Cheguei na sala da diretoria e soube o que havia acontecido. A marca de minha própria mão me delatara e meus pais foram chamados na escola. O silêncio e o muro entre mim e Miriam eram tão nítidos que não sei como que as pessoas que passavam por nós não acabavam dando de cara com a parede de concreto que se ergueu ali naquele corredor minúsculo. Eu não fiquei de cabeça baixa e olhando pros meus próprios pés como Miriam, ela tinha motivos pra estar olhando pro chão. Eu estava muito sem graça por ter cido pega e chamarem meus pais a escola e mais ainda por ter que dar a explicação aos coordenadores e aos meus pais, mas pelo menos eu não era a cobra naquela sala. Continuava de cabeça erguida e cara fechada encarando a parede azul escura do outro lado do corredor. Talvez eu parecesse de pedra ali, intacta, mas por dentro eu estava esvaindo, a cena que eu peguei na área interditada da escola se repetia na minha cabeça, uma vez mais eu quis fazer pior, queria cuspir cara dela, afundar seus olhos em seu crânio. Mas você deve estar se perguntando e Isac, você na faria nada a mais com ele ? Eu bem que gostaria de falar umas poucas e boas a aquele imbecil, mas ele não era meu amigo de longa data, não foi ele que viu um garoto na festa e agitou meus sentimentos a outro menino, não era ele que devia estar lá quando eu mais precisava. Miriam sabia muito bem que meus sentimentos por Isac não haviam passado e eu teria investido mais, devagar, mas teria.
Quando meus pais chegaram notei o semblante chateado dos dois, esperando que isso não agravasse a cituação em casa, agora que as coisas começavam a voltar ao normal...bom normal mesmo nunca mais seria pois os dois ainda mantinham a ideia de se separar, normal como antes que eu achava que era nunca mais séria. Na sala do diretor expliquei o por que dei um tapa na cara de Miriam e tanto eu quanto ela tivemos que ouvir uma palestra de "como é uma besteira brigar por causa de namoradinho", eu duvido que se fosse o Sr. Valdir vendo a namorada se atracando com o amigo ele também não iria partir pra porrada. No caminho de casa dentro do carro o silêncio era sepulcral. Até meu pai falar
— Por que não me falou que estava tendo um paquerinha na escola gatinha
A pergunta me pegou desprevenida mas estava disposta a responder se não fosse minha mãe interromper
— Mas que pergunta, mas claro que ela falaria comigo sobre isso não é Gez ?
— Mas eu nem tenho o que contar gente.
Novamente fez se um silêncio ameno no carro.
— Vamos de musiquinha ? Pra levantar o astral — meu pai falou ligando o rádio e cantarolando com uma musica animada que tocava na rádio.
Meu pai, sempre tentando dar uma levantada no astral, como minha mãe pode pensar em não ficar mais com ele ?O restante dos dias passaram de forma tão lenta que parecia que o relógio estava lutando contra mim, todo o desconforto que passei naqueles dias em casa foi dobrado na escola. Era um saco não ter ninguém pra conversar, ninguém pra tirar dúvidas e se meu olhar e o de Mirian se cruzava em algum momento na sala de aula tudo piorava, sentia que ela queria falar algo mas não conseguia. Era melhor assim do que se saísse qualquer desculpa lambida.
Esse era o saco de se ater apenas com uma amiga, quando você tem tantos colegas, nunca fui boa de fazer amizades e depois dessa cituação duvido que alguém queira se amigar comigo, vomitei em cima de um menino quando devia beija- lo, bati na minha melhor amiga e ninguém sabia o reeal motivo, já que ninguém além de dela sabia da minha queda por Isac, e eu sou covarde de mais pra deixar os outros saberem disso. A sala toda sabia do que ocorrerá e era só ter alguma brecha que alguém enfiava um comentário sem noção sobre não podermos ficar juntas se não ia dar briga, muito incoveniente pensar que alunos do primeiro ano iriam ser tão idiotas quando se tratava de assuntos delicados. Sai do grupo do grêmio estudantil, não queria nunca mais cruzar com ninguém de lá. Imagine o trauma que instalei no pobre Pietro (era esses o nome dele ?) Depois de ter lavado ele com pão, geleia e água estomacal.
Miriam se deu bem pois arranjou amigas novas. Eu fingia que nada daquilo me atingia, mas era fachada. As minhas notas começaram a cair, tantos trabalhos da escola caindo sobre mim, provas e apresentações em grupo (da qual eu tinha que dividir espaço com quem nem conhecia) aquilo estava me desgastando. Pra piorar os professores presionavam os alunos por conta do maldito Enem, ainda faltava dois anos para se preocuparmos com isso, mas como a professora de Português disse em outra aula quando interrompida por um aluno que questionou sobre o Enem ainda estar longe "Dois anos passam mais rápido que um foguete".
Ela tinha razão, desde que fiz 13 anos parece que a terra gira com mais presa, em dois anos eu faria 17 anos, e em dois anos eu tinha que decorar de tudo aquilo e mais um pouco.
Meus pais notaram o quanto eu estava desgastada, eu mesma teria notado. Eu estava desgastada, me olhava no espelho e só conseguia enchergar minhas enormes olheiras sob meus olhos, emagreci e estava ficando cada vez mais branca que o normal. Fui ao médico em fim pois já estavam se preocupando, eu esperava que eles não achassem que fosse algum distúrbio alimentar ou qualquer coisa assim, eu comia normalmente, mas parece que nem se eu comece um hipopótamo iria fazer diferença em meu peso. É aí meus amigos que fui apresentada a ansiedade e a tratamentos com remédios e claro uma vitamina que melhorasse meu problema em distribuir peso pelo corpo .
Depois de muito analisar acabei chegando a conclusão que me deixaria mais confortável e que tirasse parte desse peso das minhas costas. Eu iria desistir da escola. Fecharia minha matrícula e iria para um supletivo, já tinha até uma escola em vista. Só faltava falar com meus pais e estaria tudo feito, teria tempo de estudar no meu tempo, me livraria da pressão escolar e estudaria quando estivesse pronta para o tão temido Enem. Eu só prescisaria me despedir de uma pessoa na escola. A única que no momento iria fazer alguma falta Zeélia. Quando cheguei pra contar isso era meu último dia já, sabia que ela iria argumentar contra por isso aproveitei a deichar pra que ninguem me tirasse essa ideia da cabeça.
Tia Zeélia bebericava uma latinha de Soda e me sentei em sua cadeira
— Tia eu vim me despedir
— Oxee se despedir de que menina
— Estou indo pra outra escola – peguei inventando isso por que...eu não sei muito bem, mas deu vergonha dizer que estava parando os estudos, não imaginava que iria me sentir assim. Na verdade seria só uma mudança de rotina, mas não deichava de sentir um pesar de fracasso pela minha partida adiantada do ano letivo
— Nossa que pena, eu não vou te ver mais por aqui então
— Não, não vai — falei, agora encarando o corredor , já havia tido lembranças boas nesse lugar e agora estava me despedindo dele
— Hummm e pra qual escola você vai hein — ela escorou na mesa e pós a mão na cintura e me olhou nos olhos.
Parecia até que ela sabia que eu estava escondendo algo
— Ainda não sei — disse me sentindo uma tremenda cara de pau
Ela negava com a cabeça e estalava a língua em som de negação
— Minha linda eu já vi esse olhar antes muitas vezes. Estou nesse ramo faz anos e já vi muito aluno tomando essa decisão, você só tem que ter certeza de que está fazendo a coisa certa...? — ela parou de falar e me encarou esperando uma resposta
— No momento é tudo que quero, um tempo pra desacelerar
Ela afirmou com a cabeça e tomou mais um gole de sua soda
— Então tá, vou sentir sua falta Gezebell
Demos um abraço apertado e desci as escadas
É era isso, tudo ou nada, futuramente eu seria outra pessoa, assim eu esperava💜 ****** 💜 ****** 💜 ****** 💜
Seis anos mais tardeE aqui estamos no ponto onde paramos. Estou do lado de fora recebendo toda aquela chuva gostosa e me sentindo...muito bem comigo mesma parte dizer verdade, não tenho presa de correr da chuva aqui, aproveito ela enquanto pedalo de volta pra casa. Finalmente consigo me compreender depois de tantos episódios drásticos. Eu aceito a chuva se tenho uma afeição com ela, então por que não me molhar agora ? Confesso que nunca me senti satisfeita comigo mesma como agora. E agora também tomo outra decisão, vou continuar indo nessas reuniões, por que acho que será bom pra mim. De paraquedas cai nesse grupo cinza me enquadrando em algo que quero fazer parte e não vou arregar agora, muto menos pela presença de Peter, o garoto que á seis anos eu lavara de vômito por pura pressão de nossos colegas, muito pelo contrário, ele passou o mesmo que eu naquele dia. Dou risada comigo mesma, que mundo pequeno não ?
Pedalo um pouco mais rápido pra minha casa antes que a chuva engrosse mais, mas é tarde e chego ensopada. Luto com minha bicicleta pra passar com ela pelo hall de entrada do apartamento minúsculo da minha Casa Um (casa de meu pai)
— Paaaaaai cheguei — grito para anunciar minha entrada, entrada comica pois mesmo depois de bater os pés no carpete acabo escorregando no piso de madeira lustroso e caindo de costas com um baque
Ai
Acabo soltando um gênio de dor e coloco a mão na cabeça
Ouço o som característico de dinossauro saindo do meu celular e sei que é uma notificação. Felizmente o aparelho não está molhado graças a minha jaqueta de couro sintético. Desbloqueio a tela com um toque agora sentadinha no chão e vejo a notificação de meu pai dizendo
"Vou chegar tarde hoje gatinha, compre uma pizza, o dinheiro está no balcão da cozinha"
Parece vou comer sozinha hoje. Volto a me jogar no chão, dois segundos depois sinto as lambidas na minha cara, Gatola. É afinal de contas não estou tão sozinha, tenho um gato lambendo minha cara e estou ainda com um sorissos de epifania no meu rosto que me faz querer comer quantas pizzas meu estômago aguentar💜 🖤 💜 🖤 💜 🖤 💜 🖤 💜 🖤
Bom meus amores é isso, partir de agora a história conta nos tempos atuais e vamos saber sobre os seus anos seus pulados por alguns flashbacks, onde vão contar as experiência da Gez. Fiz dessa forma pra história andar por que se não a história não iria pra frente e eu queria ver logo o clube dos Gray que espero colocar no próximo capitulo, é isso até a próxima comam bolo 🍰
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Clube Dos Gray
RomansaUma menina que nunca entendeu o conceito de "ficada", acaba se encontrando em um pequeno clube da cidade. Lá ela se encontra e descobre o que não está sozinha quando se é demisexual