Chapter 2- E se dermos um empurrãozinho?

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Em um condomínio elegante no meio de Seul havia uma casa de dois andares pintada de amarelo e branco. Para qualquer um que observasse, esta não se diferenciava das demais daquela rua em nada além das tulipas multicoloridas que enchiam o jardim e do banquinho sob a sombra da velha árvore de Gingko. O céu noturno tornava aquela paisagem ainda mais aconchegante, perdendo apenas para a cena que se desenrolava dentro daquela construção.

Qian Kun era um homem atraente de trinta e poucos anos, advogado de divórcios que nunca foi casado e não tinha muita fé no amor. Kun nasceu na China, o caçula de uma família grande e tradicional de Xangai, mas mudou-se para a Coréia cerca de dez anos antes, quando se formou em direito. O homem costumava morar sozinho com Bichano, seu gato, até que o filho da mais velha de suas irmãs, Sicheng, mudou-se para sua casa por achar a faculdade de dança de Seul melhor que a de Xangai.

Foi uma questão de dias até que seus dois pentelhos favoritos também quisessem ir à Coréia do Sul, e então houve a mudança completa: o advogado que costumava viver com um gato, teve de se acostumar a cuidar de dois adolescentes e um metido a adulto. No início, a convivência foi engraçada por conta das diferentes idades e personalidades. O Chenle de 13 anos era um pestinha fofo que brigava para assistir filmes de terror mas o Renjun, de 15, só queria ver desenhos, já o Sicheng tinha 18 e queria silêncio, enquanto o tio estava ansioso para o novo capítulo de sua novela.

Três anos se passaram e eles chegaram a um acordo agradável para todos: cada um ganhou a própria televisão mas não poderiam ultrapassar determinado volume. Ainda assim, agora discutiam sobre que filme iriam assistir naquela noite, porque esse era o modo como as coisas aconteciam naquela família: Brigavam o tempo todo, zoavam um com o outro frequentemente mas sempre estavam juntos.

- EU JÁ DISSE QUE NÃO VOU ASSISTIR A ESTA FREIRA DO SATANÁS!- Renjun berrava enquanto tinha os fios loiros acariciados por Sicheng.

- Então fecha o olho porque hoje é o meu dia de escolher.- Chenle rebate, arrancando uma gargalhada de Kun.

- Eu sou mais velho, me obedeça, plebeu!- O menor da casa argumenta sem contar com a arma secreta do caçula.

- Realmente, eu deveria te obedecer e seguir seu exemplo, hyung.- Chenle concorda rápido demais, fazendo com que uma expressão convencida surja no rosto do Huang e que os outros dois na sala o encarem desconfiado.

- Ih... Ele tá te chantageando, Lele?- Sicheng indaga de cara, arrancando uma gargalhada maléfica daquele com quem falava.

- Não, eu só realmente acho que deveria seguir o exemplo do Junnie, afinal, que mal tem de cabular aulas de vez em quando?- Depois dessa, ele até procurou um lencinho pra enxugar o veneno.

O rosto de Renjun ficou mais branco que papel enquanto Kun o lançava um olhar fulminante, os outros dois correram pra longe da sala com medo que sobrasse pra eles. Chenle jogou-se em sua cama satisfeito: Não veriam seu filme favorito, mas definitivamente fora uma pequena vitória, já que agora ele poderia rir da enrascada em que metera Renjun. Estava quase esquecendo da confusão de mais cedo quando um som familiar em sua janela o fez bufar irritado.

" O que você quer?"

A escrita saiu desleixada mas ainda assim legível, para combinar com o seu humor subitamente amargo enquanto encarava Yukhei a cerca de três metros de distância, o caderno de desenho em mãos. Era assim desde que o mais novo se mudou: Como as casas eram vizinhas, os quartos deles ficavam exatamente um de frente pro outro, então passaram a se comunicar através das janelas. Lucas geralmente o chamava com uma lanterna mas como Chenle demorou a responder, ele passou a atirar pedrinhas.

O mais velho apontou para o próprio celular algumas vezes até que o outro finalmente cedesse e fosse em busca do seu aparelho. Não queria saber o que tinha ali, não queria desculpar Lucas por tê-lo feito passar vergonha no primeiro dia do Ensino médio e acima de tudo, não queria pensar em como o outro o havia descrito. Ainda assim, foi impossível conter a parte neurótica de si mesmo que se perguntava se Lucas realmente o via assim, tão pequeno, infantil e bochechudo.

Quadrilha- História inspirada na poesia de Carlos Drummond de AndradeOnde histórias criam vida. Descubra agora