Capítulo I - As Ordens da Rainha

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Os passos apressados e barulhentos que preenchiam o que na visão do homem era um inacabável corredor, somados à feição séria e ao maxilar tensionado que exibia em seu rosto, denunciavam seu nervosismo ao se aproximar da maior e mais importante sala do deslumbrante palácio. 
Era a primeira vez, desde que havia conseguido um cargo alto na corte, em que sua presença era solicitada repentinamente por Sua Majestade.

E ele não sabia o que esperar com isso. 

Teria cometido algum erro? Esquecido alguma tarefa? Ela pediria sua cabeça como punição? 
Ninguém era chamado em presença da mulher há muito tempo. As ordens delegadas aos soldados eram passadas por superiores na grande hierarquia presente no reino, tornando desnecessária a participação direta da soberana.
Então por que ele, sendo tão invisível em meio à tantos outros mais importantes naquele palácio, estaria sendo convocado?

As dúvidas que rondavam sua mente não o deixavam em paz. Pelo contrário, elas só aumentaram ao finalmente estar em frente à grande porta de madeira maciça, onde deixou duas batidas para anunciar sua presença antes de adentrar o aposento.

— Com licença — a voz grossa e firme, apesar do nervosismo que sentia, não falhou em se fazer presente no ambiente. — Mandou me chamar, Majestade?
— Desmond Sawyer — por estar de costas, seus olhos perdidos no mar agitado mostrado pelos vidros límpidos de uma das janelas, a mulher não viu a mesura do homem que se curvava em respeito. Seu nome pronunciado por ela o fez tensionar ainda mais o maxilar e os ombros. — Sim, mandei. Tenho uma tarefa importante a solicitar, e depois de muito ponderar, creio que, talvez, você seja a pessoa certa para cumprí-la. 

Os segundos que se passaram em silêncio após aquelas simples palavras, para ele, pareceram horas.

Mesmo podendo soltar um suspiro aliviado por não ser algo ruim como previa, o choque não deixou de se fazer presente, uma vez que não esperava receber uma proposta importante daquelas tão cedo. Mesmo seu irmão, sendo um dos homens mais requisitados para missões da corte em sua época, havia demorado anos para conquistar confiança e servir diretamente à uma ordem superior, e agora, era ele quem estava tendo essa oportunidade, depois de apenas um ano de promoção e ainda sendo tão jovem. 

Era inacreditável, para dizer o mínimo.

Mas as sobrancelhas grossas erguidas em surpresa voltaram para seu natural tão logo quanto se puseram acima uma vez que Desmond se deu conta de que deveria responder àquilo. 
Antes de qualquer palavra poder ser pronunciada, porém, a rainha se virou para encará-lo.

Suas vestes, como sempre muito bem feitas e bonitas, moldadas e costuradas especialmente para ela pelas modistas da corte, hoje eram compostas por um vestido vermelho-sangue de seda – que realçava sua pele bem clara –, e adornado por detalhes rendados em tom cru na cintura. Desmond não deixou de notar também que rubis tão vívidos e brilhantes quanto a cor do tecido finalizavam o caimento do mesmo.
E o rosto longo da mulher, de traços finos e bem desenhados, era emoldurado por seus cabelos loiros que caíam em cascata pelos ombros e completo pelos seus olhos de um azul tão hipnotizante quanto o mar lá fora, quase como se, de alguma maneira, fizessem parte dele. 

Ela era bonita; um tipo de beleza dificilmente igualada além de incomum, que conseguia fazer até mesmo olhos atentos se perderem para poder encontrá-la.

De certo, essa poderia ser sua maior característica, não fosse pelo fato de uma única coisa ser capaz de atrair ainda mais atenção para si: sua idade. A rainha Syrena parecia uma moça em muitos aspectos, o que por si só era uma arma e um lembrete. Nenhuma vez, em toda a história de Willhye, a coroa havia descansado sob uma cabeça tão jovem.

Muito menos permanecido nela por tanto tempo.

A jóia ancestral, porém, estava há tantos anos adornando seus cabelos claros e impondo-se acima de todos, que parecia apenas algo certo, feito para ela, como se fosse uma parte de seu corpo. 
Era uma sorte que a mulher houvesse se adaptado tão bem ao trono, especialmente depois da morte súbita do último rei, – seu marido –, antes mesmo que completassem um ano de união.

Sea Mission [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora