03 - Assustado coração

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Cessar. Palavra curta, definitiva. Também significa interromper, parar. Changkyun pensou, pensou, pensou, então desistiu de pensar, cessou. Parte de sua mente queria cessar o abraço também, talvez a enaltecedora da razão. Mas a chuva não estava muito afim de diminuir, e ele não sabia como interromper, não conseguia afastar-se. Talvez não precisasse seguir a razão dessa vez, só dessa vez, talvez.

Kihyun fungou contra seu pescoço, como costumava fazer antes, quando tentava sentir-se inebriado por seu cheiro. Não era necessário esforço, o perfume do corpo dele deixava-o tonto sem tentar. Quando tentava, então encontrava-se perdido, imerso em um mundo particular, capaz de não voltar, não queria voltar. Não havia ninguém para sentir sua falta, poderia ficar um pouco mais, só um pouco mais.

-- Não quero te assustar, mas preciso dizer algo. - sentiu o receio acompanhando as palavras entaladas em sua garganta - Eu ainda amo você, Kyun.

Apertou-o mais contra seu corpo, queria fundir-se a ele. Também tinha algo para falar, mas deveria? Como poderia falar que não o esqueceu, que Kandel tinha culpa, que o amava, e que culparia Kandel por isso também? A razão apareceu novamente, ela colocou a boca no trombone exigindo ser ouvida.
E Hyungwon? Esqueceu que tem um encontro com ele amanhã? Gritava consigo internamente. Razão, razão, por favor dê um tempo. Você não pode destruir o que construiu com tanto cuidado por quase dois anos só porque ele resolveu aparecer do nada.

Ele.

Vamos, se recomponha.

-- Kihyun. - a voz falhou, quase não saiu - Não posso. - afastou-se, encarou seus próprios sapatos sendo molhados pelos respingos da chuva. Seu interior gritava. Ele queria um pouco de paz, só um pouquinho - Desculpe.

-- Tudo bem, eu não estou te cobrando algo, Kyun.

-- Não entenda mal, por favor. - suspirou - Eu só...

-- Você não sente mais nada.

-- Eu sinto tudo. - rebateu de imediato - Esse é o problema. Ainda sinto muito, muito por você.

Então Kihyun sorriu minimamente. Talvez estivesse precisando dessa brecha para sentir-se aliviado outra vez. Não sentia isso há um bom tempo, mas algo estava diferente.

-- Pensar estraga os momentos, não pense tanto nisso. - afastou a franja de seus olhos. Estavam maiores do que ele lembrava - Pode me levar pra casa?

-- Pra casa?

Riu de sua expressão surpresa. Que casa ele estava imaginando?

-- A minha casa, Kyun.

-- Ah, claro! Sua casa. Não se importa com a chuva?

Se importava. Detestava ficar molhado pela chuva, assim como sabia que acontecia com o que estava ao seu lado. Mas essa é a hora que ele foge, porque ficar sem realmente estar é uma ideia torturante.

-- Não quero ficar quieto no mesmo ambiente que você se não podemos nos comportar como antes. - optou pela verdade - Me reprime, incomoda.

-- Eu não quero reprimir você. Não foi isso que quis dizer.

-- E eu não quero te deixar desconfortável, então faria isso por você, mas entendo que não posso fazer isso comigo. Não é certo comigo.

Queria gritar, surtar com a razão, quebrá-la na porrada. Abraçou o próprio corpo, indicando a moto com o queixo, direcionando-se para ela em seguida, sendo seguido.

Kihyun sentou na garupa novamente, e segurou firme na cintura dele mais uma vez. Não do jeito que queria, não para esticar os lábios, não para envolvê-lo despreocupadamente em seu calor. Estava seguindo para outra despedida. Odeia despedidas. Ainda mais quando a nostalgia não deixa sua mente em paz por um minuto sequer.

Half a heart [Changki + Hyungkyun]Onde histórias criam vida. Descubra agora