Finn Shelby e Trinity MacGyver foram jogados como porcos em uma sala escura e fria pelos mesmos homens de cinza que momentos antes haviam os rendido com revolvers em suas costelas. Levados para um beco, algum saco de pano cobriu suas cabeças, depois foram jogados dentro de algum carro e só depois, ao chegarem a lugar-nenhum, jogados naquele cômodo.
As paredes eram cinzas, mal acabadas, a unidade fazia mal. Havia apenas uma única janela no alto da parede, próxima ao teto, com grades e uma maldita lona a cobrindo. Finn estava nervoso. Irritado.
Honestamente, ele estava com raiva. Como John o deixa em um lugar qualquer para ser sequestrado? E aquilo sobre cada maldito membro da família importar?
Não parecia que ele importava muito, sinceramente.
— Como você sabia que seríamos sequestrados? — ele estava visivelmente nervoso.
Trinity soltou um suspiro seguido de uma bufada impaciente. Ela chegou mais perto, baixou a voz.
— Como você não sabia. Os outros, os que estão ameaçando o meu pai, já descobriram que Thomas e ele estão trabalhando juntos, e então alguma coisa obviamente aconteceria. — ela trocou o peso do corpo nas pernas, da direita para esquerda, as anáguas fizeram barulho — Em toda organização existe os corrompidos e de língua bem grande. Informantes. Thomas sabia quem era o de vocês e, convenientemente, o meu pai tinha o seu próprio dentro dos Crows. Então só foi preciso que Thomas Shelby passasse a informação errada na frente da pessoa certa... e que um membro importante daquela gangue maldita acreditasse. — as últimas partes saíram como sussurros.
Finn balançou a cabeça, sua mente fervilhava. Estava mais irritado naquele momento, porque além de não saber de nada, Trinity MacGyver sabia de tudo.
Porra.
Finn ergueu a mão até a cabeça e puxou os fios de cabelo que insistiam em cair em sua testa, incomodando-o. Só então percebeu que não estava mais com a sua boina.
Mais um ponto para sua irritação. Suas bochechas estavam vermelhas e o seu maxilar travado, Trinity podia enxergar as engrenagens da sua cabeça se movendo.
— E nós estamos aqui porque agora Thomas e o seu pai sabem onde é "aqui". Fomos uma isca. — era uma conclusão até bem óbvia.
Trinity soltou um risinho quase imperceptível, mas que não passou batido por ele.
— O que é engraçado?
— Você era a isca, não eu.
Finn a observou por alguns segundos, tentava entender qualquer coisa que ela estava emitindo com os olhos, mas ela era confusa. Ele nunca chegava a uma conclusão enquanto observava ou ouvia Trinity MacGyver, como se ela bagunçasse os seus sentidos.
— E então, o que faz aqui?
Trinity fechou a boca, comprimindo seus lábios até formar uma linha reta. Não pretendia falar demais. Ainda que estivessem sobre os mesmos riscos e eles supostamente salvaram a ele e seu pai, Finn Shelby ainda era Finn Shelby.
E ela ainda era Trinity MacGyver. Movida por esse pensamento, ela baixou os olhos e uma expressão abatida tomou o seu rosto, sua respiração pesou.
— Imaginei que precisaria de ajuda — ou que morreria sozinho, pensou em concluir, mas manteve a boca fechada sobre isso.
O seu pai não concordou, ele achava que teriam tempo o bastante para recuperar o garoto enquanto entravam onde quer que fosse o esconderijo dos Crows, que machuca-lo não era uma jogada esperta, mas Trinity tinha certeza de que matariam Finn no momento em que colocassem suas mãos nele, sem hesitar. Desconfiava até que eles não se dariam o trabalho de levá-lo a um beco, isso seria público, naquela maldita praça, o que colocava todo o resto do plano em jogo.
Se Finn não fosse sequestrado, os homens que o vigiavam – ainda que ele não soubesse disso – nunca conseguiriam encontrar o rastro de algum Crow para seguir. Thomas não os conhecia e o seu pai era arrogante demais para admitir que uma gangue emergente tinha homens inteligentes, ainda mais quando esses homens trabalharam para ele um dia e então decidiram que não trabalhariam mais.
Os malditos estavam chantageando o parlamentar com o seu passado e serviços cumpridos para o homem, eles queriam proteção e o ego de Airon MacGyver jamais o permitiria ceder a uma chantagem.
— Não vejo muita coisa em que você pode ajudar agora. — Finn desdenhou, sem perceber. Seus ombros caíram e o calor insuportável do lugar o levou a retirar o blazer, o qual depositou no chão para se sentar.
O Shelby encostou as costas na parede e ergueu os joelhos, deixou ambos os braços sobre eles. Finn começava a pensar em alguma maneira para sair dali ou se John apareceria a qualquer momento para ajudá-los, mas constatou depois de algum tempo que aquilo era problema dele.
Finn fora desperto de seus pensamentos com os passos de Trinity e a anágua se arrastando pelo chão enquanto a garota se movia até a sua frente. O olhar do Shelby subiu do encontro do tecido com o chão, passou pela cintura e depois espartilho até finalmente chegar ao rosto de Trinity, sem muito ânimo. Ela tinha os olhos afiados em sua direção e os lábios comprimidos formavam um bico de indignação.
— Eu deveria tê-lo deixado sozinho para morrer, Peaky Blinder — Trinity torceu o nariz. Abaixou-se e segurou a barra do vestido sob o olhar de Finn, erguendo as anáguas e o tecido que as cobria.
Nem mesmo a nudez de Trinity surpreenderia tanto a Finn Shelby quanto o que ele realmente viu: ela usava uma calça preta que se ajustava perfeitamente ao seu corpo, haviam dois coldres, cada um em uma perna, com revolvers e facas. Finn arregalou os olhos, chocado.
— Então essa é a utilidade do vestido? — ele admirou a inteligência e perspicácia da garota — ok, isso sim pode nos ajudar.
Trinity deixou as anáguas escorregarem entre os dedos e caírem outra vez em seus pés. Um risinho convencido se instalou em seus lábios enquanto ela cruzava os braços sobre o peito.
•
A mínima luz que entrava através da janela com a lona mal posicionada sumiu aos poucos, dando lugar a uma fresta de luz proveniente de uma lâmpada onde quer que estivesse. Finn e Trinity não tinham muito o que dizer quando a euforia pelo reforço da garota se dissipou lentamente enquanto assimilavam que embora tivessem revólveres e facas, ainda precisavam descobrir como usariam isso de forma inteligente.
Um estalo se acendeu na mente de Finn após a porta ser finalmente aberta e dois homens se enfiarem no cômodo trazendo comida. Trinity estava sentada de frente para ele, do outro lado da "cela", e não pareceu se abalar com quem quer que estivesse ali.
Ela sabia que não encostariam nela, isso seria loucura. Estavam pressionando o seu pai, mas não eram loucos para machucá-la. Era melhor para os dois lados daquele problema que isso ficasse entre eles e apenas entre eles. Airon porque isso colocaria em risco sua imagem e posto, os Crow porque ainda não eram fortes o bastante para enfrentar policiais em massa atrás deles. E se alguma coisa acontecesse a Trinity MacGyver, eles seriam caçados feito animais na floresta.
Trinity tinha consciência de que eles estavam, além de tentando ao máximo forçar Airon a ceder, ganhando tempo. Os malditos cresciam aos poucos, pareciam ratos se empilhando nas partes sujas das cidade.
Apesar dela não tremer com a presença daqueles, Finn a procurou instintivamente, mesmo sem realmente pender sobre isso, e se colocou à sua frente. Os homens não disseram nada; um depositou uma bandeja com pão e água enquanto o outro estava armado, vigiando o Shelby e a MacGyver.
Finn os fitou friamente, morreria antes de demonstrar medo pra homens como aqueles. Da mesma forma que eles entraram, saíram. A porta pesada fora fechada e então eram apenas Finn e Trinity outra vez. O Shelby relaxou um pouco a tensão dos ombros e soltou o ar pela boca.
Olhou ao redor, suas sobrancelhas se abaixando lentamente enquanto as engrenagens de sua cabeça se moviam devagar, peça por peça indo para o seu lugar. Finn abriu os olhos de uma vez e se virou para a garota.
— Ja sei como vamos sair daqui.
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Peaky Fucking Blinder
FanficFinn Shelby, o mais novo dos irmãos Shelby, é também o que está sempre as sombras dos mais velhos. Impossibilitado de se envolver a fundo com os negócios da família, Finn vê um borrão no espelho, onde um reflexo claro de um Peaky Blinder deveria sur...