Eu sou Filho do Sol

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Já estava no avançar da madrugada quando ouvimos sons de cavalos se aproximando e então a gritaria começara. Eu ouvira os homens, que nos sequestraram e avisaram que seríamos vendidos para qualquer sorte de pessoa, bradarem a plenos pulmões que estavam sendo atacados pelos “homens do rei”. Senti uma pontada de esperança fazer meu coração palpitar. Coloquei-me sentado sobre os calcanhares e comecei a gritar por ajuda.

Eu senti a aceleração da carroça, como um tranco repentino, e gritei ainda mais alto. Eu ouvia sons desconexos, coisas sendo destruídas, pessoas sendo mortas, uma batalha feroz e horrenda acontecia fora de minha caixa e eu só via breves flashes de todo o caos do lado de fora. Meus pensamentos só estavam na Senhora Tsunade e na Senhora Temari.

Com todas as minhas forças, eu rogava aos céus que as protegessem de todos os males e que as salvassem. Mas minhas orações foram interrompidas por tremores repentinos, como se a carroça estivesse fora de controle. Olhei pela janela e vi que ela ia cada vez mais rápido, porém a paisagem estava torta, estava em declive.

O que está acontecendo? Para onde estão me levando? A paisagem mudara agora, era uma floresta densa, eu ouvia os galhos se quebrando contra a caixa, muitas vezes algumas folhas, ou pedaços de madeira caíam bruscamente dentro, algumas vezes me acertavam.

Eu queria poder dizer que fui salvo, que os guardas reais me encontraram e que eu pude voltar para casa são e salvo, mas eu estaria criando uma ilusão para mim mesmo. Nada disso aconteceu. Eu fui levado para um lugar distante, que eu nunca tinha visto, talvez muito além do deserto e das florestas. Depois de abandonar a carroça em algum lugar, seguimos a pé por uma trilha da floresta até um barco escondido.

A partir dali, subimos o rio, indo mais além do que eu jamais fora. Eu sentia que cada vez mais eu era distanciado de meus objetivos, que eu era levado para longe do meu habitat, para longe de tudo o que eu amo e que não teria mais volta.

Três dias depois do ataque, a comitiva sobrevivente de bandidos chegara ao suposto destino, onde eu e mais seis garotas seríamos vendidos. Nos levaram para uma estranha pousada, onde nos fundos, senhoras cegas nos deram banhos e nos ajudaram a nos vestir de forma apropriada para “escravos de leilão”. Eu não conseguia pensar em nada direito, sentia-me inerte e alheio ao mundo, vazio e desolado, como uma floresta morta pelo fogo. Eu não sabia onde estava, o que seria feito de mim ou se a Senhora Tsunade ou a Senhora Temari estavam a salvos na Cidade Imperial.

Eu passara a noite inteira em claro, perturbado por meus próprios pensamentos de medo e de morte, olhando para as paredes escuras que compunham a cela onde estávamos eu e as outras garotas. Parece que não consegui fugir do destino sombrio de todos os Filhos do Sol: se por nas trevas da noite sem lua. O que mais me entristece é saber que os esforços de meus pais foram em vão.

No dia seguinte, com o sol do meio dia ardendo em nossas cabeças e com a fome retorcendo as nossas barrigas, fomos postos a leilão.

-Por mais que suas mentes se recusem a acreditar, que seus olhos não consigam enxergar e que suas línguas não queiram pronunciar, senhoras e senhores, diante de vocês está, e provavelmente seja verdade, o último Filho do Sol! - falou imperiosamente o leiloeiro e eu fui empurrado para o palco, ficando bem às vistas das pessoas. - Sim, meus caros, um legítimo Filho do Sol, que recebeu treinamento de geisha, nossa peça mais rara!

As pessoas começaram a se aglomerar ainda mais ao redor do local onde estava acontecendo o leilão. As garotas foram vendidas para diferentes senhores e senhoras, algumas sabendo que se tornariam escravas. E agora, era a minha vez de ser condenado.

Eu usava um kimono curto, vermelho já desbotado, no qual a barra descosturada ficava na altura do meio das minhas coxas e calças curtas também, porém cor de terra seca, na minha cabeça havia uma espécie de pano longo marrom, que cobria todo o meu cabelo. Com as mãos e os pés acorrentados, ligados por uma corrente maior que ia até o meu pescoço e me prendia, como numa espécie de coleira, eu fui colocado diante dos compradores. Meu kimono fora propositalmente mal amarrado para que parte do meu corpo fosse mostrada e meus olhos receberam um pouco de destaque com khol.

A Décima Terceira EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora