04 - Julien

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Acordei animada nessa manhã. Estava pronta para encarar meu primeiro dia de trabalho. Felicidade me dominava. Só em recordar da cara de alívio que meus pais fizeram quando lhes contei sobre a contratação, meu coração enche de felicidade. Amo muito esses dois, e quero dar o melhor de mim para oferecer uma vida digna para quem dedicou boa parte da vida na intenção de me ver feliz.

— Graças a Deus, minha filha! — celebrou meu pai, levantando-se do sofá com dificuldade para me abraçar. Soube, naquela noite, que ele tinha se machucado no emprego, e estava afastado por uns dias. Um martelo atingiu seu pé. Entrei em pânico.

— Não se levante, seu velho desobediente. — protestou minha mãe, quando viu o esforço que ele fizera.

Fiquei tão preocupada quando soube, que fiz questão de coloca-lo de volta em seu lugar. Ele protestou, claro. Não seria meu pai se não protestasse sobre qualquer coisa que lhe tirasse o direito de escolher. Na juventude, meu velho liderava um grupo jovens contra as torturas da ditadura. Foi dessa forma que conheceu minha mãe, ao qual demorou para ter filhos por ser muito dedicada ao trabalho, e a movimentos de direitos humanos. Eu os admirava demais.

— Minha querida, estou orgulhosa de você. — disse minha mãe. — mas, sempre soube que conseguiria, e tenho certeza que irá encontrar algo a sua altura.

Eu sorri. Minha mãe sempre acreditou em mim, em meu potencial. Não importava o que eu escolhesse para fazer, ela sempre me apoiaria.

Naquela noite, liguei para meu irmão onde contei sobre a novidade. Ele ficou feliz. Consegui falar com meus sobrinhos ainda. Eu estava numa ótima vibe, mas apesar de toda aquela felicidade, não poderia deixar de pensar em James. Como eu lidaria com aquele homem me dando ordens, falando tão sedutoramente, cheirando tão bem... Isso me deixou excitada. Fazia tempo que não transava. Não por falta de homens, mas por receio e preocupação. Desde o termino com Felipe, tive uma aversão por homens. Já pensei em ir até um sexshop para comprar um daqueles vibradores e me divertir comigo, mesma... Talvez, James despertasse algo em mim.

Pare de pensar bobagens, e se levante para trabalhar!

Corri para o banho, depois me vesti de acordo como uma secretaria se vestiria: blazer escuro, junta de uma blusa social branca, e na dúvida, escolhi uma saia sem cobrir os joelhos. Usei brincos discretos, um colar que minha mãe me deu de uma flor dourada, e para finalizar sandálias prateadas de salto alto. Vi como aquelas garotas se vestiam, e não podia me deixar afetar pela elegância delas. Iria trabalhar arduamente para comprar minhas próprias roupas.

Assim que me vesti, sequei o cabelo e lhe fiz um coque, algo bem padrão nas funcionárias daquele lugar. Me maquiei suavemente, e por fim, usei meu perfume de rosas ao qual usava com frequência — estava quase no fim do frasco.

— Bom dia, minha querida. — disse minha mãe sorridente.

— Bom dia!

— Você esta lindíssima, minha filha. — elogiou meu pai.

Dei uma voltinha por graça.

Fui abraçada por ele carinhosamente.

— Emanuel, não amasse a menina! — protestou mamãe. — ela precisa chegar intacta ao trabalho. Causar boa impressão.

Nós rimos.

Após tomar café da manhã com minha família, peguei minha condução, que seria rotineira, e fui direto para a empresa. Depois de dois ônibus, e o metrô, consegui chegar amassada. O transporte público é um caos em horário de pico em plena São Paulo. Tive que ir ao banheiro para me recompor. Estava nervosa, não deveria, mas estava. Aqueles olhares, aquelas pessoas me encarando como se eu devesse surpreende-las, ou simplesmente vazar dali. Me senti inferior, por um momento, todavia minha mãe apareceu em minha mente: eu me orgulhava da família que pertencia. Me orgulhava de mim, mesma.

Estranho Desejo (DEGUSTAÇÃO) Onde histórias criam vida. Descubra agora