O céu enevoado que se punha acima das cabanas simples remetia à uma época turbulenta a qual a garota mal tinha recordações. O cenário, porém, não lhe era estranho; trazia até mesmo certa nostalgia, algo parecido com a sensação de estar de volta a um lugar ao qual nunca deveria ter deixado para trás. Apesar disso, ela não entendia o motivo de estar ali. Afinal, segundos antes, não estava em uma batalha importante? Ou aquilo havia sido só um sonho, fruto de sua imaginação?
Olhando em volta, – sua mente embaralhando enquanto tentava distinguir presente e passado entre flashes de memória –, ela se pôs a caminhar. No primeiro passo, entretanto, se arrependeu imediatamente; a dor aguda causada em decorrência do gesto fez seus olhos se direcionarem para baixo, e com isso, o vislumbre de seu pé direito em uma posição nada agradável trouxe à tona a resposta que precisava para pôr um fim às suas perguntas: não havia sido um sonho.
Celeste! Ela estava sendo imobilizada por um inimigo.
Sua flecha já estava a postos para atingí-lo e salvar sua companheira, mas aquele homem misterioso, – que apareceu sorrateiramente por entre as árvores, desconcentrando-a, e, mais do que isso, confundindo-a com palavras tendenciosas cujo significado ela não havia entendido –, acabou com seus planos. Aquela luz azul inebriou seus pensamentos, e então, nada.
Ela havia acordado ali.
Mas onde estava? Onde poderia estar, senão em Cresta? Como havia chegado naquele lugar?
— Gemma? — A voz suave que se fez presente atrás de si para arrancá-la de suas dúvidas fez uma posição defensiva ser assumida. Ao se virar, entretanto, deu de cara com um rosto que não parecia representar nenhuma ameaça, pelo contrário; a bondade e serenidade presentes naquele olhar de compaixão remeteram a mais lembranças confusas, escondidas em seu subconsciente. — Como você cresceu. Se tornou uma linda mulher.
— O que... quem... — os olhos azuis da garota começaram a marejar quando a mesma caiu em si. — Mãe?A mais velha se aproximou da filha, abraçando-a. Suas expressões eram um misto de emoções, contrastando entre alívio, felicidade, dúvida, saudade, e tantas outras.
— Mas como... onde eu estou? Onde nós estamos? Você... você desapareceu há tanto tempo, como me achou? Por que agora? Foi você quem me trouxe aqui? — A respiração de Gemma, alterada com tantas perguntas que não conseguia conter, fez um riso um tanto triste escapar dos lábios de Agnes.
— Gemma, escute. Você não está aqui de verdade, isso é um sonho. Uma visão, na verdade. Ou, como você costuma chamar, um presságio. De qualquer forma, eu preciso que preste muita atenção, não temos muito tempo.A garota sempre tivera mãos firmes, mas naquele momento, elas tremiam, bem como todo o seu corpo. Seus olhos claros percorreram cada canto do rosto de sua mãe, em busca de um motivo que justificasse tudo aquilo que ela não conseguia compreender: seus presságios sempre vinham por sonhos, mas, na maioria das vezes, tudo o que via era um grande borrão, flashes do que viria a acontecer em um futuro próximo.
Nada nunca foi tão nítido como o que via naquele momento. Era real demais.E esse era o motivo principal de se sentir tão desestabilizada.
Decidindo não contestar, e apenas aceitar que aquilo não poderia realmente ser mais do que um sonho – afinal, a garota e sua mãe se separaram muitos anos atrás, e uma sequer sabia se a outra ainda estava viva – ela assentiu, esperando que Agnes lhe dissesse o que precisava.
— Preciso ser rápida. Você está vulnerável no momento, então precisa retomar a consciência o mais breve possível. Gemma, seus amigos estão em perigo. Algo grande está prestes a acontecer, muito maior do que o que já enfrentaram até agora — a mais velha suspirou, olhando em volta, como se sentisse estar sendo observada. — Mas você não estará sozinha, uma pessoa chegará até você. Enquanto isso não acontece, precisa se lembrar da canção. Lembre-se das palavras em seu coração, filha, e encontrará seu caminho e sua essência nelas. Elas te protegerão de todo perigo. Você é mais forte do que imagina — e então, tão rápido quanto Agnes disse que precisaria ser, sua imagem começou a desaparecer, deixando um sorriso gentil e esperançoso nos lábios como último vislumbre para sua filha.
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Sea Mission [Concluído]
PertualanganPara Kiara Black, a pirataria nunca havia sido uma opção. Ao menos, não até ver toda a sua vida no reino desmoronando bem em frente aos seus olhos e se tornando um enorme pesadelo. Tendo perdido tudo o que tinha e o que mais amava ainda criança, nã...