Iruma estava ajudando Tojo com o fogão local. Apesar de ser uma inventora renomada em todo o mundo, não podia deixar a “mãe” do grupo de 16 alunos na mão; afinal, ela também estava com fome, e, como era a única que entendia o básico de mecânica no meio de tantos idiotas — fora Keebo, mas ele estava ocupado com Himiko, naquele momento — o trabalho sobrou para ninguém mais, ninguém menos que a própria Miu, que, agora, estava com os óculos que mantia erguidos no meio de seus cabelos à frente de seus olhos e com suas roupas sujas. Odiava ser vista daquela forma, porém, como ninguém usava a cozinha — fora Kirumi —, poderia estar àquela maneira por um momento sem se incomodar com sua aparência; ao menos, achava que seria assim.
Enquanto estava verificando o problema que havia ali, no meio de tanta sujeira, a porta abriu de forma repentina e brusca, típico de um “anão” em específico que adorava atormentar todos naquele acampamento, especialmente seu namorado, Saihara, que estava o acompanhando naquele momento. “Mas que ótimo momento para esse filho da puta aparecer!”, Iruma pensou consigo mesma, tentando disfarçar ao máximo a vergonha que estava sentindo por estar daquela forma; se não quisesse demonstrar que estava embaraçada, deveria enganar até mesmo seus pensamentos — quem sabe, ela também fosse uma ótima “manipuladora dos próprios sentimentos”, assim como Kokichi, que estava falando sobre alguma besteira qualquer com Shuichi.— Ei, seus merdas! O que os dois virjões vieram fazer aqui?! — Levantou seus óculos e virou-se para fazer contato visual com os outros dois rapazes ali, ainda estando ajoelhada à frente do fogão. — Sabem que não podem se comer na cozinha, apesar de parecer gostoso p’ra caralho!
— Cala a boca, sua puta! — Kokichi resmungou como resposta, sendo repreendido pelo olhar de Shuichi poucos segundos depois, o que o fez se encolher um pouco, suspirar e, em tom envergonhado, se corrigir: — Digo... viemos pegar uma garrafa de Panta... Miu. — E Saihara sorriu para ele ao terminar sua frase, recebendo um sorrisinho tímido de Kokichi de volta.
Naquele momento, Iruma sentia um misto de sentimentos: primeiro, estava genuinamente feliz por Kokichi tê-la chamado pelo nome sem ter um xingamento na mesma frase; era como se pudesse sentir o gosto da satisfação. Segundo, também estava enraivecida, de certa forma, pela ação ter partido de algo envolvendo Shuichi, seu principal rival.
“Quê?”, sacudiu sua cabeça algumas vezes ao ter tido aquela reação de forma involuntária. “Por que o Pooichi seria meu... ‘rival’? Não temos nenhum objetivo em comum. Eu acho...”. Estava envergonhada por estar tendo aqueles pensamentos, o que foi refletido em seu rosto ganhando uma tonalidade rubra de forma não exagerada.— Apenas façam logo o que vocês têm que fazer e se mandem! Estou tentando trabalhar aqui! — Para tentar disfarçar sua vergonha, usou um tom rude em sua voz e, logo, voltou para o fogão. Não iria conseguir fazer nada enquanto eles estivessem ali, então, apenas continuou procurando o erro, por mais complicado que fosse, devido a seu estado atual.
Não recebeu resposta nenhuma, mas pôde ouvir os passos dos garotos se direcionando para a geladeira, donde, de canto de olho, viu Kokichi tirando uma garrafa de seu tão amado refrigerante dali de dentro, ascendendo um sorriso grande e infantil em sua face delicada. De certa forma, aquela visão fez o coração de Miu esquentar, o que esquentou seu rosto mais ainda, deixando-o mais vermelho. As únicas coisas que se passavam em sua mente eram “Ele é tão fofo” e “Que inveja do Shuichi”. Gostaria de repreender aqueles pensamentos, mas, por mais que tentasse, não conseguiria; era a mais pura verdade.
Enquanto estava perdida em sua mente cheia de Kokichi, Kokichi e mais Kokichi, em algum momento, o viu tomar a bebida doce que ele tanto amava. Por um instante, seu cérebro de ouro cogitou as possibilidades dos lábios do arroxeado terem o mesmo gosto do refrigerante de uva que ele mais consumia; o pensamento a seguir foi o mais absurdo que Miu poderia ter. “Eu gostaria de poder beijá-lo...”.
