Que Coisa é Essa?

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     Pulei e acabei num tropeço. Fiquei mais desesperado, mesmo não o vendo. Minha perna tinha parado de sangrar, e passou a latejar uma água amarelada.
     — Ouviu? — pergunto a mim mesmo. Um rugido próximo se alastrou, espantando aves, gambás, e texugos que passam por minha perna na correria.
     Rugiu novamente.
     Decido pular da colina, atolado de lama densa. Cambaleando, seguia ao vilarejo pois aquilo devia ser alertado sobre.
     O assobio. Seu maldito cantarolar fino me pegou, trazendo tremeliques aos meus punhos e espinha. Limpei minha saliva, que não parava de escorrer como uma teia de aranha. Mas voltava de novo e de novo!
     Me achou.
     Não hesitei empunhar a katana, mas os punhos, meus judiados punhos... não... não se moviam!!

     Assobiou mais alto, e correu até mim, numa direção na qual nem sabia que seria possível ele vir.
     Segurou-me em seus braços, e assobiou mais alto, com seus lábios esticando o ruído. Eu só pude observar.
     Daí, ele entrou na minha cabeça e eu vi. Sim, eu vi! Aquela passagem de palácios e céus, um conjunto deles e coerência, mas com leves tons de verde. Não, rosa. Não, não. Era mesmo verde, e com pinceladas de azul e amarelo e roxo e vermelho e marrom e a lua o sol a letra B o número sete e alfabeto clandestino e... Ele é eu?
     Onde está tudo? Morri? Estaria vivo? Isso é viver? Por que estou amordaçado, por que meus braços estão presos por um pano que os cruza um com outro? Quem és tu, indomável coisa?! Quem és tu?!
     Seria uma criatura de Kojiro? Hayato? Inimigos sem um pingo de lealdade! Chega, não ponha isso na minha boca! Que líquido é esse? Remédio?! Por que preciso de um... glub, glub... Ah!!! Que gosto amargo, ele... ele não sai da minha língua!!
     Verá só quando eu... ! Minha katana, onde está? Me roubaram! Isso é obra do Hayato, não é?! Servos tolos, eu irei matá-los antes de tirar estas... huh!!... Amarras!! Como as tiro?! Que bruxaria é esta?!!!
     Huh? Por que está... vire este palito prateado pra lá! O que é isto?! Saia de perto! Não! Não!! Não... !! Nã...

***

     — Calma, calma... — Assobiava suavemente, dando leves tapas no ombro do homem. — Este sedativo vai ajudar. Chequem se ocorre de novo este… colapso de alucinações, ok? — disse ele aos enfermeiros.
     O doutor agrupou seus utensílios, e seguiu para fora. No caminho abriu sua pasta cheia de papéis, e os lê na ida ao seu carro:
     — Andrey Tavares. Adorador da cultura japonesa... escritor... Ilustrador, uau. — Se impressionou. — Bem, parece que vai ficar mais uns dias no hospício.

Fim.

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