Capítulo 28

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22 de fevereiro de 2020.

Marina

- Então, quando eu estava entrando no táxi para vir pra cá, o sujeito entrou pela outra porta e se recusou a sair mesmo quando eu gritei com ele. Estava tão estressada por ele ter derramado aquele café em mim que nem me importei pelo escândalo que estava fazendo - diz Sabrina enquanto sirvo suco para ela e para Aimee, enquanto minha irmã nos conta como conheceu seu mais novo crush, na saída do aeroporto, quando ele acabou esbarrando nela e derramando todo o café do copo que segurava nas mãos em sua blusa. - Quando parei com o pití, ele me perguntou pra onde eu estava indo, e por coincidência ele mora aqui em Itoupava também. Dividimos o táxi e descobri que ele é dentista, solteiro, adora viajar e tem o próprio consultório no centro. Meninas, vocês tem que ver que sorriso ele tem. Trocamos nossos números e estamos conversando desde ontem pelo whatsapp. Isso depois de ele me pedir desculpas pela minha blusa manchada, claro - ela termina enquanto todas rimos.

Estamos reunidas na cozinha da minha casa colocando o assunto em dia, depois de tanto tempo sem nos falar de verdade. Assim que saí do hospital com minha família, comecei a entender porque Aimee estava tão distante desde a minha perda de memória, então liguei pra ela e pedi para nos encontrarmos no mesmo dia. Quando expliquei pra ela que me lembrava de tudo, ela soltou um "até que enfim " e me abraçou como há muito tempo não fazia. Ela nem precisava ter me explicado que não conseguiu ficar perto de mim tendo que mentir sobre algo tão importante, e que por isso acabou se afastando, mas mesmo assim ela fez. Fiquei tão feliz por ter finalmente minha amiga de volta, que resolvi fazer uma noite das meninas, aproveitando que Sabrina avisou que estava voltando de Londres. Só faltava Renata aqui para ter ao meu lado todas as minhas amigas, mas ela estava de plantão no hospital e não pôde vir. Me sinto leve e feliz em estar reestabelecendo a minha vida, e por ter de volta essas pessoas tão especiais.

A volta das minhas memórias me fez perceber também porque minha sogra estava brava comigo quando nos reencontramos após meu segundo "acidente", e por isso tive uma longa conversa com ela quando fiquei hospedada em sua casa na praia. Cassandra me perdoou por todo o sofrimento que eu causei a sua família, e quando saí do hospital segurando a mão de Murilo há quatro dias, com medo que ela me acusasse, ela me abraçou e disse que tudo vai ficar bem agora, e que ela está muito feliz por estarmos juntos novamente.

De volta ao presente, confiro como está o andamento da nossa janta, que consiste em um empadão de frango que está nesse momento no forno, e volto à conversa com as meninas.

- E então Marina, como estão as sessões com a psicóloga? - pergunta Sabrina.

- Estão indo muito bem. Tenho conseguido me abrir com ela sobre o Théo, sobre minhas preocupações com a depressão e com o alcoolismo, e sobre a minha vontade de voltar a trabalhar - digo enquanto penso mais uma vez no meu menino. Até agora, somente a doutora Carla sabe sobre meu último sonho com meu filho, e ao contrário do que pensei ela não me achou louca por tudo o que eu disse, e concordou que esse sonho foi uma forma de me despedir do meu filho e tirar de mim um pouco da culpa que sinto pela perda dele.

- Sobre o trabalho, Murilo me convidou para trabalhar com ele cuidando das importações, já que tenho experiência com relações internacionais e ele precisa de alguém para ajudá-lo a administrar a empresa - continuo. - Fiquei apreensiva de início, porque cogitei que ele só está fazendo isso pra poder ficar de olho em mim, mas quando fui até a empresa há três dias e vi como ele está cheio de coisas pra fazer, acabei aceitando trabalhar lá. Vamos fazer uma experiência pra ver se dá certo, mas até agora estou adorando voltar ao mundo dos negócios.

- Que bom Marina, fico feliz que você esteja mais uma vez trabalhando com o que gosta - responde Aimee. - E sobre a parte do alcoolismo, o que ela disse sobre você não estar sentindo vontade de beber? - questiona ela.