Mas, antes mesmo de imaginar a sensação de ter os lábios colados aos de Kokichi, sua vista captou outra coisa: Ouma beijando Saihara ali, bem na sua frente. Foi o que a fez recobrar a consciência. Kokichi estava namorando Shuichi e eles eram felizes juntos, até mesmo tinham uma vida sexual ativa — longas horas sem dormir ouvindo os gemidos dos dois eram suas testemunhas e, também, seu pior pesadelo. Fora isso, todos acreditavam que Miu sentia alguma atração por Keebo, afinal, ela “tinha fetiche em tecnologia e o robô era a própria tecnologia” — apesar de ser uma tecnologia de terceira categoria. Bem, agora que estava sã novamente, queria logo terminar seu trabalho para que desse espaço a Kirumi, assim, ela poderia logo jantar e ir para sua tenda.— Caralho, será que os dois arrombados não podem ir se pegar em outro lugar? Porra, eu ‘tô tentando fazer alguma merda útil aqui, cacete! — Sua voz, apesar de estar um pouco falha, pôde ser ouvida em alto e claro tom pelos dois pombinhos apaixonados. Kokichi se separou de Shuichi quase imediatamente, lançando um olhar assustador para Miu, que a fez engolir seco.
— Porra, sua cadela burra, você só atrapalha! Nem o próprio diabo te suporta, sinceramente... — Com passos pesados e com uma feição claramente irritada, saiu da cozinha rapidamente, deixando Iruma e Saihara para trás, ambos sem graça; no entanto, a que parecia mais afetada era a inventora.
— Desculpe, Miu, não foi culpa sua... Ele apenas está de mau humor. — Shuichi foi para perto da saída e, antes de se retirar, deu mais uma olhada para Miu: agora, ela já não tinha mais expressão nenhuma. Parecia perdida nos próprios pensamentos, poderia até mesmo não ter ouvido sua frase.
— Ele tem razão, Shuichi. — Antes que o detetive realmente fosse embora, ela soltou a frase de forma inconsciente, o que fez Shuichi considerar se deveria mesmo ir atrás de Kokichi ou consolar Miu, afinal, foi a primeira vez que ela não havia o insultado numa frase relacionada a qualquer coisa sobre ele; mas, de certa forma, seu namorado era mais importante. Ele poderia mandar Keebo, Kirumi ou até mesmo Kaede para vir lhe dar apoio... É, poderia. Por isso, se retirou do local e saiu correndo atrás de Kokichi, deixando Miu em seu leito de solidão.
Fazia algum tempo desde que ela havia considerado estar gostando além da conta de Ouma, e até mesmo havia pensado em se declarar, mas Saihara chegou primeiro; também, não tinha certeza se Kokichi aceitaria seus sentimentos mesmo que ela tivesse sido a primeira. Ele parecia genuinamente amar Shuichi, e ela se sentia mais estúpida que o comum por se manter presa a essa paixonite idiota. Portanto, começou a apreciar toda e qualquer palavra que Kokichi dirigia a si, por mais que fossem xingamentos, coisas rudes, etc; ao menos, ele estava lhe dando atenção, e isso era o suficiente para Miu. Mesmo assim... o que ele havia dito para ela naquele momento foi arrasador. Normalmente, ela apenas ignoraria a parte ruim e focaria no “bom” da situação — no caso, a atenção que recebia —, mas, nessa única vez, as palavras de Ouma realmente tocaram seu coração. E num sentido péssimo, para variar.
Miu se sentia inútil grande parte do tempo? É claro que se sentia. No entanto, esse sentimento de inutilidade se tornava um sentimento de impotência quando estava com Kokichi; ganhava um novo significado, um jeito mais agradável. Era como se o fato de não poder fazer nada impressionante quando estava em sua presença a aconchegasse e lhe abraçasse, lhe tornando apenas ela mesma em sua verdadeira forma; era como gostaria de se sentir. Porém, contudo, entretanto e todavia, ela ainda mantinha sua “máscara” narcisista e vulgar, o que a fazia se sentir... mal. Ela queria ser honesta com Ouma e queria que ele fosse honesto com ela, assim como ele era com Saihara. Saihara... realmente era um homem de sorte.
Todo o apoio emocional que Kokichi poderia dar — e que Iruma recebeu apenas uma vez —, Shuichi poderia ter à vontade, sempre que se sentisse para baixo. Quanto a Miu... ela não tinha ninguém, porque ninguém realmente a conhecia sem sua persona rude, e continuaria sendo assim por bastante tempo, porque ela odiava demonstrar fraqueza. O único momento que pôde desabar em lágrimas foi quando estava no laboratório com Kokichi, e ele foi o único que a viu assim, que realmente lhe ajudou e que prometeu guardar aquele momento apenas em sua memória, sem contar para ninguém; era por isso que Miu estava apaixonada por ele.
Mas, o que fazer quando seu amado lhe diz coisas tão insensíveis? Significa que ele não te ama igualmente, certo? Iruma deveria perder as esperanças e seguir em frente, assim como sempre foi? Deveria mesmo ter mais uma decepção amorosa sem nem mesmo ter tido a oportunidade de se declarar, ou de tentar? Claro que deveria, mas... por que pensar nisso doía tanto? Por que essa ideia fazia seu coração apertar e um nó se formar em sua garganta? Por que ela estava chorando?— Miu!
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𝗖an't you see?
FanfictionOnde Miu reflete sobre sua paixonite em Kokichi. ㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤㅤ • no despair!au...