Kobe atualmente estava com vinte anos, no penúltimo ano da Universidade de Long Island aqui mesmo em Nova York. Sim, essa é a parte da história que contarei sobre o filhinho perfeito que conseguiu superar nossa vida de merda e estar prestes a se formar em uma das maiores faculdades do estado. Não é como se, por estar adulto e na universidade, não nos vissemos; ele ainda meio que "vivia" com a gente no apartamento de Nancy, nos visitando sempre podia ou insitia bastante, e aproveitando a comida maravilhosa da nossa "guardiã" nos momentos mais preciosos que tínhamos em família - pelo o que eu sabia, seu instinto forçado de continuar sendo o irmão mais velho protetor quase o convenceu a deixar a ideia de morar em um alojamento na faculdade de lado, optando por um apê próximo de lá. Logo que começou à cursar a faculdade há dois anos, quando ainda morava conosco, passava a maior parte do tempo fora de casa por causa do longo caminho de ida e volta e só chegava a noite, durante a hora de jantarmos todos juntos, contando sobre o que vira durante sua pequena viagem, os momentos com os colegas da universidade e a namorada, que conheceu logo no primeiro ano. Daphne era extremamente arrogante e egocêntrica, agindo severamente como se o mundo precisasse girar ao seu redor. Tenho certeza de que Kobe aprendeu a ser irritante logo após conhecê-la. Éramos próximos antes do nosso sumisso paterno, mas como já era de se imaginar, nossa relação não rendeu no fim das contas. As coisas não irão mudar de uma hora para outra mesmo, certo? Os dois namoradinhos insuportáveis se merecem e eu estou bem com isso, mesmo com todos os sermões de Nancy sobre como eu deveria respeitar e entender mais o lado do meu irmão. Eu não ligo. Essa é a verdade.
Quando tinha sete anos, meu pai me deu seu antigo walkman que ganhara quando tinha a mesma idade na época da sua infância, durante o meu aniversário. Não era a primeira vez que ele me dava algo que antes estava estocado no meio de caixas guardadas há quase duas décadas passadas que lembrava momentos específicos da sua vida, mas aquela foi especial. Aquele aparelho foi o único, por causa de alguma força superior que gritou forte na minha cabeça, que guardei como lembrança de Aiden Walkie. A fita cassete, dada junto do aparelho, estava cheia de músicas gravadas que se repetiam conforme a seleção chegava ao fim. As palavras animadas e românticas de A-ha, Billy Joel, Whitney Houston, Madonna e outros artistas clássicos até então esquecidos pela nossa geração, tomavam minha audição pelos fones no volume médio.
O walkman estava preso na divisória onde um cinto de deveria estar minha calça pantalona, com uma música animada de George Michael tocando naquela hora, enquanto meu foco total era concentrado no bloco de folhas amarelas super rabiscado de contas e números infinitos sem sentido, e poucos desenhos que resolvi fazer para uma pequena distração.
Eu e Lizzie (minha irmã mais nova, caso ainda não conheçam) pegávamos o ônibus escolar juntas todos os dias em um ponto perto do apartamento de Nancy. Minhas pernas estavam jogadas sobre o banco que cabia duas pessoas, sob minha mochila - ninguém nunca sentava do meu lado naquele ônibus, embora Lizzie tentasse e eu diasesse não, por isso aproveitava para me aconchegar melhor -, a agonia tomava conta de mim por um motivo loucamente específico. Lizzie estava no penúltimo ano, um ano anterior ao meu, e sempre parecia animada com a sua vida. Nunca dizia alto, apenas pensava o tempo todo, há alguns anos, como ela era a única daquela família - ou pelo menos o que restou dela - que era minha melhor amiga de verdade. Depois de Kobe se tornar o maior insuportável egocêntrico, vinha a caçula, Natasha, que era super fechada e reservada com seus sentimentos. Não, eu não odiava a Natasha como odiava Kobe, mas fora uma situação complicada; ela era muito pequena quando todo o lance com os nossos pais aconteceu, e isso com certeza a afetou em cheio. Nós ainda conversávamos, brincávamos, e ainda queria protegê-la o máximo possível contra qualquer mal existente no planeta por simplesmente amá-la demais.Fui acordada do transe matemático quando senti uma série de coisinhas pequenas sendo jogadas repetidamente em mim; mini salgadinhos de queijo vindos do banco de trás. Lizzie. Pude observar metade do corpo de minha irmã apoiado sobre o banco do ônibus o qual eu estava praticamente deitada. Ela ria, as mangas do casaco longo e azul estavam dobradas para cima, deixando seus antebraços à mostra, enquanto segurava o saco de salgadinhos em uma mão e com a outra bagunçava mais ainda o cabelo curtinho sem querer, com os dedos meio sujos de farelo do biscoito. Seus olhos azuis brilharam quando a garota olhou para o lado de fora do ônibus; a luz forte da manhã clara causava aquilo em todos nós: O clássico brilho extra forte dos olhos azuis dos Walkies sempre fora algo comum e chamativo. Tirei os fones rapidamente para conseguir repreendê-la mais facilmente por me encher de salgadinho, sem estar com a música de George Michael zoando em meus ouvidos.
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Nós, Latente [CONCLUÍDO]
Teen FictionPersonalidade forte, extrovertida e meio alienada são com certeza características que definem Sadie. Todos estão super animados com o fim do último ano do colégio, ansiosos para as festas, a chegada da formatura e as faculdades, enquanto a garota e...