Capítulo 9 - Renata

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— Mãe, posso fazer uma pergunta?

Laura estava deitada no colo da mãe na sala do apartamento em que moravam em São Paulo. Uma belíssima sala de estar integrada a de jantar decorada com muita dedicação e empenho de Renata. Um dos seus hobbies favoritos após terem seus filhos já crescidos foi se dedicar a um curso de design de interiores e sendo assim redecorou todo o apartamento que ficou após o divórcio com Marcelo há quase dezenove anos.

Ela o convenceu que seria melhor para família que mudassem para São Paulo já que Marcelo estava viajando demais para o Sudeste do país buscando cada vez mais expansão para sua cadeia hoteleira que agora incluiria hotéis econômicos. Alegou que estava cansada de ficarem longos períodos sozinha, a verdade era que a pouco menos de dois meses descobrira que estava gravida novamente e desejava estar bem longe de Natal quando a criança nascesse, para que assim não gerasse nenhuma desconfiança em nenhuma das partes. Do marido que fora traído e do amante agora rejeitado.

Marcelo adorou a ideia. Sentia muita falta da família e desta maneira empenhou em encontrar o melhor lugar para tornar o novo lar de sua família. Jardim Paulista. O corretor de imóveis lhe garantiu que o melhor bairro que aquele não havia e assim vieram direto da capital do Rio Grande do Norte para a do centro financeiro brasileiro. Renata aliviada nunca reclamou da saudade da brisa do mar, a qual hoje já não lhe importa mais. Eduardo nos seus quinze anos ficaria fascinado, já Fabíola nos seus dezesseis, melancólica, queria as amigas e o mar de volta. E dali uns meses Laura nasceria e a vida deles giraria entorno do novo membro até que novamente, as viagens constantes do pai os afastassem de novo e antigos hábitos da mãe voltasse só que agora ela estava decida em colocar ponto final.

O amor a muito tinha ido embora e outro florescia em idas a cafés e teatros. Atenção. Em demasia assim podemos dizer. Era vista e completamente desejada. Melhor, era solicitada a todo instante, como se só existe ela nesse mundo para ele e nada mais. Ele também tinha filhos, ele também tinha um trabalho que exigia dedicação. Médico. Cirurgião Plástico. Realizou umas das suas primeiras correções de idade, que ele julgou desnecessária. Fora antiético, mas estava encantado. Renata tem esse efeito. E mesmo assim ele sempre tinha tempo para ela. Marcelo nunca tinha. Sempre indisponível. Sempre viajando. Sempre em seus hotéis e pousadas e nunca em casa. Então estava decidido ele ficaria com isso e ela com ele, o homem que a via, que a idolatrava e que a amava em toda sua plenitude, não apenas nas palavras ditas através de uma linha telefônica.

E ali deitadas naquela sala recém-redecorada onde nada mais lembrava aquele primeiro ano em que vivera ali com Marcelo, Renata encarou a filha com um sorriso terno e respondeu:

— Claro minha filha!

— Como você e papai se conheceram?

— Porque isso agora? — Renata a encarou de cima, com seu par de olhos pequenos, mas de um azul intenso, tão intenso quanto a sua personalidade.

— Curiosidade de saber como foi à história de vocês.

Laura depois que conseguiu se declarar apaixonada à amiga, e então sua namorada Tina, sentiu essa necessidade de saber como o amor aconteceu para seus pais, já que era algo que eles raramente tocavam. Marcelo sempre tinha algo singelo e doce para dizer de Renata à filha quando questionado, Renata, evitava, mas quando estava de mau humor sempre vinha com alguma reclamação a Marcelo. Mas naquele dia em especial sentiu que a mãe estava de bom humor então se arriscou.

— E porque está perguntando para mim?

— Você vai ser mais pontual do que papai. Ele iria romantizar demais.

— Ah! Isso com toda certeza faria.

— Pode me contar?

— Posso sim. Mas não tem nada demais.

No Vento Gelado do Inverno [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora