Já era quase 4 horas da manhã, mas Julie não sentia sono nenhum. É férias de verão, então é normal que ela troque o dia pela noite e seus amigos também fazem isso, então eles ficam conversando durante a madrugada e no outro dia só Deus sabe quando eles acordam. E quando acordam já vão logo tomando uma bronca dos pais por terem acordado tão tarde. Os outros adolescentes viajavam pra longe, mas Julie preferia ficar em casa, e os seus amigos tinham a mesma mania. Geralmente um dormia na casa do outro, mas hoje ela estava sozinha em sua casa e os seus amigos já tinham pegado no sono durante a conversa.
Julie desligou o celular e percebeu que estava morrendo de cede. Ela calçou as pantufas de cor azul quando se levantou e resolveu que iria até a cozinha, pegaria um copo da água e também algo salgado para comer enquanto terminava de assistir uma série da Netflix. Julie estava de férias, merecia esse descanso.
As pantufas não fizeram nenhum barulho no chão, e ela abriu a porta de madeira com cuidado para não acordar os pais. A última coisa que queria era que um deles acordassem furiosos e desligassem a Internet. Se eles desligassem, aí ela não teria mais o que fazer e séria obrigada a dormir. E bem, Julie não estava com nenhum pingo de sono. Talvez ela fique acordada até às 6 novamente.
Julie acendeu a luz da cozinha e pegou um copo de vidro no armário, teve que ficar na ponta dos pés para isso. Mas nada impediu que pegasse o copo. Ela abriu outro armário e dessa vez não precisou ficar nas pontas do pé. Pegou um pacote de salgadinho e foi até o filtro de água. Ela colocou o copo e deixou que a água enchesse enquanto ela já colocava a série que queria assistir no seu celular. Quando Julie olhou de volta para o copo, já estava quase todo o líquido na boca, porém tinha algo de errado. Ela deu um pulinho pra trás, mas não gritou, guardou o grito na garganta, porque ainda estava no impulso de não acordar seus pais. Julie desligou o filtro e viu a água toda vermelha. Seu rosto se tornou uma cara de nojo e então ela se lembrou, seu pai havia dito "Lave o filtro antes de colocar a água, já deve estar sujo" mas ela não escutou. Aos seus olhos o filtro estava totalmente limpo, mas pelo visto ela estava errada. Bem errada, na verdade. Sua careta de nojo aumentou quando ela jogou a água fora e o copo na pia.— Amanhã eu lavo o filtro — sussurrou para si mesma, pegando água da geladeira. — Mas o filtro não estava tão sujo assim, estava?
Ela colocou a água da geladeira em um outro copo novo e limpo. Matou sua sede e olhou o filtro com cara estranha.
Julie se aproximou e ergueu o pano que a sua mãe tinha comprado na praia ano passado. Era um pano rosa e tinha uma galinha desenhada acompanhada de flores vermelhas. Essas coisas que velhos gostam e esses tipos de coisas que se vendem na praia. Então, ela levantou o pano feio da galinha e dessa vez não se segurou, gritou. Aqueles olhos a encararam, e a boca sorriu. Tinha uma cabeça no filtro, e dava pra ver o sangue saindo do pescoço e sujando toda a água. Os cabelos negros balançavam pra lá e pra cá no líquido e ele sorria. Julie estava paralisada, como e por quê? Isso é impossível.
Ela abaixou o pano, nem se quer desligou a luz da cozinha, apenas saiu correndo e se escondeu de baixo das cobertas. No dia seguinte ela contou para seus pais, porém eles não acreditaram, até porque a água do filtro estava perfeitamente limpa e boa para beber.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Em nome do diabo
HororContos de terror que espero que te deixem sem dormir durante a noite.