CAPÍTULO 4

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Capítulo 4

Seus dedos tocaram em um ponto da minha testa, causando-me desconforto. Não pelo seu toque, tampouco como havia acontecido na tenda quando um mal súbito me deixou confusa. Parecia dor causada por um ferimento e, inexplicavelmente, sua mão havia suscitado o incômodo e, após alguns segundos, parecia acalmá-lo, como se estivesse curando meu machucado.

— Você se cortou. Aliás, você mencionou a cigana sendo queimada. Você estava na tenda? — Sua mão ainda continuava na minha pele, e eu ainda não tinha dado o tapa prometido a mim mesma. — Ah, sou Téo Dáman. Para você não continuar me chamando de rapaz que não sei o nome. — Enfim, seus dedos se afastaram da minha testa.

— Sim, era a minha vez de jogar as cartas — comentei, tentando puxar mais recordações. O fogo tinha consumido as minhas lembranças também. — Não foi você quem me tirou de lá?

— Parece que temos um herói desconhecido — Téo comentou e cruzou os braços na altura do peito. — Por que carregar você para fora da tenda e deixá-la largada aqui?

Sua pergunta me fez refletir. Téo parecia muito inteligente em sua análise. Qual motivo levaria uma pessoa a me salvar e me largar do nada? Desaparecer em seguida... Não. Meu pesadelo. Ele me salvava e retornava para morrer queimado. Eu não sabia mais o que estava acontecendo comigo, não sabia muito bem nomear o sentimento que me consumiu naquele instante, porém, agarrei os braços cruzados de Téo em um ato de desespero.

— Morgana foi a única vítima? Há mais alguém ferido?

Os olhos de outono encararam minhas mãos, encararam meu rosto com calma e preocupação e, em seguida, suas mãos gentilmente seguraram as minhas. Queria ignorar, não era o momento, contudo, seus dedos eram firmes na minha pele. Mais uma vez, Téo parecia transmitir sentimentos em seus toques. Cura. Naquele momento: calmaria.

— Morgana foi a única vítima fatal. — Fiz menção de puxar minhas mãos. — E não tomei conhecimento de outros feridos, exceto por você...

— Kate!

Eu conhecia aquela voz desde muito nova e senti um enorme alívio preencher meu coração. Sentia-me um tanto abandonada no parque com um desconhecido que, enfim, tinha nome, e com habilidades estranhas de me fazer conversar com ele como se nos conhecêssemos há anos.

— Não sabia que você estava por aqui ainda.

Henrique parou a nossa frente e, então, me dei conta de que Téo ainda segurava as minhas mãos. Os olhos amendoados do socorrista, muito parecidos com os de Lola, encararam a cena com espanto e com um sorriso conspirador. Eles sabiam da minha preferência por relacionamentos abertos e adoravam implicar comigo quanto a isso.

— Perdi minha bolsa. Lola e Jane já foram embora, né? — Retirei minhas mãos das de Téo e dei uns passos para trás, de modo que formássemos um trio conversando. Não sabia se deveria apresentar um ao outro, porque não veríamos o Téo novamente...

— Prazer, sou Téo. — Ele estendeu a mão na direção do irmão de Lola que correspondeu educadamente.

— Eu não falei com elas — Henrique retomou minha pergunta. — Precisei vir devido à emergência, mas a ordem foi para esvaziarem o local. Vou ver se consigo encontrar sua bolsa com os meus colegas — avisou, antes de começar a se retirar.

— Henrique, você pode me dar uma carona? — Antes de me responder, ele encarou nós dois como se não entendesse por que eu estava pedindo uma carona se estava com um cara. E, então, como um irmão mais velho, Henrique assumiu uma postura protetora. Eu devia ter um motivo para não querer sair dali com Téo.

Claro. Finalizo meu plantão agora, podemos ir juntos para casa. Vou procurar sua bolsa. Quer ir comigo? — sugeriu, olhando para Téo de modo curioso.

— Agradeço se puder ver se alguém achou, ainda preciso resolver umas coisas — comentei, passando o peso do meu corpo de um pé para o outro, sem graça com a situação inusitada.

Henrique apenas concordou, lançando-me um olhar bem sério numa tentativa de ver se eu não estava me enfiando em roubada. O irmão de Lola sempre foi assim. Defendia a mim como se eu fosse sua irmã de sangue.

— Seu amigo deve pensar que sou um psicopata — Téo disse tão logo Henrique deu as costas. — Mas, você parece não pensar o mesmo ou não teria ficado.

— É. Ou talvez eu seja um pouco sádica. — Ri do meu próprio comentário afinal, nem eu mesma sabia ao certo os motivos pelos quais ainda queria conversar com Téo. Talvez eu tenha notado um sorriso brincando nos lábios dele. Talvez. — Você quer me levar ao encontro de alguém. Sabia meu nome. Conhecia minha avó. — Aproximei-me pouco a pouco de Téo, falando cada vez mais baixo. Sussurros jogados no rosto dele, tão próximo do meu. O vislumbre de um sorriso desapareceu, Téo hesitou pelo primeiro momento durante nossa conversa. — Preciso de respostas. — Fixei meus olhos nos dele.

— Eu não me negarei a responder. — Seus olhos não fugiram dos meus, apesar de sua voz não estar tão firme quanto antes. — Quando você quiser.

— Segunda-feira. Na porta da faculdade. Às sete horas.


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⏰ Última atualização: Nov 13, 2020 ⏰

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