Pequenas coisas

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Faço minhas malas me sentindo a pessoa mais horrível e covarde de toda aquela cidade maldita.

Minha mãe está parada no batente da porta chorando e tentando me convencer de não ir em bora,mas não tem nada que as palavras carinhosas dela possam concertar.

Meu pai entra no quarto apenas para avisar:

-Já está pronto?-Vamos sair da qui cinco minutos.

Não estou nem um pouco pronto,mas dou um abraço apertado em minha mãe antes de sair porta a fora e entrar no carro.

Ouço sirenes ao longe cada vez mais se aproximando,observo um carro da polícia passar a toda velocidade em frente a minha casa,em seguida uma ambulância,olho preocupado ao meu pai.

Era uma cena meio atípica em Wallows White,mas não trocamos nenhuma frase sobre.

Então me despeço mentalmente de todas as ruas em quanto percebo que estamos passando perto do apartamento de Taeyong.

O que me assusta é o fato de que a ambulância estava em frente ao seu prédio,e consigo ver Mark sentado na calçada coberto de sangue em quanto um corpo em saco preto é retirado do apartamento em uma maca.
"Isso não pode estar acontecendo"
Não.

-Pai,para o carro-Digo desesperado.

-Você vai perder o vôo...

-PARA A PORRA DO CARRO-Digo já abrindo a porta mesmo com ele em movimento,meu pai freia bruscamente então eu corro em direção a Mark.

Acordo desesperado sentindo as lágrimas quentes.

-Pesadelo?-Ouço Ten me perguntar,olho em volta e percebo que dormi no gramado atrás da escola,a cabeça em seu colo.

-C-como...-Fico confuso.

-Acho que te esgotei de mais,desculpe por isso-Ah é, após as aulas ele precisou de mais energia,viemos para o jardim e apaguei.

-Tudo bem-Digo coçando o olho e me levantando.

-Precisamos conversar a respeito do plano.

-Que plano?-Ainda me sinto muito cansado.

-Preciso de um lugar pra ficar-Ten disse me olhando estranho,como se fosse possível vir morar comigo...ah não.

-E?

-Tem um quarto a mais na sua casa?

Merda.

-Cara,o que vou falar pra minha mãe?"oi,eu trouxe um desconhecido para morar aqui ok?"

-É, basicamente.

Me deito na grama verde e macia de novo e olho a hora,percebo que ainda falta dois tempos,estamos matando aula.

-Okay-,vou pensar em algo-Digo quase voltando a pegar no sono.

-Beleza,vou te comprar algo pra comer... está mais pálido que eu.

-Como se fosse possível-Digo rabugento,sinto o calor aconchegante do sol acariciar minha pele.

"É quase impossível de acreditar que estou aqui de novo" penso me sentindo aliviado.

Sinto alguém sentar ao meu lado,suponho que seja Ten,mas então sinto seu cheiro:protetor solar, baunilha e menta.

-Taeyong?-Digo ainda de olhos fechados me sentindo exausto.

-Eai,cara-Abro um dos olhos e vejo o garoto mascando chiclete em quanto aproveita o sol morno ao meu lado-Não sabia que matava aula aqui também.

-Geralmente não mato.

-Qual a ocasião especial?-Pergunta se deitando ao meu lado,uau, minhas memórias com ele eram vividas mas pessoalmente,bem na minha frente ele parecia ainda mais deslumbrante.

-Me sinto horrível,parece que fui atropelado por um trem.

Ele sorri compreensivo.

-Isso deve ajudar-Tira um comprimido do bolso,ele sempre tinha algum pra alguma coisa-Só porque entendo como ressaca de MD pode ser horrível e...pelo que disse na sala hoje.

-O que?-Fico confuso,pego a pequena pílula e examino por um instante antes de a engolir.

-Sabe,sobre sermos todos viados-Ele se vira apoiando a cabeça em seu próprio braço.

-É uma verdade absoluta-Digo sorrindo em quanto sinto o meu corpo ficar mais leve-Que isso que você me deu?

Taeyong pisca travesso.

-Não sei bem,peguei no armário de provas do serviço do meu pai. Esse troço é bom pra caralho.

-Ele não é o delegado?

-Uhum-Confirma em quanto tira um saco de gummy bears do bolso e começa a comer.

-Ah merda, Taeyong...

Ele me encara, tão perto,tão vivo.Não sei se é o comprimido fazendo efeito,mas me sinto eufórico.

-Estou tão feliz...-Digo sem pensar em quanto observo as nuvens no céu tão azul quanto o cabelo do garoto ao meu lado.

Tudo parece mais bonito e mais lento.

-Eu também-Ele diz observando o céu junto comigo.

-Porque?-Pergunto com a voz arrastada em quanto me sinto entorpecido.

-Finalmente descobri que tem alguém nessa cidade de merda que não é tão idiota.

-Quem?

-Você, Jaehyun-Ele coloca uma bala de ursinho em meus lábios,abro a boca e a mastigo sentindo o gosto de morango.

-Ah eu sou bem idiota, só que de uma maneira diferente.

-Mark me contou que chamou ele pra surfar na sexta a tarde.

-Você vem?-Pergunto em quanto pego mais algumas balas.

-Claro,vou chamar Johnny e Yuta.

"Seu cabelo é tão bagunçado" penso sozinho em quanto tiro algumas folhinhas que caíram, não deixo de notar o quanto é macio, senti falta de poder toca-lo.

-O que está fazendo?-Pergunta em quanto me observa o afagar preguiçosamente.

Apenas suspiro recuando.

-Você me drogou,agora assuma as consequências e deixa eu ser esquisito, Taeyong-Digo grogue.

Ele apenas dá um risinho antes de pegar minha mão e levar de volta até seu cabelo.Sorrio satisfeito em quanto o acaricio me sentindo em paz,me aproximo mais e cheiro seu cabelo,tem cheiro de algo tão familiar e reconfortante,me acalma.

-Você é esquisito pra caralho-Ele diz segurando o riso em quanto tenho o rosto enterrado em suas madeixas.

-Não sou eu que escondo uma foto sua na minha escrivaninha-Digo o encarando debochado.

Observo ele ficar cada vez mais vermelho.

-Eu vou matar o Mark!

-Então é verdade?-Pergunto perto de seu rosto perfeito.

-Olha não me leve a mal,mas nessa escola você é o único cara que não é feio ou babaca. E é só um crush bobo,acho que nunca poderia me apaixonar por alguém como você.

"Mas foi assim da última vez.." penso em silêncio em quanto as memórias de nós dois passavam por minha cabeça,memórias que só eu tinha.

Queria lhe olhar nos olhos e falar que o conheço melhor que ninguém,que sei seus medos,seus sonhos e seus segredos mais profundos. Mas não poderia,e parte de mim desejava redescobrir todas essas pequenas coisas aos poucos,uma por uma,até ele ter conhecido todos os meus lados também.

Mesmo que eu não mereça desde a primeira vez,eu só quero que ele seja meu.

Quero que ele viva tanto quanto já vivi e infinitas vezes mais.

-Eu poderia-Digo o encarando a milímetros do meu rosto-Eu com certeza poderia me apaixonar por você.

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