Ato III - Raposas Nunca Esquecem

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O sol já começava a despontar por entre as frestas da janela de madeira escura. A má iluminação não a incomodava. Estava sentada na cama segurando uma caneca generosa de café, observando sua única e solitária mala. Seria tudo o que precisaria para resolver suas pendencias antes de concertar sua vida.

A caneca fumegava em suas mãos. Passou a observar a pequena fumaça que dançava diante de seu rosto. Ali seus pensamentos iam longe, em lembranças não muito antigas, mas saudosas o bastante para sentir saudade.

No silêncio daquele quarto ela podia ouvir as batidas controladas de seu coração. Aprendeu com o conhecimento de sua família que para tudo o que fosse fazer, precisava sempre estar em total controle de seu corpo e emoções.

O que estava prestes a fazer seria extremamente perigoso. A morte seria uma feliz consequência se comparada com o abismo dourado que poderia cair. Um erro resultaria a sua inexistência ou uma eternidade paradoxal. Todo cuidado era pouco, por isso precisaria aprender ainda mais em como manter o equilíbrio espiritual.

"Esta com medo?" - a voz suave de Briana soou em sua mente.

- Não. Estou bem. - murmurou com os lábios colados na borda da caneca.

"Hermione, isso que fará é o que mais esperei durante minha existência. Mas não se esqueça que, embora tenhamos o mesmo sangue e carreguemos o mesmo carma, você pode desistir. Isso tudo não é expressamente seu. Você pode reconstruir uma vida confortável aqui."

- Talvez eu realmente pudesse, mas existe um vazio grande demais em meu peito que me impede até mesmo de tentar dar uma chance para esta vida. - a castanha murmura ainda com os lábios sob a caneca. Seus olhos se mantinham fixos na fumaça dançante em sua frente. - Não... a verdade é que não quero dar uma chance a isso. Eu sinto falta deles, sinto uma falta angustiante, mas existe alguma coisa dentro de mim que esta queimando e ardendo a cada dia e a cada noite. Sempre quando vou dormir eu quero chorar compulsivamente, mas não por Harry ou pelos outros. Eu me sinto presa...

"Entendo... nossos ancestrais estão clamando pela libertação da nossa magia através de você. E além disso..."

- Estou sentindo falta de algo que nunca foi meu. Estou com raiva de não ter posse de algo que nunca tive. Estou desesperada por encontrar algo que não sei o que é.

Hermione afasta a caneca de si e a deposita cuidadosamente na mesinha ao lado de sua cama. Com um suspiro longo ela se levanta e caminha até a janela para abrir a cortina e se deparar com o pouco sol que já conseguia aparecer por entre as paredes de outras casas terrivelmente juntas do beco diagonal.

Um vento suave a atinge assim que abre o vidro, arrepiando sua pele.

- Briana, o herdeiro de Slytherin é um monstro sombrio... - ela começa comprimindo os lábios. - Você acredita que minha interferência possa fazer com que ele mude?

"Salazar não era bom... e eu tão pouco naquela época, Hermione. Isso é algo que não vou saber te responder. Tudo depende do que você sente agora."

- Vou lidar com sua resposta como um 'não'. - diz abraçando seu corpo suavemente, passando as mãos em seus braços para esquenta-los.

"Considere minha resposta como um 'não sei' Hermione, porque realmente não sei." - Briana diz com a voz suave. - "Você está escolhendo um caminho difícil e perigoso. Nesta realidade a guerra acabou e o lado da luz venceu, mesmo que da forma mais torta possível, no entanto, sua interferência pode fazer o contrario acontecer... mas isso só se for da sua vontade. A verdadeira pergunta é... Você será forte o bastante para não ser ludibriada pelo herdeiro de Salazar?"

A Herança da Raposa - TomioneOnde histórias criam vida. Descubra agora