Capítulo 5 - De outro jeito

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"Paredes, às vezes, estão ali
Para margear o caminho,
não para sinalizar que ele
acabou"*

A forma como os lábios de Carol tocavam com certa urgência sua pele, a deixaram transtornada. As duas estavam na grande cama, apenas com as peças íntimas, brincando com beijos demorados em bocas e peles expostas. Paula não podia crer no que estava acontecendo — a beira de chegar a outro nível de intimidade com a catalã.

Enquanto Carol mordiscava um pedaço de seu ombro, a fazendo estremecer,  pensou nas transformações as quais aquele dia teve para chegar a esse ponto: de reunião misteriosa à grande surpresa envolvendo Luimelia; do "café" com Carol à comemoração com champanhe e conversa maravilhosa; de carona para casa  a àquela cama com Carol. E estavam ali, semi nuas, em busca de alimentarem a vontade de compartilharem prazeres escondidos há tempos.

Porém alguma coisa em sua cabeça começou a martelar: "desacelera, Paula. Está muito rápido. Você sabe o que acontece quando age assim. Fica atenta!". Nesse momento, Carol, que estava por cima, ameaçou a tirar o sutiã de Paula pela alça e esta, tomada pelos avisos inusitados de sua cabeça, a impediu. Segurou gentilmente suas mãos e as beijou em seguida. Procurou os olhos de Carol que encontravam-se confusos pelo ato.

Para Paula, aquela noite seria de outro jeito.

— Perdón. De fato, está muito cedo Carol — disse com certa dificuldade, com medo da reação da outra.

Carol parou para compreender em silêncio o que ouviu, com os olhos pregados nela. Depois, se virou para ficar ao seu lado, pousou sua cabeça em seu peito, envolveu o braço em sua cintura a apertando contra o próprio corpo e por fim, entrelaçou as pernas nas dela.

— Tudo bem, Paula — foi tudo o que disse.

Pensou no que Carol deveria estar imaginando "deve me achar uma idiota". A loira sentiu vontade de chorar. Vulnerável e perdida nela mesma. Veio em mente as memórias de sua última relação, onde deixou-se levar pelos impulsos. Tinha completa consciência de que com Carol era bastante diferente, pois sentia algo muito bonito por ela. Porém, mesmo as duas completamente entregues aos seus desejos, haviam acabado de se verem depois de quase um ano distantes, "demais recente para chegar a esse ponto", pensou.

Paula sofreu no ápice da contradição: não queria apressar os passos do caminhar dessa relação com Carol, mesmo desesperada por fincar seu corpo no dela o mais rápido possível. O corpo pedia muitas coisas mas a mente a enchia de recados temerosos.

— Perdón... — repetiu, agora com a voz embargada pelo choro que ficou preso na garganta.

    — Perdón porque? — se virou para olhá-la, a voz calma — não se preocupa, entendo que não queira...

    — Não é isso — devolveu o olhar cheio d'água com firmeza — eu quero, Carol. Só que, tenho medo de quebrar algo nessa velocidade — suspirou — e começar de forma bagunçada com você.

    — Bagunçada?

    — Digo, acabamos de nos encontrar e... seria melhor se fôssemos com calma. Por favor, não fique chateada comigo — suplicou no olhar a outra. Por um momento, sentiu muita raiva de si por jogar tudo isso à ela.

    — Paula, não existe a chance de ficar chateada com você. Muito pelo contrário.

    — De verdade?

    — Olha — levou seus dedos a acariciar o rosto dela, com um olhar sereno do qual foi a relaxando — confesso que me encantaria que algo acontecesse hoje entre a gente — Paula ia dizer algo mas Carol a silenciou com o dedo e continuou — mas, preciso levar em conta o que você está me dizendo, de que estamos indo rápido demais e concordo plenamente. Você foi mais corajosa que eu de tentar frear isto tudo — disse entre sorrisos com o olhar cheio de compreensão à Paula.

Delicada Selvageria - PaurolOnde histórias criam vida. Descubra agora