Era Manhã

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Mamãe está na cama, o telhado parece estar recebendo a maior sinfonia do ano, a chuva caindo no telhado parece aconchegar o nosso coração e refrescar a nossa manhã.

Todos acordam. Fazemos sempre as mesmas coisas, acordamos às 6:00, nos reunimos a mesa e tomamos café pontualmente às 7:00 da manhã.

[...]Mamãe como sempre muito perfumada e com seu vestido cinza, solto como seus cabelos encaracolados ao vento. Tudo combina com ela.

Não existe nada mais lindo que o sorriso da minha mãe, é como manhã de primavera, tudo sempre floresce quando ela está por perto.
Ela torna tudo mais fácil e simples, um simples corte no dedo torna-se pequeno diante do seu amor. Meu irmão sempre foi um tanto calado, mas sempre muito amoroso.

Ahh...O colorido da mesa, quanta coisa deliciosa. Tudo feito com muito capricho. Parecia um desfile de moda. Quitandas de todas as texturas e formas.

O café escorria pelo coador até o bule, numa dança deliciosa e o barulho? Ah...esse sem detalhes.

Tentei levantar da mesa, mas o doce sentimento de que deveria permanecer inerte por mais alguns segundos me paralisava. O aroma inconfundível de café, permeia não só o ambiente, mas todos os meus pensamentos.

Parei e observei o quanto precisei perder para entender que aquelas pessoas que me cercavam, eram simplesmente meu alicerce e naquela mesa, estavam todas as pessoas que eu amava mais do que tudo o que já podia ter conquistado na vida.

Um momento de reflexão se fez presente, era como um filme, repetindo a cada cena diante dos meus olhos, percebi o quanto sou agraciada por tê-los do meu lado.

Sinto a brisa que entrara por uma fresta pequena na janela, transpassou os cabelos de minha mãe, logo sentia o perfume de camomila, afinal seus cabelos loiros mereciam todo o cuidado necessário, não eram dourados de nascença, mas mamãe optara por ser loira para fugir dos adornos que a idade poderia lhe trazer. Cabelos Brancos.

A sinfonia no telhado parece cessar.

Levantei.

Dei alguns passos em direção a porta, mas algo me prendia àquele momento.

Seria todas as quitandas postas à mesa? Mamãe sabia que a minha maior paixão no café da manhã, são quitandas doces. O cheiro do bolo de fubá inundava todos os meus sentidos.

Avistei pela janela, tímidas plantas, pareciam se esconder do sol que acabara de dar as caras e dos pássaros apaixonados que passavam pelo jardim e aproveitavam para cantar a beleza das cores de cada flor.

Seria um erro não admirar. Ultrapasso a porta, me sinto em uma viagem. Como em As Crônicas de Nárnia.

Percebo atravessar um portal secreto em cada passo que dou, uma surpresa.
Maravilhada pela beleza das cores. Quando redescobrimos nossa admiração por quem amamos, tudo a nossa volta se torna um pouco mais colorido e notamos a criatividade do Criador.
Destravamos.
Continuo. A cada passo uma nova descoberta.

- Como não percebi isso antes? – Gritei em pensamento.

As tonalidades de verde penetravam os meus olhos como lanças. As folhas gotejam. Os pássaros voltaram a cantar. A chuva realmente tinha passado.

Hipnotizada estava.

Segurava rente ao corpo partes do meu vestido. Em meus olhos o espetáculo de cores continuava. Após a sinfonia da chuva, as flores também estavam alegres. Afinal, quem não gosta de música?

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