Noite sem luar

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                  N O I T E  S E M  L U A R

Kimberly tinha os joelhos apoiados no colchão assim como o seu rosto prensando-se contra ele. Seus braços, no entanto, eram segurados pela mão esquerda de Finn em suas costas, impedindo-a de se movimentar muito e, portanto, deixando-a ainda mais expectante e acesa para as sensações que a causaria.

Porque ele teve que aprender a lhe causar isso.

Se Finn não fizesse então ele "não seria homem"; nem para ela nem para todo o resto das pessoas a sua volta, inclusive sua família.

Principalmente sua família.

Ainda que soasse estupido para o garoto, ele ainda se deitava com ela. Kimberly tinha apenas dezenove, seus olhos eram castanhos claro e os fios de seu cabelo eram loiros e longos, de modo que poderiam facilmente cobrir suas costas naquela posição ou em qualquer outra, mas ele gostava de vê-las; se apegou a pequenas coisas para tentar se esquecer do conjunto enquanto estocava e ouvia seus gritos e o ranger da cama.

Primeiro, ela, depois, o ápice para ele. Sempre nessa ordem, Finn precisou de alguns segundos para se recompor. Ainda dentro dela ele ofegou e fechou os olhos brevemente. No instante seguinte eles e afastou enquanto ela buscava se recompor de sua própria maneira.

Era quase noite.

— Você parece distante — a voz de Kimberly soou.

Finn nunca ficava completamente nu e, portanto, naquele momento, ele subia a calça e a colocava de volta no lugar. A olhou de relance mas não respondeu.

Ainda que fizesse cerca de um ano que estivessem trepando por vezes consideráveis, seus irmãos o alertavam sobre o fato de que as mulheres que um Shelby se deita não são confiáveis.

Uma mulher confiável e de índole certamente não se deitaria com um, essa era a afirmação subentendida no alerta dos irmãos.

Por isso Kimberly e ele não se falavam muito.

A sua risada chegou aos seus ouvidos, ela puxou um cigarro do maço em cima da mesinha ao lado da cama. Acendeu-o entre os lábios diabolicamente.

— Faz bem em não falar muito. Sua voz de garoto é irritante.

Ele cerrou os olhos em sua direção. As vezes Kimberly parecia estar tão perdida na vida que levava que fazia parecer que se esquecia de ter apenas dezenove. Seu rosto era delicado e lembrava um anjo, mas a lembrança se dissolvia simplesmente por ouvir a sua voz.

Aquela garota era o diabo.

— Voz de garoto — ele balançou a cabeça levemente em negativa, permitiu que seus lábios se erguessem minimamente.

Seus braços estavam cruzados e ele tinha o vislumbre de seu corpo nu esparramado sobre a cama.

— Não preciso de experiência como a sua — Finn descruzou os braços e buscou arrumar os fios claros em sua cabeça para, depois, depositar a boina sobre eles.

— Talvez precise — ela estava teatralmente pensativa, Finn via o fogo em seus malditos olhos.

Ele nunca a repreendeu por achá-la corajosa por provocá-lo, ela estava fodendo com um maldito Peaky Blinder e o provocava. Em certo momento Finn entendeu que aquela era a única forma que ela encontrou para o manter excitado. Ele se aproximou da cama lentamente, a cara fechada e os olhos impassíveis, viu os olhos de Kimberly vacilarem por alguns instantes. No fim, quando estava próximo o bastante, ergueu a mão e a levou de encontro com o seu pescoço.

A viu prender o ar e aquilo o fez querer rir, mas se segurou. Não apertou ao ponto de machuca-lá, obviamente, apenas para que se calasse diante do toque.

— Você nunca cobrou. Eu faço porque um homem tem necessidades, Kim — a voz era assustadoramente calma, mas acusatória — você esta aqui porque gosta.

Ainda que na maior parte do tempo ele se sentisse diferente, as vezes Finn era exatamente como os seus irmãos, talvez fosse pelo sangue ou coisa do tipo. Saiu do cômodo deixando-a desnorteada na cama após a revelação do que ela provavelmente acreditava que ele não tinha conhecimento.

Isso provava que Kim também o subestimava e isso o irritava até o último fio de cabelo.



Finn pesquisou um pouco mais sobre Trinity e sobre o seu pai, no entanto, não havia muita coisa sobre ela. A garota cresceu em uma imensa mansão rodeada de muros de pedra, não era muito sociável, e, em fontes não oficiais, descobriu sobre potenciais confusões e até mesmo confusões reais nas quais ela se meteu.

Trinity cheirava a problema.

Thommy convocou toda a família Shelby até  a casa que comprou nas redondezas da cidade, no campo. Finn não entendeu o motivo de uma reunião tão repentina, as coisas estavam, teoricamente, calmas.

Arthur e John disseram que precisariam resolver algo antes de irem e que um carro esperaria por Finn em frente ao The Garrison para levá-lo . Não questionou, ele nunca questionava.

O motorista era um homem de cerca de trinta e cinco anos, suas roupas eram mais humildes e a boina cobria a sua cabeça. Observou Finn brevemente do espelho e maneou a cabeça, o mais novo respondeu com o mesmo gesto.

Já era noite. Finn se sentiu ansioso pelo que viria, preocupado com qual seria o problema da vez. Dias haviam se passado desde que Iron McGyver visitou o pub e nenhuma novidade sobre isso apareceu. Os Shelby's estavam em paz com os Lee's, Alfie não dava notícias a um bom tempo e as revoluções estavam sendo controladas.

Ele não conseguia pensar em um motivo que não fosse inédito.

Demorou cerca de trinta minutos até que ele estivesse em frente a casa de Thommy. Após descer do automóvel Finn passou as mãos pela roupa para desamassa-la, ajustou a boina na cabeça e respirou fundo. Enquanto seus pés esmagavam o cascalho que se estendia em frente a mansão de tijolos escuros ele observou o céu.

Naquela noite não havia luar, apenas escuridão cobria sua cabeça. Sentiu um frio na espinha, uma expectativa desconhecida.

A porta da casa estava destrancada e sem rodeios ele a abriu, deu o seu primeiro passo para o hall de entrada e ali Finn congelou. Seus lábios se entreabriam um pouco e seus olhos se arregalaram, Finn havia sido pego de surpresa pela cabeleira negra e pelo corpo esguio movimentando-se pela sala, olhando tudo com cautela.

Seus olhos escuros observavam os detalhes no teto e como ímã, quando sentiu a presença do Shelby mais novo, eles caíram sobre ele. Finn sentiu o mesmo frio na espinha de instantes atrás, mas era ainda mais forte.

Os olhos de Trinity eram todos os dias como naquela específica noite; genuína escuridão, o tipo que você vislumbra antes de cair em um abismo.

Hey, eu estou de volta!

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