— Mas que lugar é esse? — Perguntei, sem obter respostas. Comecei a andar pela areia, meu corpo não tinha nenhum machucado. Muito pelo contrário, estava hidratado e brilhante. Havia glitter natural em alguns pontos de iluminação, me sentia livre e tranquila. Agora era a minha casa, e eu não sentia falta de nada.
Mais na frente estava o mar, fui até ele e molhei meus pés sujos de areia. Passei as mãos nos cabelos, mais macios do que nunca. Todo meu corpo cheirava praia, um toque natural e novo. Diferente do que era acostumada. De alguma forma, não havia sol, apenas o azul do céu. O chão era tão macio, que lembrava as nuvens.
Um pouco longe, um barco grande e bonito. Levei uma mão até a testa, protegendo os olhos da claridade. Aos poucos indo na sua direção, a água chegou na minha cintura. Tinha uma âncora e a escadinha de corda, coloquei apenas um pé nela e peguei impulso. Entrando no barco, quieto e espaçoso.
Puxei uma porta, a luz estava acesa. Parecia ser um escritório, com mesa e papéis sendo assinados. Fui até ela e peguei eles, levando até a altura dos olhos.
Querida Sadie Sink,
Venho desde escorpião tentando informar, que no dia vinte de áries ocorrerá um chá, como forma de reunião. Achamos que já sabe do que se trata, por favor assinar imediatamente:
Vai catar coquinho.
___________________Dei risada pela maneira que ela assinou. Até um grito ecoar pelo escritório, joguei as folhas para trás e gritei junto com ela. Era uma garota ruiva, usava um chapéu de pirata e um vestido estilo medieval. Nossos gritos se misturaram. Até que eu parei para respirar.
— Invasora! Invasora! — Ela gritou tirando uma enorme espada das costas, de repente fazendo uma posição de luta.
— Quem é você? E onde eu estou? — Interroguei horrorizada, a ruiva deu pulos na minha direção. Aos poucos recuando com a espada.
— Como assim quem sou eu? Eu sou Sadie Sink, uma capitã e pirata famosa! Você está na Ilha dos Mortos. — Guardou a espada nas costas, se abaixando para pegar os papéis. Aproveitei para fazer o mesmo, ainda sem acreditar naquilo. Por mais que eu já sabia.
— Então eu morri? — Pensei alto, ficando em pé e entregando os papéis para ela.
— Quer um café? — Deu de ombros, andando desajeitada até outro lugar, saí rapidamente do escritório e fechei a porta. Sadie estava na cozinha, de frente para o escritório. Corri até ela e vi a ruiva se virar com uma xícara de café cheia, tanto que até caiu um pouco no chão. — Posso saber quem é você?
— Millie Bobby Brown, e eu acabei de morrer. Só que não sei como, e nem de onde eu vim. — Respondi sua dúvida, pegando a xícara e levando até os lábios.
— Morrer? — Ela riu como se fosse uma piada, Sadie limpou uma lágrima que caiu e regulou a respiração. — Você mora com os velhos do armazém, o que está fazendo no Sink?
— Quais velhos? E quem é Sink? — Tossi, assoprando o conteúdo da xícara preta.
— Garota você é doida, te aconselho sair do meu barco imediatamente! Sink é o nome do meu bebê. — Bateu na parede de madeira, então Sink era o nome de seu barco. A ruiva correu para fora ansiosa.
Deixei a xícara na pia, nervosa, e fui atrás dela. Corri os olhos por todo o espaço, até ouvir um barulho em cima. Atrás do meu corpo, havia uma escada estreita. Segurei nas bordas e subi com rapidez, vendo Sadie pendurada em um ferro. Ela sorriu e puxou algumas cordas. As velas do barco começaram a se movimentar com o vento, de repente a ruiva correu para a outra ponta, puxando a âncora.
— Próximo destino: Cidade dos Mortos! — Gritou abrindo os braços.
— Você não tem seus marujos? — Perguntei indo até ela, Sadie segurou firme no leme. Mexeu as mãos rapidamente, fazendo com que seu barco se movimentasse. E aos poucos, fomos nos afastando da ilha.
— Não preciso de marujos, me dou bem sozinha. Inclusive, não posso deixar de destacar que sua invasão ao meu bebê só atrapalhou minha aventura. Vai demorar longos sesem para chegar na Cidade dos Mortos. Vou deixar você na sua humilde residência, e ir para bem longe, solitária e confiante.
De alguma forma, eu sabia o que eram sesem. Posso dizer que é como chamamos os meses na outra vida.
— Solidão não pode estar na mesma frase que confiança. — Disse indo na sua direção, subi o degrau e caminhei até onde podia me apoiar para ver o mar.
— E do que sabe uma pobre criança de onze anos?
— De muita coisa, mesmo sem saber como. E eu tenho... Tenho... — Quantos anos eu tinha? Era uma informação errada, sabia que não tinha onze anos. Mas não sabia quanto era, afinal. — Mais que isso.
Sadie caiu na risada, todavia era forçada e seca. Não disse mais nada depois daquilo, apenas fiquei ali por algumas horas. Já era noite, minhas pernas doíam. Sentei no chão, ficando de frente para ela. A capitã manteve seu foco no mar, velejando com plenitude.
Bocejei e balancei meus pés, ela não fazia comida não? Ficava horas ali? Sem ir no banheiro e beber água? Bom, já devia de estar acostumada. Mas eu não, fui no banheiro algumas vezes e aproveitei para beber água. Seu banheiro era bem limpo, não que eu seja uma pessoa de reparar na residência dos outros. Claro.
— Quando sai a comida? — Perguntei coçando a cabeça, o relógio apontava dez horas da noite. A lua brilhava o suficiente para iluminar o mar.
— Ninguém está te impedindo de ir fazer. Se depender mim, sai amanhã. — Continuou com as mãos no leme, senti uma pontada no peito. Ela tive razão por um lado, mas o que iria fazer? Não sabia se podia fazer mesmo, se ela iria ficar brava e não gostar da minha comida, ou se ela ao menos queria fazer.
— Você pode pisar menos? — Falei tentando reprender sua grosseria, não precisava jogar na cara aquilo. E nem fui mal educada ao perguntar. Sadie podia muito bem falar um "Pode fazer se quiser" ou "só como amanhã", até um "se estiver com fome pode ir fazer".
Fui deixada totalmente, no vácuo. Respirei fundo e revirei os olhos, indo até a cozinha. Abri o armário e puxei um saco de pães e um de carne seca. No fundo dele havia duas garrafas de óleo e uma bolacha salgada. Suspirei e peguei um pão duro, colocando carne que vai lá saber a validade dela. Me apoiei na pia e arranquei um pedaço com os dentes, comendo o meu jantar.
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SINK | Sillie.
AventuraMillie tinha apenas quatorze anos, quando foi vítima de um raio na chuva. Mesmo sendo atendida rapidamente, não foi possível salvar sua vida. Ela só não esperava que os mortos realmente viravam estrelas, e que teve a benção de viver no paraíso...