Uma palavra me descreve nesse momento: BAGAÇO! Depois de um plantão de 26 horas, muito café e 3 pacotes de miojo, finalmente estou indo para casa.
Eu ouvi um amém?
Não que eu não ame meu trabalho, eu amo demais, é meu sonho realizado, Doutora Melissa Kim, residente de pediatria no Hospital Eu ainda me sinto emocionada toda vez que leio meu nome bordado no jaleco, e as vezes tenho que segurar as lágrimas toda vez que um paciente me chama, ou grita.
Mas a vida é assim mesmo, e para o alívio das minhas pernas, que estavam a ponto de abandonar meu corpo, chego em casa salva, porque a sanidade nunca foi uma virtude minha.Depois de um banho de banheira bem tomado e uma sopinha, desabo na cama que no momento é o amor da minha vida, esperança do meu viver... Dormi!
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Acordar depois de um plantão, não é diferente de acordar com ressaca, se bem que eu nunca bebi, então nunca tive uma ressaca, mas a cara de zumbi atropelado dos meus colegas de trabalho no dia seguinte de alguma festa, é prova mais do que suficiente para saber que plantão e bebida tem um efeito destruidor semelhante.
Depois de dar uma geral na casa e almoçar, decido que é hora de colocar meus doramas em dia, se bem que as minhas leituras também estão atrasadíssimas.
Maratonar é uma arte, que deve ser apreciada e.... Triiim Triiim Triiim o telefone toca e sei que é minha mãe, ela sabe mais dos meus horários que eu.- Alô mãezinha! - digo com empolgação.
- Mãezinha nada, que filha desnaturada, não me ama mais não? Não precisa responder, talvez a verdade destrua meu pobre coração. - diz minha mãe fungando em um falso choro.
Agora sabem de quem puxei meu lado dramático. Só me resta rir!
- Minha rainha, eu cheguei do plantão e estava só a capa da gaita, nem sei como troquei de roupa.
- Ahhh! Minha bebê tá só a farofa, toda acabada, parecendo papelão molhado...
- MAMÃE! - digo rindo.
- Quer que a mamãe faça uma lasanha bem gostosa? Pra recuperar seu corpo de elfo?
- Eu tenho 1.60! Não sou um elfo! - digo fazendo drama.
- Melissa minha filha, não adianta mentir para si mesma, você tem 1,55 e olhe lá! Mas a mamãe ama esse projeto de pigmeu. Vem jantar aqui em casa, seu pai inventou uma moda e comprou uma churrasqueira, aqui tá só a fumaça... DESLIGA ESSE TROÇO HOMEM, SUA FILHA TÁ TOSSINDO COM ESSA FUMAÇA. - grita com meu pai que nem deve estar ouvindo.
- Eu vou mãe, só preciso fazer umas compras aqui pra casa, mas vou sim. Te amo!
- Eu sei querida, também te amo, mas deixa eu ir, acho que seu pai colocou fogo no quintal... MEU BEM... - desliga o telefone.
Meus pais são as melhores pessoas do mundo. Katerine e Noah Kim, me adotaram quando eu tinha 7 anos, não sei o que viram em mim, mas me amaram a primeira vista, me deram um lar e uma família e irmãos, e mesmo eu não sendo uma criança fácil no começo. Depois de ver tantas crianças serem adotadas e devolvidas me tornei insegura e desconfiada, mas com todo carinho e paciência eles me fizeram entender que eu tinha uma lugar que era ao lado deles, e bom, eu sou o reflexo do amor desses dois, o casal mais amoroso e divertido que eu já conheci, que mesmo depois de tantas dificuldades ficaram juntos se amando.
Papai é um engenheiro civil, tem uma construtora, e trabalhou muito para ser um dos maiores empresários do ramo de construção; já mamãe é uma gênia das finanças e é a CFO da construtora, nada funciona sem ela. Quando cheguei na vida deles a construtora Kim, tinha poucos anos de vida e em primeira mão pude ver a batalha dos meus pais pelo seu sonho. Eles conseguiram, e o sobrenome Kim passou a ser associado a uma das maiores construtoras do país.
Termino de me arrumar e saio em rumo ao supermercado, tentando memorizar o que preciso comprar. Frango, arroz, biscoitos... Já esqueci!
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Pelos corredores do supermercado cantarolo uma musiquinha do comercial de pasta de dente, procurando pelo meu cereal colorido. Sorrio ao lembrar que foi em um supermercado como esse que chamei minha mãe de mãe pela primeira vez.
- Mãe, posso comprar aquele cereal colorido? - digo com a voz trêmula pelo medo de ser repreendida. Mas esse medo logo desaparece quando vejo os olhos de mamãe cheios de lágrimas e seu sorriso, me encarando. Ali eu entendi que ela era meu lugar especial.
- Claro minha filha! - diz mamãe com mais de seis caixas nos braços, daquele cereal que se tornaria o meu preferido.
Aquele dia marcou o início definitivo da nossa famíli... Aí!
Estava tão perdida nas lembranças que não percebi a pessoa na minha frente. Meu Deus! Eu atropelei uma pessoa com um CARRINHO DE SUPERMERCADO.Que vergonha! Isso só acontece comigo.
Porque? Porque?- Meu Deus, me desculpa! - digo me aproximando da vítima. Só então percebo que eu atropelei um gatão. UAU!
- Que isso, não foi nada. Eu também estava distraido. - diz o gatão, qua ainda está no chão.
Kkkkk, rimou!
- Ai moço, levanta desse chão, vão achar que eu tô te agredindo aqui. - digo depois de me recuperar, lógico que não completamente, do tapão que eu levei da beleza desse gatão.
Ele ri e se levanta. Pai do céu, o homem é um andaime! Sério ele deve ter uns 3,50m... Tá bom, ele deve ter 1,90m de altura, mas mesmo assim pareço uma formiga perto do gatão.
- Você se machucou moço? Tá tudo bem? - digo olhando o gatão e dando uma volta ao seu redor pra ver se estava tudo bem. A médica em mim, fala mais alto as vezes.
- Está tudo bem, não me machuquei. Mas preciso saber seu nome caso eu precise te processar por lesão e... - ele para de falar ao perceber o tamanho dos meus olhos, que estão no limite de tão arregalados - é brincadeira! - conclui ao ver que estou acreditando na história do processo por lesão.
- Aí moço, meu coração não aguenta não. - digo cheia de alívio e drama.
- E então? Qual seu nome?
- Melissa Kim.
- O meu é Ryan Cox, mesmo que você não tenha perguntado. - diz em um tom zombeteiro.
- Me desculpe, as vezes eu dou uma bugada. - digo sem graça.
- Tudo bem. Bom, eu preciso ir, mas foi bom te conhecer Melissa Kim, menos a parte do atropelamento.
- Foi um prazer conhecer você também gatã... Ryan Cox. - digo agora SUPER SEM GRAÇA.
Isso Melissa, mais um mico pra sua coleção.
Ele sorri e vai embora. E eu nem lembro mais o que iria comprar, só faço meu caminho até o caixa, com a minha cara de bobona, porque não é todo dia que um eu atropelo um bonitão.
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UM NOVO COMEÇO PARA MIM
Chick-LitMelissa Kim é uma médica excelente, amada por seus colegas e pacientes, apesar da pouca estatura tem um coração enorme e como diz: certificado em maluquice. Nunca conheceu o pai e após um terrível acidente perde sua mãe, aos seis anos. Aos sete é a...