- Bom, ela disse que a princípio como perdi a memória e não me lembrava da dor da perda, meu organismo talvez não tenha sentido a necessidade de apaziguar a dor como eu fazia quando bebia. Agora, que estou recuperada, acabei entendendo melhor que estava apenas me enganando quando achei que a bebida podia me fazer esquecer de tudo. Mas não posso me descuidar, então... - faço um brinde com o copo de suco na mão, e elas me acompanham rindo.

Após a janta, que estava uma delícia modéstia a parte, ficamos mais algum tempo falando sobre amenidades sentadas na sala, até que decido me atualizar sobre a vida da minha melhor amiga:

- Mas e você dona Aimee? Nenhum romance arrebatador na sua vida? - questiono.

- Que nada, acho que sou uma frigideira, já que nunca consegui achar a tampa da minha panela - diz ela rindo. - Ou então o cara que era pra ser meu acabou se amarrando com alguma outra por aí - completou.

- Acho que você deveria dar uma viajada Aimee - diz minha irmã. - Parar um pouco de trabalhar e conhecer novos lugares e novas pessoas. Vai que a sua outra metade está em algum lugar distante, tipo o Japão. Você tem que ir procurar por ele.

- Até que não seria uma má ideia Sabrina, mas neste momento tenho outros planos em mente, que pretendo colocar em prática o mais rápido possível - diz ela misteriosa. Quando vê nossas caras de curiosidade, ela completa:

- Decidi que vou ser mãe solteira, vou fazer inseminação artificial.

- Nossa amiga, eu nem sabia que você queria ser mãe! - digo ainda surpresa, trocando olhares com Sabrina, tão pasma quanto eu. - Mas admiro sua coragem em realizar algo assim. Se é o que você quer, pode contar com o meu total apoio - finalizo enquanto a abraço.

Continuamos conversando até tarde sobre os planos de Aimee e sobre o ficante de Sabrina, e então escuto a porta da frente sendo aberta, e Maya e Murilo aparecem na cozinha, com sorrisos misteriosos.

- Posso saber onde os dois bonitões estavam até uma hora dessas? - questiono.

- Estávamos na casa dos meus pais aqui na cidade, como eu te disse amor - responde Murilo evitando contato visual. - Acabei ficando tempo demais conversando com meu pai sobre a empresa, e perdi a hora, me desculpa - ele completa agora me dando um beijo e um sorriso apaziguador.

- Bom, é a nossa deixa - diz minha irmã, enquanto ela e Aimee levantam e pegam suas bolsas penduradas próximas a porta. - Muito obrigada pela janta e pelo papo mana, estava tudo muito bom.

- Eu que agradeço por me fazerem companhia meninas - digo as cumprimentando em despedida.

- Nos vemos em breve! - diz Aimee, lançando uma risadinha cúmplice para sua afilhada, e eu fiquei sem entender.

- Bom, vamos subir então? - sugere Murilo, enquanto Maya já nos manda um boa noite das escadas e vai para seu quarto.

Subimos apagando as luzes, e quando estamos no corredor que leva aos quartos, toco pela primeira vez desde que voltei para casa há quatro dias no nome do meu filho, dizendo para Murilo:

- Sabe amor, agora que recuperei a memória, podemos espalhar novamente pela casa as fotos que incluem Théo, né? Lembro que havia um quadro grande de nós quatro aqui no corredor. - quando termino sinto meu marido me analisando enquanto continuamos nosso trajeto para o quarto. Ele fica calado enquanto nos preparamos para dormir, e só quando já estamos aconchegados em nossa cama, ele responde:

- Claro Mari, podemos sim. Sinto falta de olhar para aquele quadro todos os dias, me traz lembranças muitos boas.

- Então está decidido, amanhã mesmo vamos fazer isso - digo.

- Na verdade, não serei se teremos muito tempo amanhã. Planejei um dia bem cheio para nós.

- Cheio como? Quais são os planos? - indago surpresa.

- Espere e verás, minha amada esposa - diz ele, calando minhas questões com um beijo arrebatador, que me fez esquecer da ansiedade por hora.

Nada é como antesOnde histórias criam vida. Descubra agora