Cᥲρίtᥙᥣo 21

1.5K 271 639
                                    

A atmosfera estava carregada. A amargura gotejava entre seus lábios a cada gole que Minho dava continuamente em seu café sem açúcar. Pela parede de vidro do refeitório, dava para ver a quantidade de fotógrafos e repórteres que esperavam sem descanso um deles sair para despedaçá-los: as notícias haviam difamado Jisung de tal forma que o hospital se tornou um jogo de blocos feito de madeira onde se ele caisse, o mesmo aconteceria com todo o resto que servia para sustentar.

Minho tinha uma manta em volta dos ombros. A Doutora Park teve a gentileza de esperar que ele se recompusesse antes de sair e de antemão o levou o mais longe possível da sala de cirurgia que colocava seus nervos à flor da pele. Deveria ter ficado para evitar que o médico ultrapassasse sua dose diária de cafeína recomendada, como demonstravam as quatro xícaras que bebeu em pouco mais de meia hora. Suas extremidades tremiam, assim como suas pupilas cravadas nos jornalistas ao redor de LeeGal, e cada vez mais sua vontade de sair e gritar para todos ficarem longe aumentava.

A raiva corria por suas veias em um fluxo fervente que estava prestes a transbordar. Expandir o veneno por toda a sua anatomia era a única coisa que fazia ao manter-se bebendo e pensando sobre os jornalistas que manchavam a imagem de Jisung.

A única coisa que conseguiu esfriar seus pensamentos foi a memória vívida do garoto em seus braços. Foi todo um processo desligar a imagem de seu corpo desacordado naquela sala, do véu que cobria suas entranhas e do sangue fresco nas luvas de cirurgião. Assim que o fez, respirou fundo e pôde esquecer por um momento que a pessoa que mais amava estava cambaleando na corda bamba; equilibrando-se sobre a vida entre o vazio da morte. O toque fantasma de seus lábios acariciaram seus pensamentos. Seus abraços taparam o anseio de pegar sua arma novamente e ir em busca do agressor de Jisung.

Foram muitos os minutos que se passaram até que sua solidão fosse interrompida. Foi puxado para fora de sua imersão por uma voz que não se dirigia a ele há um bom tempo. Um homem enfiado em um terno, com o nariz que puxou de Lee Jeong Sung. Seungmin se anunciou atrás de suas costas com um pigarro nervoso que tentou manter intacto seus dotes arejados. Tudo o que fez foi deixar claro que o que saia de seus lábios não era o que sua cabeça planejava dizer.

- Você não pode continuar evitando a imprensa. - soltou com o olhar na nuca de Minho - Em algum momento terá que sair.

- Jisung foi esfaqueado. Sairei quando ele sair. Nem antes nem depois.

- Isso levará vários dias após a cirurgia se ele for salvo.

A menção da possibilidade de ele não ser salvo causou um arrepio na pele de Minho.

- Não importa. - respondeu tomando outro gole de café como se fosse uma boa dose de rum. - Irei pedir a Jeongin que vá até o meu apartamento e me traga algumas roupas. Não vou sair daqui, Seungmin.

O homem se aproximou. Deslizou a passos lentos e hesitantes; muito diferente da maneira de se comportar que havia adotado como costumemeira. Se o tivesse visto de frente, Minho teria identificado em seu rosto aquele sentimento que nunca chegaria a pensar que o consumiria: a culpa. Mas só viu seu reflexo embaçado no vidro.

O silêncio tomou conta do ambiente por mais um tempo até que Seungmin decidiu falar.

- São os mesmos que me entrevistaram há dois anos. - lhe disse, sinalizando com a cabeça para uma mulher com um microfone e para o cinegrafista que mantinha o foco nas portas fechadas do hospital. - Foram os primeiros a questionar a morte de nossos pais.

- Está sugerindo algo?

- Não. Só quero saber o que aconteceu.

Minho se virou. Acabou saindo de sua fantasia, aquela em que Jisung não havia sido apunhalado e nem a morte o perseguia em todos os cantos da sala. Seu coração estava apertado; feito uma bola. Seungmin não esperava que, ao olhar para ele, seus olhos estivessem tomados pela vermelhidão e inchaço causados pela exaustão e de tanto chorar.

𝐀𝐍𝐀𝐓𝐎𝐌𝐈𝐀 | minsung Onde histórias criam vida. Descubra agora