Por trás da Máscara

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Finalmente os seis meses de luto se encerraram e eu já estava com três de casado. Sakura ainda me tratava do mesmo jeito, com suas encaradas cheias de desprezo e suas palavras duras. Eu não podia fazer nada, exceto me controlar e esperar. Eu tinha que, infelizmente, esperar por Lord Drargul para mudar a minha sina, eu estava preso a isso. Mas agora, este tempo se findara. 

Certa noite, um criado me disse que meu Sjah me chamava em seu quarto. Naquele dia eu ouvira mais duras palavras de Sakura por ter errado o preparo de um alimento, por isso eu estava meio tristonho, meio desmotivado, de modo que demorei a entender o significado daquele chamado. Ele queria falar comigo, pouco depois de findar o seu luto? Pisquei várias vezes antes de finalmente entender que era comigo que ele queria falar, primeiramente comigo. Saber que meu Sjah requisitava a minha presença me deixou, de certa forma, feliz, independente do assunto.

Vesti-me com um kimono de seda laranja sem estampas por cima do branco, amarrei cuidadosamente meu obi vermelho e rumei para onde o criado me indicara. Era tarde, a maioria das pessoas dormia, mas eu não conseguia me sentir solitário, tal como quando eu vivia nos calabouços de Lord Gaara. Eu me sentia vazio, faltava algo, aliás, alguém. Cheguei com calma na porta e a abri. Era o quarto no terceiro andar, sobre a pedra. Havia uma enorme cama quadrada sem cabeceira no centro, mas com um mosquiteiro delicadamente disposto sobre ela. A minha direita havia uma armadura muito diferente exposta. Ela não tinha peitoral, mas uma enorme pele de um animal que eu não soube definir o que era. Não ousei me aproximar, fiquei quieto na porta fechada, esperando que ele se manifestasse.

No canto ainda direito havia um par de cortinas marrons, combinando com a madeira das paredes, pois o chão era de pedra polida, e delas saiu o meu Sjah, usando uma calça negra e uma longa camisa creme lisa que ia até perto de seus joelhos. Ele ainda usava sua máscara de ferro e parecia afiar uma espada levemente curvada. Estremeci ao ver a arma. Seu rosto se voltou para mim e sua mão se moveu, me chamando. Baixei meu rosto e segui até ele, apertando as minhas mãos dentro das mangas do kimono. Será que eu fiz algo muito errado e agora serei punido, como fazia Lord Gaara? Será que eu me enganei, no fim das contas? Como queria ser salvo por aquele garoto de novo e, desta vez, fugir com ele para longe de toda essa angústia e sofrimento.

Meu Sjah esperou que eu chegasse, então o vi indicar um amontoado de almofadas que havia na varanda de seu quarto. Dali ele seguiu até a parede e guardou sua espada. Me encaminhei rapidamente para as almofadas e ali me sentei, vigiando sua presença. Por que ele guardou a arma? Vai me castigar de outra forma? Deve ser. Pode ser que Lord Drargul seja como Lord Gaara e faça atrocidades com meu corpo. Vi-o se sentar ao meu lado e me fitar, havia um brilho diferente nas fendas que lhe serviam de viseira.

-Shamir dissera-me que tu queimaste o bulgarat hoje. - começou, puxando suas luvas pretas de suas mãos e as deixando de lado. Eu assenti. Bulgarat é uma espécie de massa achatada coberta de molho de tomate e outros condimentos de acordo com o gosto. O que fora feito hoje fora um de carne de carneiro, o preferido de Lord Drargul. - Ela te golpeou, meu Nem? - sua voz soava branda.

-Não, Sjah, mas me disse coisas horríveis como… - engoli em seco - Que sirvo apenas para ser exibido, como um macaco.

Ouvi-o rir baixo e então se voltar inteiramente para mim.

-Não te irrites com as diabruras de Sakura. Ela deveras é uma mãe admirável e uma esposa honrada, apenas não se acostumou com tua presença nesse meio. - ele tomou as minhas mãos e as guiou para os fechos de sua máscara. - Poderias desatar-me, por gentileza?

Eu assenti, mesmo que ele não tivesse visto por ter abaixado a cabeça. Ajoelhei-me para ter um alcance melhor e pouco a pouco fui abrindo os fechos metálicos. Kami-sama, verei finalmente o rosto de meu marido? Depois de tanto tempo? É tão extasiante que toda a amargura que eu sentia antes deu espaço para a expectativa. Eu estava quase prendendo a minha respiração por causa disso, de tão ansioso que eu estava. Logo todos os fechos foram abertos e eu me afastei, vendo-o endireitar a postura e levar as mãos à nuca.

A Décima Terceira EsposaOnde histórias criam vida. Descubra agora