PRÓLOGO

19 5 1
                                    

PrOlogo

Joseph levou a taça aos lábios, saboreando calmamente a boa safra, assim como saboreava mentalmente seu plano. Havia esperado quatorze anos e, enfim, as peças podiam ser jogadas como numa patética partida de xadrez. Ninguém o vencia, jamais. Nem no xadrez, nem na vida. Não depois daquele dia.

Olhou o ambiente ao redor. Arranjado exclusivamente para aquele importante encontro. Paredes de vidro, mesa de nogueira, duas cadeiras confortáveis, uma em frente a outra. Não cometeria o risco de se encontrar com o rapaz em seus aposentos, não se daria ao luxo de revelar sua identidade, por isso, manteve o feitiço de Glamoury, aparentando ser apenas um idoso indefeso e injustiçado, assim como os animais se camuflam na natureza, Joseph era hábil em ser o que não era.

A porta foi aberta por um dos funcionários do prédio, dando espaço para seu convidado entrar. Dispensou o empregado e fechou a porta sozinho, caminhando com convicção até a mesa. Joseph indicou a cadeira e cogitou servir o vinho na taça vazia. Gestos prontamente recusados pelo jovem com idade para ser seu neto.

— Prefiro ir direto aos negócios — avisou, mantendo-se ereto e aguardando as instruções. — Sua gentileza não me engana.

Apesar de suas feições simpáticas e agradáveis, o matador de aluguel a sua frente não parecia ser amigável. Bem, Joseph interligou essas duas análises e entendeu o motivo de o rapaz ter lhe sido tão bem recomendado. Enganaria qualquer um e não teria piedade.

— Certo. Sem cerimônias. — Joseph levantou-se e abriu sua mão sobre a mesa. — Preciso da neta de Júlia West. A mais nova. Há um feitiço escondendo-a, de modo que nenhum ritual de localização a encontra. — Sua mão foi se movendo e mostrando imagens que poderiam auxiliar o matador em sua missão. — Essa é a Júlia, e a única coisa que eu posso confirmar é que quando você bater os olhos na neta, verá a avó. Elas são muito parecidas, todo mundo comenta isso. E seu nome é Kate.

— Devo matá-la imediatamente? — perguntou friamente, encarando sem pestanejar seu contratante.

— Não ouse fazer isso. — Joseph avisou imediatamente, abandonando temporariamente a fragilidade que vestia. — Eu a quero. Você deve trazê-la para mim. E, então, você entenderá por que escolhi um matador e não um investigador.

...Onde histórias criam vida. Descubra agora