Solidão estava olhando a chuva pela janela e ficou assim por um longo tempo, só não ficou mais porque a interrompi.
- Pensando?
Ela me olhou e deixou escapar um breve sorriso.
- Por que você vive tão sozinho?
Fiquei surpreso com a pergunta e então demorei um pouco para responder.
- Poderíamos perguntar por que as pessoas me deixam sozinho?
- Você sente falta delas?
- Eu não consigo sorrir de verdade, apenas isso.
A mulher me olhou e se aproximou mais de mim, aparentando estar preocupada.
- Você chorou tanto quando pisou naquela escada. Achei que você não sairia de lá sozinho.
- As lembranças são as piores coisas que uma mente pode guardar de um coração destruído.
- E você lembra muita coisa, né?
- Sim. Isso não sai de minha mente, o que faço para isso não me perturbar mais?
- Não tem muito o que fazer. Você criou um monstro dentro de sua mente, agora será difícil destruí-lo.
- Me ajuda, por favor! Eu sei que você não entrou atoa em minha vida.
- Que bom que sabe. Eu sou apenas uma luz, vou iluminar seus caminhos, mas é você que tem que seguir.
- Eu vou seguir. Eu sei que vou.
Solidão voltou o olhar novamente para a janela. Ela parecia estar pensativa. Só não conseguia entender o que ela faria pra me ajudar.
- Vamos assistir um filme? Está bem frio e será bom uma pipoquinha bem quente.
Olhei para ela e espontaneamente aceitei o pedido.
Como planejado, assistimos o filme, juntos. Dividimos as cobertas e quando vi, Solidão estava dormindo. Coloquei sua cabeça em meu colo e comecei a fazer cafuné.
Seu rosto era tão lindo, tão angelical. Sua boca delicada e suas mãos estavam segurando as minhas. Eu não sentia mais medo quando estava do lado dela, sentia esperança e queria ficar do seu lado.
Ao acordar, Solidão veio me procurar e então me encontrou na cozinha, preparando o café.
- Já está acordado, coração? - perguntou ela, me abraçando por trás.
- Sim. Não quis te acordar porque seu sono parecia estar pesado.
- Parece estar mais animado hoje.
Sentei e antes de servir o café, peguei o saco de pão e coloquei na mesa.
- Você está me deixando melhor.
- Acha mesmo?
- Sim. - sorri.
- Sabe o que eu queria fazer hoje?
- Diga.
- Ver o pôr do sol.
- Sério? Vamos ver então. Conheço um lugar ideal pra isso. Aproveitamos e fazemos um piquinique.
- Mas os piquiniques não estão proibidos por causa da quarentena?
- Estão. Mas aonde vamos, não tem ninguém por lá. Podemos ir escondidos e ninguém nos verá.
- Se você diz, eu confio.
Como prometido, fomos até o lugar para ver o pôr do sol.
Os olhos de Solidão brilhavam cada vez que olhava para o sol indo descansar.
Com as duas mãos apoiada no solo tomado pela grama, olhei para Solidão e depois voltei meu olhar para o céu.
- Meu amor, me diga qual foi o meu erro?
- Em relação ao que?
- Ao amor. No que eu errei quando tentei amar?
- Você não tentou amar, você amou de verdade. Acho que nunca tentarão te amar.
- E por que nunca tentarão me amar? - questionei Solidão.
- Porque o amor nem sempre é o que idealizam. Você ama a pessoa, mas ela não é obrigada a te amar.
- Eu nunca consegui entender como uma pessoa sabe que é amada e não ama essa pessoa.
- Muitas coisas você ainda questionará e não encontrará as respostas.
- Você seria capaz de me amar um dia?
Minha pergunta deixou Solidão assustada, ela me olhou e ficou envergonhada.
- Amar? Eu não sei como é amar... não me lembro mais como se sente o amor.
- Deixa eu te mostrar... - quando disse isso, tentei beijar Solidão, mas ela desviou o rosto, se levantando bruscamente.
Se levantei e fiquei olhando para ela.
- O que foi? Te ofendi?
- Apenas não faça mais isso.
- Mas por quê?!
- Apenas não faça isso. Eu estou te avisando e é pro seu bem. Isso não pode acontecer ouviu?
- Está bem, me desculpe.
Solidão se distanciou e então eu fui atrás, em silêncio.
Voltamos para casa e ela se manteve em silêncio.
Como nunca fui de ficar em silêncio, tratei de reforçar meu pedido de desculpas.
- Me desculpe, eu sei que fui rápido demais, mas é que estava querendo muito ter você mais do que tenho.
- Eu quero seu beijo, mas não podemos fazer isso.
- E por quê? Se você quer e eu também quero, o que está nos impedindo?
- Você não vai entender. Apenas não podemos nos apaixonar.
- Mas como vou parar de fazer uma coisa, se você não explica o motivo?
Solidão estava agitada, ela não queria revelar o motivo, se é que existia.
- Não podemos se apaixonar. Caso isso aconteça, você vai me perder pra sempre.
- Está falando sério?
- Infelizmente, sim. - afirmou ela.
Naquele momento, não sabia o que responder, Solidão era misteriosa, ela não queria falar tudo que sentia por completo. Parecia esconder muitas coisas, conseguia esconder mais do que eu.
Naquele dia, ficamos o dia todo afastado um do outro. Ela ficou na sala, assistindo filmes e eu fiquei na cozinha, pensando.
Será que estava fazendo a coisa certa? Será que a tentativa do beijo foi certo ou deveria ter esperado mais um pouco? Acho que estraguei tudo, mais uma vez apressei as coisas e deixei a emoção estragar meus planos.
Solidão não estava satisfeita com minha atitude, ficou sem falar comigo durante o dia todo. Era complicado saber o que ela queria, talvez fosse apenas amizade, ou nem isso, ela apenas poderia estar procurando refúgio.
Mas e aquele homem que apareceu em minha casa? Isso não era normal, algo estava me assustando a cada vez que tentava descobrir. O paradeiro de Solidão ainda era incerto, e suas atitudes mostravam que queria me ajudar, mas só ajudar e não ser a solução.
(todos os direitos autorais reservados ao autor Stefen Moonwalker)
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As cinzas de um Coração FUDIDO
RomanceE se você se apaixonasse pela SOLIDÃO? Sem nenhuma explicação, uma mulher chamada: Solidão, apareceu na casa de um jovem que enfrenta problemas interiores como: depressão, decepção amorosa e ansiedade. O que essa mulher fará com a vida deste rapaz...