado na mesa de canto tocou estridente levou consigo todo aquele prazer ainda sentido na pele de seu dono.

— Renata, sabe que horas são? — Marcelo zonzo pelo sono e também entorpecido pelo cansaço depois de mais uma noite de amor desfrutada ao lado de Elis atendeu aquela ligação um tanto quanto irritado.

— Que importa a hora! Seu filho precisa de você agora!

— O que Eduardo aprontou pode esperar até o amanhecer, ele já é adulto...

— Ele está preso.

— Como assim preso?

— Agora tenho a sua atenção?

— Fale logo Renata!

— Me ligou da delegacia, ele precisa de um advogado.

— Era o que deveria ter feito ligado para um.

— Você realmente não se importa em nada com seu filho, seu monstro!

Renata com raiva desligaria o telefone na cara de Marcelo. Elis ao seu lado já acordada depois que Marcelo não se conteve e começou a falar alto a encarou com ar de desculpas.

— O que aconteceu? Foi com seu filho né?

— Aquele fedelho aprontou mais uma das suas e dessa vez pelo visto acabou preso. — Marcelo levantou da cama e seguiu para o banheiro de sua suíte.

— Sabe por quê?

— Não. Renata desligou na minha cara antes de me contar.

Elis pode ouvir um suspiro profundo vindo do outro cômodo e o barulho da água da pia escorrendo. Soube que não voltariam a dormir então decidiu também levantar e preparar um café para ambos.

— Vou descer e fazer um café para nós.

Não houve resposta e Elis tão pouco esperava por uma. Aquele era um momento complicado para o homem por quem estava se apaixonando a cada dia mais e mais. Sentiu-se impotente diante daquela situação e no momento a sua única retribuição era lhe preparar o café. Do outro lado Marcelo se encarava diante do espelho. Dessa vez o filho tinha ido longe demais. Sempre metido em confusão.

Desde criança Eduardo dava indícios de que não seria uma criança fácil. Seu parto já começou complicado. Virou, impedindo de ser normal como da irmã mais velha, Fabíola e partindo para uma cesárea. Manhoso. Chorava por tudo, em demasia como dizia dona Mia, avó paterna de Eduardo o que deixava Renata profundamente irritada. Não havia um brinquedo que ficasse em pé, nem os seus e muito menos de sua irmã. Fabíola também tinha que lidar com mordidas e puxões em seus cabelos. Quando repreendido pela a avó que morava com eles na época corria para a barra da saia de sua mãe que lhe afagava. E assim Eduardo crescia com o aval de suas artes dadas pela mãe apenas para afrontar a sogra. Marcelo também não tinha direito a ter muita voz em sua disciplina, quando o fazia era acusado de estar ali apenas para repreender e nunca para dar carinho e amor aos filhos.

Por conta disso se sentia culpado. Sabia de sua ausência da responsabilidade de criar os filhos que tinha jogado nas costas de Renata. Ela era mãe, saberia fazer o certo, assim pensava. Quando já era tarde demais para concertar o caráter do seu filho do meio, se culpou e então simplesmente pagava pelos danos que este causava.

No Vento Gelado do Inverno [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora