Capítulo 8

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CHARLOTTE D'EVILL

-Sua Graça, lady Zidenville e lorde Schackleford estão aqui. - O mordomo faz uma mesura.

-Traga-os aqui, por favor.

O mordomo se retira e trato de acomodar-me em minha cadeira, coluna ereta, mãos delicadamente posicionadas sobre o colo e tornozelos cruzados como fui ensinada na Escola de Damas. Mamãe direciona-me um sorriso tranquilizador e segura uma de minhas mãos.

-Relaxe e aja naturalmente.

A mesa de hoje foi posta para cinco pessoas, além dos Zidenville, papai também se juntará a nós hoje. Disse que gostaria de rever Aidan e saber mais sobre seu tempo fora. O cenário não poderia parecer-me mais desastroso. Como eu poderia envolver-me com Aidan sabendo o quanto meu pai e meus irmãos o estimam? Seria mais brutal que o ataque de meus irmãos ao marido de Elizabeth!

-Papai está atrasado.

-Trabalhando como sempre, mas ele chegará, não se preocupe.

-Boa tarde! - A marquesa de Zidenville entra primeiro, um sorriso enorme no rosto, logo atrás está seu filho encarando-me com aqueles olhos cinzentos e o cabelo espesso bem penteado para trás.

-Tia Eleonor! -Levanto-me e vou até ela para abraçar-lhe.

-Querida, estás belíssima. Como tem passado?

-Muito bem e a senhora?

-Já tive momentos melhores. - Sorri novamente e se afasta para abraçar minha mãe.

-Eleonor! - Elas praticamente pulam no pescoço uma da outra, abraçando-se apertado e iniciando uma conversa enquanto ignoram completamente a presença dos filhos na sala.

-Lorde Schackleford.

-Lady D'Evill. - Curva-se e toma uma de minhas mãos, beijando o dorso e fitando-me diretamente nos olhos. Seu aperto é um pouco mais forte que o necessário, fazendo meu estômago dar cambalhotas.

-Bem-vindo de volta.

-É sempre bom voltar. - Seu olhar no meu é tão penetrante que sinto-me desconcertada, exposta.

-Aidan querido, bem-vindo! - Ele faz uma mesura rápida para minha mãe, beijando-lhe a mão, mas os olhos focados em mim.

-Espero não estar incomodando, milady.

-Da maneira alguma. Charlie disse que o havia convidado, sentem-se! Thomas deve chegar a qualquer momento.

-Ora, ele se juntará a nós? Que surpresa! - Tia Eleonor acomoda-se à esquerda de mamãe, Aidan se senta à minha direita e a cadeira entre mamãe e eu está vazia, esperando por meu pai.

-Thomas fez questão de juntar-se à nós quando soube que Aidan viria. Ele está ansioso pro reencontrá-lo.

-Confesso que também estimo por revê-lo. - Aidan sorri abertamente e tenho vontade de chutá-lo por baixo da mesa, será que ele não sabe o efeito desse sorriso sobre as pessoas? Inacreditável.

-Como estão todos os outros? - Tia Eleonor pergunta.

-Muito bem, logo estarão aqui para a temporada campestre em sua casa. - Mamãe sorri e se serve de chá - Tenho dois netos a caminho, não poderia sentir-me mais realizada no momento.

-Desculpe o atraso! - Papai entra na sala, acomodando-se entre mamãe e eu, beijando a mão da esposa antes de dirigir um acolhedor sorriso para nossos convidados.

-Aidan, é uma felicidade vê-lo. Como tem passado?

-Muito bem, senhor. Adaptando-me a estar em casa outra vez.

-Conte-nos sobre suas viagens. - Pede mamãe enquanto todos terminamos de nos servir.

Aidan iniciou seu relato pelas Índias, contava sobre os animais diferentes que havia conhecido e pelos costumes estranhos da terra estrangeira. Todos escutávamos concentrados no que ele estava falando, gesticulando com uma mão para dar ênfase em suas falas, enquanto escorregava a outra para baixo da toalha de linho que cobria a mesa e entrelaçando nossos dedos.

Eu deveria estar assustada e recuar ao seu toque, mas é de Aidan que estamos falando. Estou tão feliz por vê-lo em nosso país outra vez, por voltar à minha vida, não importa que eu esteja encantada por ele novamente ou que ele tenha me presenteado com meu primeiro beijo e não fez disso algo estranho. Aidan Elijah Schackleford sempre será meu melhor amigo.

Pela meia hora seguinte ouvimos suas aventuras por territórios estrangeiros, suas descobertas e - se prestasse de fato muita atenção - seus meios ao chegar em terras desconhecidas. Seu relato terminou em sua última parada antes de regressar ao país, França. As histórias da elegante e extravagante Paris são muito interessantes.

-A França sempre pareceu-me um bom lugar para recomeçar. Tentamos convencer a mudar-se para lá e começar uma nova vida, encontrar o amor e casar-se, mas ela se negou veementemente.

-Casar? - Aidan pergunta com cenho franzido, o aperto de seus dedos junto aos meus afrouxando um pouco.

-Gosto de estar aqui, fazer companhia aos meus pais. Parece-me o certo a ser feito, de qualquer maneira venho ocupando-me muito com a estufa, as flores exigem uma atenção especial.

-Além disso, é a melhor treinadora de cavalos que já tive. - Papai fala e sorrio para ele.

-Conte-nos sobre os planos para sua temporada, tia Eleonor.

-Planejamos algumas visitas as ruínas da região, os locais onde ocorreram as batalhas da Grande Guerra, passeios pelos bosques, corridas de cavalos, competições de esgrima e naturalmente os bailes. Nos sentiríamos honrados em tê-los conosco.

-Certamente iremos. - Mamãe sorri - Meus filhos estão chegando com suas esposas, devem juntar-se a nós dentro da próxima semana. Será necessário certo cuidado especial com Grace e Luise, esposas de Anthony e Harry, ambas estão grávidas novamente e sabem como essas viagens são longas.

-Imagino, é o terceiro filho de Anthony, não?

-Oh, sim! Imagino que ele queira uma casa tão cheia quanto a que cresceu.

-Estou ansiosa para conhecer a todos. Será uma reunião estupenda!

-Mesmo que estejas ocupada com os preparativos dos eventos e a chegada dos convidados, faremos isso acontecer!

-Ansioso para os agitos sociais depois de tanto tempo longe, Aidan? - Papai pergunta e Aidan engole seu bolinho antes de responder.

-Confesso que parece-me muita informação para tão pouco tempo, porém espero divertir-me com todos os presentes e que nossos convidados se sintam igualmente bem-vindos.

-Com sorte Aidan escolherá uma noiva logo. - Tia Eleonor e mamãe riem e acabo por soltar minha mão de Aidan, mas o homem a toma novamente e acaricia minha pele com seu dedão em movimentos circulares.

-Prefiro esperar para que as coisas aconteçam naturalmente, creio que estarei ocupado demais em meu papel de anfitrião para buscar um cortejo com uma de nossas convidadas.

-Estou de acordo. - Mamãe reabastece sua xícara - O melhor que temos a fazer é deixar que as flores desabrochem quando se sentirem prontas. Sabemos que uma hora acontecerá, por que apressar o que não deve ser apressado?

Marquês Delicioso - Os D'Evill 05Onde histórias criam vida. Descubra agora