Um novo começo

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Hande estava deletando uma centena de fotos de seu celular. Mas não quaisquer fotos. Fotos dela e de seu noivo, ou melhor, ex noivo Murat. Depois de anos, Hande se sentiu na obrigação, ainda na força do ódio, de terminar tudo e apagar os rastros infelizes daquele término. Começou por um acordo com Murat, onde ambos diriam que o término fora amigável e melhor para ambos. Depois, se afastar da mídia. E depois, apagar os rastros em sua própria vida. Começando pelas fotos em suas redes, em sua casa, em seu celular.

Ela cuidava de apagar as do celular e Gamze, sua irmã e melhor amiga, por caçar as da casa. Uma por uma, Hande foi apagando e sentindo seu ódio se inflamar mais.

- Imbecil, estúpido. - dizia entre dentes.

Quanto mais rápido as apagasse, mais rápido se livraria da tortura, era o que pensava. Por isso, enquanto estava sentada no deck que dava para uma bela paisagem verde, passava os dedos pela tela do celular o mais rápido que podia. Quem olhasse de fora, talvez pensasse que queria quebrar o aparelho com as próprias mãos.

- Eu achei essa caixa. - Gamze arrastou a porta do deck, enquanto carregava uma caixa vermelha.

Com os olhos vermelhos, Hande encarou a irmã e a caixa. Largou o celular de lado e foi até Gamze.

- Deixa que eu cuido disso. Pegou o fósforo e o álcool? - disse ao tomar a caixa em suas mãos.

Gamze franziu as sobrancelhas para a radicalidade da irmã, mas não questionou.

- Eu vou pegar.

Hande uma vez sozinha com a caixa de fotos e lembranças, deixou que algumas lágrimas rolassem pelas maçãs do rosto. Abrir aquela caixa seria doloroso, principalmente o que pensava em fazer com elas. No entanto, sabia que era necessário para aplacar toda sua fúria depois de ter sua confiança traída, em um relacionamento de anos. Sabia que o relacionamento já não estava no mesmo pé de antes, mas nada justifica uma traição. Não para Hande. Era imperdoável. Ainda estava sendo bondosa em não expor o caso para a mídia. Não pelo atual Murat, mas pelos anos em que passaram juntos e pelo que ele a ajudou a passar. Além disso, sabia que a mídia a massacraria, não ele. Contudo, em sua vida privada poderia e faria: o apagaria. Pelo menos até onde pudesse, já que em sua mente, só uma perda de memória daria jeito.

Decidiu por fim, abrir a caixa e olhar todo o conteúdo de seu interior. Ali encontrou fotos, pequenos cartões, presentes e recados. Sim, Hande era do tipo de pessoa que guardava cada coisinha, por menor que fosse. Gostava da vida dos detalhes, principalmente os mais simples, porque eram neles em que via beleza. Não era uma mulher das pérolas e diamantes e sim dos bilhetes matinais, das fotos em cabines instantâneas, da paletinha do sorvete que tomaram na primeira viagem de casal, ursinhos ganhados no parque. Era uma das mulheres mais seguidas da Turquia, em seus perfis na internet, mas em sua vida era uma mulher simples e gostava de ser assim. Ela e sua irmã foram ensinadas pela mãe a darem valor a isso.

Hande tocou em algumas fotos e mais uma vez a raiva pela traição estava ganhando força. Largou o que tinha nas mãos e secou as lágrimas. Sem lágrimas para um cafajeste.

Pegou os bilhetes e cartões e começou a rasgá-los, um a um, até serem somente picotes de papel no chão.

- Trouxe o fósforo e o álcool. Mas... - Gamze olhou para os papéis rasgados, no chão, como se estivesse um pouco surpresa. Dividiu o olhar entre eles e sua irmã que parecia possuída pelo ódio. - Trouxe também algumas coisas que chegaram do correio.

- Ótimo, me dá isso aqui. - Hande puxou o álcool da mão de Gamze e começou a despejá-lo sobre a caixa. Depois, riscou o fósforo e jogou sem piedade. As chamas rapidamente se acenderam e começaram a consumir a caixa.

Falling Like The StarsOnde histórias criam vida. Descubra agora