10 - Julien

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Algumas horas atrás.

Me despedi de meus pais, assim que tomei café. Estava um belo dia. Acordei mais cedo do que o de costume, pois iria a delegacia abrir um boletim de ocorrência contra as fotos que estava recebendo por um e-mail desconhecido. Alguém estava me seguindo, estavam tirando fotos minhas, me perseguindo. Eu imaginava quem poderia ser: meu ex-namorado.

O movimento de pessoas na delegacia não era muito. Demorei apenas alguns minutos para concluir meu B.O, todavia insatisfeita, pois o delegado me desanimou, afirmando que seria difícil encontrar quem era a pessoa, apesar da minha desconfiança com meu ex-parceiro. Aquilo me deixou bastante chateada. Sai da delegacia desanimada, até que do outro lado da rua, percebo um cara de preto, usando um boné da mesma tonalidade que a roupa. Eu conhecia aquele rosto, apesar dele tentar esconder com o boné. Com medo, sai correndo para o ponto de ônibus.

Esperei meu ônibus no lugar de sempre. Muitas pessoas se encontravam por ali. Acabei esbarrando em algumas, sem querer, na tentativa de conseguir uma visão melhor do letreiro dos ônibus. Tentei averiguar se era de fato o que eu sempre pegava, mas estava tão difícil. Decidi acreditar que seria o correto. Eu nem pensei. Só queria me sentir segura, longe daquele cara de preto. Foi um empurra-empurra que quase fui esmagada pelos que estavam ali presentes. O típico dia do trabalhador brasileiro.

Não consegui um lugar para sentar, pois de tão lotado, a condução tinha todos os bancos ocupados. Tive que ficar na ponta dos pés por várias vezes para tentar me agarrar no canos de metal que auxiliava contra os movimentos da condução. Era super desconfortável sentir as pessoas rasparem seus corpos no meu, principalmente os homens. Em determinado momento acabei me pegando assustada: o ônibus mudou de direção. Não era aquela rua que ele sempre adentrava todos os dias. Constatei isso ao perguntar para uma moça que estava ao meu lado.

De imediato, solicitei a parada da condução. Assim que sai as pressas acabei caindo na rua, onde todo mundo passava. Algumas pessoas gentis me ajudaram a levantar. Quase tive um enfarte. Naquele momento preferia nem ter existido. Assim que agradeci a gentileza, adentrei as pressas pelo parque Ibirapuera. Olhei o relógio de pulso, constatando que estava completamente atrasada. Me bateu um grande desespero. Aqueles saltos não estavam ajudando em nada. James iria me matar!

Sentia meu corpo pesar, minhas pernas latejarem, meu coração acelerado...Pior foi sentir o suor começando a surgir. Como eu poderia ter me metido nessa? Estava tudo indo tão bem... Mas, como o que é ruim pode piorar, avistei alguém me seguindo. O mesmo homem de preto e com um boné escondendo o rosto. Agarrei minha bolsa instintivamente, apesar de desconfiar de quem se tratava. Ele tinha me encontrado de novo. Meu braço foi puxado, tentei gritar com o susto, mas fui silenciada com a mão daquele homem. Muitas coisas se passam na cabeça de quem esta em perigo, na minha só existia o grande vazio que eu deixaria na vida de meus pais. Aquilo me deixou desequilibrada. Tentei de diversas formas sair dos braços do meu agressor, mas foram falhas, até ele falar comigo.

— Julien, por favor, pare! — era a voz de Felipe.

Ao me virar, constatei que era ele de fato.

— De novo, Felipe! — berrei.

— Fale baixo. — exigiu ele, sento autoritário.

Eu não poderia arriscar minha vida tentando convencer um psicopata que ele não faria nada de ruim a mim. Eu teria que mudar de tática, sendo compreensiva. Nós estávamos afastados de aglomerações, eu não poderia arriscar. Não tinha como pedir ajudar. Felipe tinha me levado a um local adentro da mata que era o parque. Dava para ver camisinhas espalhadas entre as raízes das árvores. — aquilo me embrulhou o estômago.

Estranho Desejo (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora