Capítulo 21

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Aquele belo esquenta que a gente gosta pra amanhã kkkk Boa leitura <3

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AIDAN SCHACKLEFORD

Fechei a porta do meu quarto encostando-me na madeira e permitindo um suspiro feliz escapar de mim. O dia não foi nada como eu esperava, mas sem dúvida alguma, bem mais agitado do que supus. Charlotte ter aceitado meu pedido de casamento foi uma verdadeira vitória e desfrutar de seu corpo depois fez-me perceber o quanto estarei perdido nesse casamento e aquela mulher me terá na palma de sua mão. Sinto que Charlie pegou minha sanidade em suas mãos e lançou-a pela janela.

Com o aparecimento de Anthony pensei em fazer uma prece e agradecer aos céus por me proporcionarem aquele momento incrível com Charlie antes de juntar-me ao criador. Era mais que óbvio nossas atividades indecentes ali, nosso desalinhamento, lábios vermelhos e inchados, os cabelos de Charlie - sempre tão alinhados e bem penteados - estavam uma bagunça.

Por certo esperei um golpe ou um desafio. Se Anthony iniciasse uma briga eu revidaria, não seria tolo de deixá-lo me agredir por achar que tem razão - eu entendo que estamos falando de sua irmã, mas Charlie é minha noiva agora. Prioridades e prioridades.

Caso ele me desafiasse para um duelo teríamos problemas. Eu não duelaria contra ele, é simples. Não reuniria padrinhos e chamaria um médico local, não levaria uma espada ou uma arma para contra-atacar. Anthony foi como um mentor para mim, eu não conseguiria fazer isso.

O que seria trágico também, porque as chances de morrer em um duelo são indecentemente altas e quem estaria aqui para levar adiante o título de minha família? Certo, um duelo seria um problema gigante.

Quando Charlotte marchou para fora da galeria pronta para socar o irmão, Anthony olhou-me confuso e perguntou - pedindo sinceridade - o que diabos havia acontecido. Lembrando que não podendo haver duelo e que eu não estava lá para brigar com ninguém, menti da melhor maneira que pude.

Disse que encontrei-a na estufa quando cheguei, a marquesa havia saído para ver o vigário e deparei-me com Charlotte com a cabeça entre seus infinitos vasos de planta, parecia tentar aparar uma folha ou algo assim - o que explicaria bem o desalinho das roupas e a bagunça do cabelo -, quando ela percebeu minha presença pediu que eu a acompanhasse até a galeria para mover algumas caixas pesadas. Passei a mão por meus cabelos enquanto falava - mostrando que eu mesmo podia tê-los desordenados - e pedi desculpas se, por um acaso, parecia que algo completamente diferente havia acontecido ali.

Anthony continuou desconfiado - o que é esperado, já que estamos falando de Anthony D'Evill - mas acabou por pedir desculpas pela maneira que lidou com a cena que havia encontrado e fez-me as típicas perguntas de cortesia sobre minha viagem, como tenho passado, o que achei de todo o tempo fora etc. Acompanhei-o até a sala íntima da família para despedir-me de todos.

Foi um verdadeiro alívio sair de lá com todos os ossos e tecidos em seu devido lugar.

Rindo de toda a situação desastrosa vou até meu quarto de vestir, livrando-me das roupas e colocando um roupão de noite. Parece-me fútil chamar um ajudante a esta hora da noite quando sou grandinho o suficiente para cuidar das minhas próprias roupas. Eu não tive assistentes durante os últimos quatro anos, por quê os teria agora para me vestir? Talvez em ocasiões especiais como bailes, já que exigem muitas camadas de roupas e detalhes de vestimenta que nunca lembro. No geral, mantendo minha botas devidamente lustradas é mais que o suficiente. Nada tão pesado como o serviço de limpeza, mas ainda sim é um trabalho e ajuda no sustento de uma família.

Quando finalmente sentei-me na cama, pronto para dormir depois de um dia cansativo de trabalho em que saí para explorar as terras após sair de Brightdown, leves batidas em minha porta ecoaram por todo o quarto. A contragosto fui até lá abrir passagem, sendo surpreendido por lady Denil.

-Em que posso ajudá-la, milady? - Não fui capaz de esconder minha confusão com sua presença.

-Boa noite, milorde. Eu sei que já é tarde e que todos estão dormindo, mas gostaria de falar em particular com o senhor.

-Temo que não seja a hora mais apropriada, senhorita. Não é certo que uma moça esteja no quarto de um homem solteiro em uma hora tão escandalosa.

-Eu entendo sua resistência, entretanto preciso entregar-lhe isto. - Ergue uma bolsa de couro e somente agora percebi que ela carregava - Imagino que gostaria de ver.

Com desconfiança e pouca vontade abro espaço para que entre. Lady Denil está em suas roupas de dormir e mais uma vez os alarmes de perigo soam em minha mente. Seria um escândalo se a encontrassem em meu quarto a esta hora.

-Temo que a senhorita precisará ser rápida. Não é certo que estejas aqui.

-Eu confesso que errei, mas estou tentando consertar tudo. Quando soube que havia retornado ao país e que buscava por uma noiva pareceu-me inútil continuar a esconder. - Abre a bolsa de couro e me mostra dezenas de papéis ali dentro, presos em montes por fitas. Leva apenas alguns segundos para que eu perceba que se tratam de cartas - A primeira carta foi entregue por engano, o senhor sabe, somos vizinhos dos D'Evill na capital.

-Sei. - Ainda não acredito no que está acontecendo, creio que meu cérebro se recusa a assimilar.

-No endereço milorde sempre anotou "Para C. D'Evill" e a primeira carta foi entregue em minha casa, bem, imagino que tenham confundido com C. Denil. - Sorri de maneira tímida. Suponha-se que deveria ser gracioso, mas o choque chutou todo o meu cavalheirismo para longe.

Eu não estou comovido pelo engano, eu estou puto.

-A senhorita está com todas as minhas cartas? - Minha voz soou um pouco mais falha que o esperado. Lady Camille interpretou isso como descrença, enquanto a realidade é que falhou por raiva crescente.

-Sim! - Seu sorriso aumenta - Eu sei que deveria ter entregue na residência certa quando percebi o erro, mas apaixonei-me por tua escrita. O carinho em suas palavras, como se escrevesse para uma pessoa que muito ama. Fiquei tão encantada que não pude resistir e fiquei com a primeira carta para mim. Passei os meses seguintes praticamente de guarda na janela para quando as cartas fossem entregues eu interceptá-las.

-Por quê?

A raiva evolui para ódio. Todos esses malditos anos em que escrevi para Charlie dizendo o quanto sentia sua falta e o quanto ansiava por vê-la, todo o esforço, foi atrapalhado pela maldita vizinha.

-Estou apaixonada por milorde. Eu sei que parece tolo, mas as cartas... Pareciam ter sido escritas para mim. Eu trouxe-as comigo como prova de que estou apta para ser sua esposa. Não é por isso que estamos aqui? Para milorde buscar por aquela que terá seu sobrenome? Eu quero ser essa pessoa.

-Lady Camille, minhas cartas eram pessoais, endereçadas para uma amiga. Não deveria ter feito isso. - Tomo a bolsa de suas mãos, despejando minhas cartas sobre minha cama e quando estou certo de que mais nenhum papel sobrou lá dentro, jogo a bolsa de volta para ela - Saia do meu quarto.

-Mas as cartas...

-As cartas são minhas! Não eram para a senhorita! Deveria tê-las entregado no lugar certo quando percebeu o erro, não dedicar-se a interceptar todas as entregas seguintes!

-Entendo que esteja com raiva. - Suspira endireitando a postura - Pense melhor sobre o que eu falei, quando milorde estiver mais calmo conversaremos novamente.

Agradeci aos céus quando ela saiu, tê-la aqui dentro apenas enche-me de mais raiva. Já basta agora guardar todas essas cartas e controlar os tremores de minhas mãos. Não creio que algo assim aconteceu, simplesmente não posso crer.


Marquês Delicioso - Os D'Evill 05Onde histórias criam vida. Descubra agora