Fome e pobreza

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— Aqui diz que a água precisa estar morna.

Lê o manual de como dar banho em um bebê, na internet. Eu não tinha uma banheira então improvisei uma panela grande que dava na mesma. Quem precisa de banheiras quando se tem panelas?

A água já havia esquentado e agora eu colocava algumas pedras de gelo dentro para dar um ar natural. A cria do Naruto estava no luxo, eu nunca fui privilegiado de ganhar um banho especial assim.

Boruto observava seu banho com uma cara desanimada. O moleque puxou a porquice do pai que só tomava banho nos sábados, mas se ele achava que eu iria dormir com um filhote de porco estava muito enganado.

— Está esperando o que filhote de porco? Entra aí.

O bebê soltou um resmungo cruzando os braços gordos e não moveu um músculo do lugar. Não tem nem tamanho de gente e já quer dar uma de rebelde. Na minha época as crianças eram mais educadas, isso é porque os pais de hoje em dia não colocam moral nos pivetes.

— Que foi? Quer seu pato de borracha?

Peguei o pato amarelo colocando dentro da panela, e nem isso pareceu chamar a atenção do moleque.

— Não testa minha paciência pedaço de gente, entra na panela agora. — briguei levando as mãos a cintura e o moleque me olhou com cara de deboche. — Vou fazer enlatado de loirinho burro.

Boruto deu de ombros debochando de mim e me deu as costas, começando a engatinhar peladão pela casa, fugindo do banho na maior lerdeza.

Nem tem medo de morrer essa praga.

— Volta aqui filhote de porco.

Puxei aquele pivete pelas pernas e ele gritou começando a chorar, tentando me morder com seu dente feio, parece que alguém aqui é irmão da Mônica.

— Quer bancar o esperto pra cima de mim? logo eu domador de bebês encapetados e dono da porra toda.

Joguei aquele moleque dentro da panela de água com ele ainda mordendo minha mão, tentando escapar do banhor, pior que o gato da velha do 71.

— Dê o seu melhor bebezao, vai precisar de muito mais dentes pra fazer um estrago em mim. — revirei os olhos pela sua tentativa inútil de fugir.

— Papai. — gritou em meio ao choro tentando me manipular com aquele bico feio.

Tal pai, tal filho.

— Nem adianta me chamar de pai e tira esse bico feio da cara que não me comove.

Boruto continuou a fazer birra jogando água na minha cara e nós molhamos toda cozinha, mas eu consegui dar banho na peste, ele ficou com um pouco de sabonete na bunda e eu quase o ceguei com o shampoo, mas deu tudo certo no final.

Eu estava me tornando um pai profissional. E quando os pais desse moleque aparecer vão ter que me pagar pelos meus serviços ou a coisa vai ficar feia.

— Que troço mais complicado de vestir. — virei uma frauda de todos os lados possíveis tentando acertar um que ficasse certo no moleque.

Consegui encaixar entre suas pernas e usei as fitas adesivas para dar nós dos lados, e acho que acertei porque a porcaria ficou presa.

— Acho que tá bom. — balancei o menino até de cabeça para baixo e a frauda ficou firme, merda nenhuma vai escorrer dali.

Boruto começou a chupar o dedo e a babar e eu penteei seu cabelo fazendo um topete maneiro.

— Até que você tem estilo projeto de vagabundo, bora tirar uma foto pro Instagram e promover meus serviços.

Peguei meu celular e me abaixei ao lado dele fazendo uma selfie, sai bonitão pra salvar a foto porque a cria do Naruto era só decepção. Esse daqui quando nasceu o médico desmaiou não aguentando ver tanta feiura.

Pai por enganoOnde histórias criam vida. Descubra agora