Capítulo 1 - Elis

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O sol começava a ganhar força depois de mais uma madrugada fria na serra catarinense. Elis gostava dessas manhãs após as geadas. O brilho do sol ganhava outra intensidade, talvez fosse à altitude, ou o cenário da grama ainda coberta pela camada fina de gelo e as imponentes e resistentes araucárias ao fundo. O que ela sabia com certeza que aquele momento ao abrir sua cortina e deixar o sol entrar em seu pequeno quarto de madeira rústica que era o seu momento favorito do dia. Os donos do casarão ainda dormiam, só acordariam dali a muitas horas e assim ela podia desfrutar daquela vista em sua plenitude como julgava que deveria ser apreciada.

E Elis sabia como fazê-lo. Iniciou seu ritual de saudação ao sol. Uma sequência bela de posições realizadas uma após a outra deixando seu corpo e mente em harmonia. Fazia pouco mais de dez anos que a yoga entrou em sua vida e veio como uma salvação em um momento de profunda dor e confusão mental que enfrentava. Estava perdida e ali se reencontrou e tudo se transformou e passaria a ver a vida e as pessoas de outra forma. Tudo se tornou mais leve. E por isso jamais iniciava seu dia sem antes entrar em harmonia e assim saudava o sol que aquecia e derretia o gelo que cobria o campo queimado pelo frio naquela serra.

Trocou o pijama de flanela por uma calça de moletom preta e um casaco que cobria seus quadris. Amarrou os cabelos castanhos e prendeu alguns fios teimosos com grampos, lavou o rosto na água morna graças ao aquecimento central que os proprietários puderam pagar, e algo que nem todo colono dali podia ter, e escovou os dentes. Estava pronta para começar suas atividades diárias como empregada doméstica daquele lar, ou melhor, daquele refúgio pouco apreciado pelos patrões. Seguiu por um corredor de tijolos de demolição, o caminho era lindo do seu quarto até a cozinha poucos metros dali, Elis achava tudo muito bonito e amava quando todos voltavam para seus lares de verdade e ela podia ficar sozinha apreciando não apenas a natureza ao entorno da casa, mas a própria casa em si. Composta de dois pavimentos. No primeiro ficava seu quarto e da cozinheira Cida quando vinha com os patrões para a serra, próximos da cozinha e área de serviço. A cozinha dava para a sala de jantar que ficava integrada à sala de estar onde havia uma enorme lareira que era acessa em momentos especiais, que em breve iria acontecer, certamente essa noite estaria acessa para receber o ilustre convidado dos seus patrões. Também há uma adega estrategicamente posicionada ocupando o espaço deixado pela escada que liga ao andar superior. No segundo andar está o quarto principal e mais dois de hospedes. Todos são suítes. Todos possuem banheiras de hidromassagem e aquecedores elétricos. Dona Valentina jamais ficaria ali sem esses confortos. Do lado de fora a casa é rodeada por uma varanda coberta que dá vista para as elevações do relevo catarinense e também para piscina aquecida e área de churrasco. Escondido entre o declive do terreno próximo à piscina há a sauna usada principalmente pelo senhor Miguel. Mas o que Elis gosta mesmo é do telhado verde, e fica de cima do seu Valmor, o jardineiro para que cuide e as mantem sempre bonitas.

— Bom dia Cidinha!

— Afe! Elis e seu humor matinal. Come logo porque teremos muito serviço.

— Oi Elis. Cidinha...

— Joaquina, toma logo seu café da manhã com Elis, pois as duas terão de polir toda da prataria até a hora do almoço.

— Calma Cida, — Elis sorri para a jovem Joaquina assustada a chamando com as mãos para sentar-se ao seu lado na grande mesa de madeira colonial que ficava bem no centro daquela cozinha aconchegante. Elis adorava aquele lugar. Mesmo com toda a modernidade ali presente nos eletrodomésticos, o casal de proprietários fizeram questão que fosse preservado o fogão à lenha original da antiga casa antes da reforma e transformarem o pequeno casebre naquele casarão luxuoso, um verdadeiro exagero para aquela duas pessoas, mas como empresários ricos do sul brasileiro precisavam de aparências e sua propriedade situada na área rural de Urubici lhe davam tais créditos entre seus amigos ricos e milionários, enfim a elite brasileira, que consideravam seus amigos. — ainda são seis e meia da manhã, eu e Joaquina daremos conta de polir tudo até antes dos patrões acordarem, não se preocupe.

No Vento Gelado do Inverno [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora