Cap. 24

4.4K 337 27
                                    

Os olhos azuis fitaram Carina por longos minutos, vendo que a morena sequer se movia. Maya decidiu se aproximar dela, se deitando sobre a cama, ao seu lado, antes de tentar a comunicação.

-- Hey... -- A voz rouca soou docemente atrás de Carina e um braço circundou sua cintura. -- Não fique chateada comigo. -- Maya pediu e Carina torceu a boca, se virando para ela lentamente.

-- Não estou. -- Ela disse, fitando as orbes azuis.

-- Então por que ficou assim? -- Maya indagou e Carina a abraçou, se encostando mais em seu corpo.

-- É que havíamos compartilhado algo... nosso. -- Carina disse envergonhada. -- E eu me senti tão bem, mas aí a realidade dos segredos e mistérios bateu em minha porta cedo demais. -- Confessou e Maya assentiu, decidida a ceder mais um pouco.

-- Se eu te contar a segunda vez que nossas vidas se cruzaram eu ainda poderei dormir abraçadinha com você? -- Maya perguntou e os olhos curiosos de Carina encontraram os seus.

-- Sim. -- Ela respondeu, se aconchegando nos braços de Maya antes de sentir a mais velha puxar o cobertor para cobri-las.

-- Desta vez precisarei ir mais a fundo em alguns detalhes.

-- Quanto mais fundo melhor. -- Carina disse, ouvindo Maya rir alto ao ouvir aquilo, só então caiu em percepção do que havia dito. -- Hey, eu não disse com malícia! -- Falou rindo e a outra assentiu.

-- Certo, desculpe. -- Ela disse iniciando uma carícia leve e mansa no braço de Carina. -- Dessa vez tudo começou em um funeral. -- Maya disse, fazendo Carina erguer o rosto para ela com preocupação.

-- Já não sei se quero ouvir. -- Carina disse e Maya depositou um beijo na ponta de seu nariz.

-- Então eu não falo. -- disse e Carina negou rapidamente.

-- Não, por favor... -- Ela insistiu e fazendo a outra rir, assentindo.

-- Bem, eu tinha uns dezoito anos e ainda precisava muito, muito, muito mesmo de dinheiro... Um dia vi na televisão que um empresário muito conhecido e importante havia falecido... -- Maya começou. -- Eu sequer me importei em gravar o nome dele, o que havia chamado a minha atenção era o local do enterro. Era perto de onde eu estava e era aberto ao público.

-- O enterro do meu pai foi assim. -- Carina cortou e Maya a fitou, levando uma mão até seu rosto para acariciar a região.

-- Naquele dia eu decidi investir todo o dinheiro que eu tinha em flores. -- Maya confessou. -- Comprei de todos os tipos e passei horas fazendo arranjos e buquês. Peguei todas as flores e as embrulhei em um enorme tapete, com cuidado para não danificá-las e, uh, as levei para o enterro do homem para vendê-las. -- Disse, analisando a ruga que se formava no rosto de Carina. -- Chegando lá eu te vi. -- Carina paralisou, ligando os pontos.

-- Era... você estava... você... -- Carina estava atônita e Maya apenas a abraçou mais forte, fitando-a.

-- Sim, era o enterro do seu pai. -- Informou e Carina sentiu seu corpo fraquejar e uma antiga dor se reacender em seu peito. -- Você me salvou aquele dia também.

-- Como? -- A voz vacilante perguntou curiosa. -- Eu mal podia me salvar.

-- Eu te vi lá, sozinha, sentada no gramado, mais afastada de todos, chorando. Tão frágil... -- Maya disse em um suspiro. -- Você estava com o corpo mais desenvolvido desde a última vez que havia te visto, tão linda como sempre, só que chorava incessantemente. Eu já disse... Ver você chorar me quebra.

-- Você foi falar comigo? -- Carina perguntou e Maya assentiu. -- Mas eu não lembro. -- A mais velha riu baixinho ao ouvir aquilo.

-- É porque nunca cheguei até você. -- Falou. -- Não diretamente.

-- Covarde. -- Carina brincou e Maya riu, selando-lhe os lábios com os seus.

-- Eu posso me defender? -- Maya indagou contra os lábios da morena e Carina sorriu, assentindo. -- Bem, eu peguei o ramo de flores mais bonito que havia entre os meus e deixei as outras flores lá, unicamente para me aproximar de você, mas antes eu escrevi um bilhete. Eu queria agradecer sabe? Me sentia em débito, porém também queria te consolar... -- Ela disse.

-- Eu não acredito... -- Carina proferiu boquiaberta.

-- Deixei as flores ao seu lado junto com meu bilhete e estava pronta para me sentar ao seu lado e te tomar em meus braços ainda que você não quisesse. -- Falou veemente. -- Céus, você sequer havia me visto, estava chorando tanto... -- Maya umedeceu seus lábios antes de continuar. -- Mas aí o grito de um dos seguranças do local chamou a minha atenção. Quando olhei ele queria jogar fora minhas flores. Eu... precisei ir, sabe? Era todo o meu dinheiro ali. -- Confessou tristemente.

-- Foi você... -- Carina disse surpresa e Maya projetou um meio sorriso.

-- Você gostou das flores?

-- Amei, mas o bilhete... -- Carina disse sorrindo bobamente.

-- Fico feliz. -- Maya disse sorrindo junto. -- Bem, o segurança queria jogar tudo fora e me expulsar dali, dizendo que eu não tinha licença e eu tive que me humilhar implorando para ele, por favor, não me expulsar. Ficamos longos minutos debatendo, mas aí você chegou perguntando o que estava acontecendo ali. -- disse rindo nostálgica. -- Novamente mostrando o quão destemida e incrível você era. -- Disse sorrindo, deslizando a vértice de seu nariz ao longo do rosto de Carina, fazendo a mais nova ter suas batidas cardíacas irregulares.

-- Não acredito que estive do seu lado... -- Carina disse ainda incrédula.

-- Ele te disse que eu não tinha autorização e você o disse para calar a boca antes que fosse despedido, que seu pai havia falecido enquanto ele pensava naquela estupidez e então ele se calou e me deixou ficar. Vendi todas as flores aquele dia.

-- Não lembro do seu rosto... -- Carina disse e Maya sorriu.

-- Não poderia lembrar mesmo...

-- Maya, mas você disse que você me conheceu só por nome dessa vez, não por rosto.

-- Não foi dessa vez que te conheci por nome... Dessa vez ainda não sabia que você era Carina Deluca, mas já descobri que tinha dinheiro por ser filha do empresário que havia partido.

-- Oh...

-- Mais uma vez você foi um rosto sem nome para mim, porém salvou novamente a minha pele. Eu realmente precisava daquele dinheiro.

-- Eu ainda guardo o seu bilhete até hoje... Ele significou muito para mim, mesmo nunca sabendo quem havia me dado.

-- Ainda lembra o que dizia? -- Maya indagou e Carina sorriu.

-- Como esquecer? -- Perguntou nostálgica. -- Ele foi a razão para eu conseguir continuar.

-- Jura? -- Maya perguntou incrédula.

-- U-hum. -- Ela disse assentindo e logo afundou o rosto do pescoço de Maya. -- Não deveria ter me dito que foi você a dona daquele bilhete.

-- Por quê? -- Maya indagou e Carina mordeu o lábio inferior.

-- Porque faz eu ficar ainda mais... -- Não, não deveria dizer. E se Maya desse o famoso surto de proteção e decidisse se afastar dela para protegê-la? Não queria ficar longe dela.

-- Mais o quê? -- Maya indagou e a morena suspirou, negando com a cabeça.

-- Ainda mais grata. -- Falou, decidida a jamais dizer em voz alta o quão apaixonada por Maya ela ficava a cada dia que passava.

Presa Por Acaso | MarinaOnde histórias criam vida. Descubra agora