Quadrilha- História inspirada na poesia de Carlos Drummond de Andrade

Chapter 4- Rogério e seus cornos

"Tu tá traindo a gente?"

A pergunta feita pelos dois coreanos soava como um misto perfeito de revolta e incredulidade. De início, Chenle não fazia ideia sobre o que estavam falando mas bastaram alguns segundos sendo fuzilado pelos melhores amigos para compreender: Só poderia haver uma motivação forte o bastante para que aqueles dois estivessem ali, juntos e agindo como um time.

- Olhe, eu juro que posso explicar! - O Zhong exclama em desespero porque realmente amava seu pescocinho e não gostaria de vê-lo separado do seu corpo.

- Eita, de manhã ele era hétero, à tarde já tem dois namorados e ainda trai… - Qian Kun aparece na sala com um pote de pipoca e um copinho pra aparar seu veneno.

Por um momento de esperança, o outro chinês achou que a brincadeira de seu tio havia sido ridícula o bastante para que Jisung ou Donghyuck esquecessem um pouco de sua raiva e rissem com ele, mas em vez disso, os dois apenas mantiveram a expressão impassível. Aparentemente, apesar de ser um péssimo tio, o advogado chinês ainda tinha um pouco de senso comum e já estava pronto para se retirar dali, quando foi respondido.

- Não duvido mais de nada, seu sobrinho anda com muitos segredos. - O Lee declara com toda a sua calma forçada e Kun simplesmente dá de ombros e entrega Chenle aos lobos.

- Quer dizer que não é o Hyunjin e sim a Yeji? - Jisung questiona perplexo e os outros dois presentes o encaram confusos. - Qual é, Chenle, não sabia que você era desses que trocam amizades por crushes!

Uma gargalhada teria escapado do chinês caso este realmente não tivesse amor a vida, entretanto como tinha muito medo de morrer, apenas suspirou aliviado ao se ver livre do olhar julgador de Haechan por alguns instantes, enquanto este era finalmente direcionado a Jisung. Lá no fundo, o Zhong sabia que a culpa do Park acreditar que ele estava envolvido com um dos gêmeos era sua, porque desde que percebeu que assuntos relacionados a sentimentos deixavam o amigo incomodado, Chenle não havia tentado conversar sobre isso.

- Jisung, lembra o que planejamos? Eu falo, você só faz cara de cachorro que caiu da mudança. - O coreano de pele bronzeada soava mais como um chefe de departamento do que como um adolescente. - Atenha-se ao plano. Já você, Zhong, sente-se e responda às nossas perguntas.

O sexto sentido do menor ali o dizia para sair correndo e se voluntariar para testes científicos, ou fugir para a Jamaica e mudar seu nome para Steve, mas ainda assim, engoliu em seco, juntou as migalhas que restavam de sua coragem e sentou-se na cadeira à frente deles. O ruim de ser um péssimo mentiroso era que isso significava que tampouco era bom com segredos, e o plano só funcionaria se os envolvidos não estivessem preparados para ele, então tudo o que poderia fazer seria evitar ser direto e apelar pra consciência emocional dos melhores amigos.

- Como e quando você os conheceu? - Donghyuck nem se dá ao trabalho de contextualizar suas dúvidas e curiosidades, sendo tão direto quanto um golpe na jugular.

- No dia do escândalo do Yukhei, encontrei com o Hyunjin na biblioteca e simplesmente nos demos bem, a Yeji aparentemente me adotou. - Conta de forma simples, evitando se aprofundar.

- Quem é Yukhei? - O Park tenta perguntar mas um olhar assustador do Lee é suficiente para fazê-lo se encolher.

- Onde você esteve hoje no primeiro intervalo? - O tom pragmático predominava nas questões do mais velho.

- Com os dois, estávamos planejando uma coisa. - Responde novamente, tomando o cuidado de ser vago em suas afirmações.

- Que coisa? - Haechan era claramente o policial mau, enquanto Jisung estava fazendo o papel do policial meio lerdo e mordia uma rosquinha.