ᴾʳᵒ́ˡᵒᵍᵒ

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ㅤㅤEu não sou escritor

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Eu não sou escritor.

Não sou bom leitor, também. Ao menos não de biografias e romances. Gosto de histórias ilustradas. Por isso não sabia bem como deveria começar essa história. Pensei em inúmeras maneiras de começar, mas nada me vinha a mente.

Deveria escrever o início ou o fim?

Pensei tanto que ainda sinto algumas pontadas na minha cabeça, é como se houvesse um pica-pau tentando fazer um ninho no meu cérebro. É uma comparação tosca? Não sei. Mas é tão estranho usá-la... Não faz sentido esse tipo de coisa, é ilógico. Só que minha namorada é leitora. Ama romances. Ela disse que esses termos bobos fazem parte de um livro, mesmo um livro como esse, que supostamente deve ajudar outros Magos Psíquicos a evitarem o mal que causei a mim mesmo, ainda que não intencional, quando minha magia despertou.

Só por prometer a ela, e a Maga Psíquica que está me ensinando a controlar meus escudos mentais, não posso fechar o Word e mandar o laptop voando até o outro lado do meu quarto — e, porque esse exercício faz parte de uma das tarefas do semestre da faculdade. Então, preciso escrever aqui, empregando termos totalmente sem nexo, parte da minha história.

Não será uma história longa, vou resumir os fatos o máximo possível. Por isso contarei a vocês agora, algo que talvez eu não devesse contar nesse capítulo, mas acabo de perceber que o que importa não é exatamente onde começa o meu problema, e sim onde comecei a enxergá-lo, quando decidi aceitá-lo, e como decidi buscar uma maneira de enfrentá-lo.

Então começarei te contando que eu tinha dez anos quando perdi meus pais em um acidente de carro. Estávamos a caminho da cura da minha mãe. Ela tinha uma doença incurável para meios convencionais, mas igualmente difícil para magos ainda em formação. Passamos anos percorrendo estradas, indo de município em município, buscávamos um hospital com médicos que são adeptos a Magia de Cura e somente a ela. Infelizmente, essa é uma das cinco magias mais raras do mundo, motivo que nos fez aceitar que deveríamos buscar por quaisquer magos adeptos a cura, independente da natureza de sua magia.

Naquele dia, o dia do acidente, íamos encontrar pela primeira vez uma médica capaz de curar com sua Magia da Água, mas nem minha mãe, nem meu pai tiveram qualquer chance de testemunhar a cura através da água.

Também foi naquele dia que minhas habilidades mágicas despertaram.

É extremamente raro um humano sem linhagem mágica direta, vinda de um dos pais, despertar um dos dez tipos existentes de magia no mundo — Magia da Água, Magia do Fogo, Magia da Terra, Magia do Ar, Magia do Gelo, Magia de Cura, Magia da Luz, Magia das Sombras; Magia de Anulação e Magia Psíquica.

Os cinco primeiros tipos de Magia são as mais comuns no mundo. As cinco últimas, as mais raras. A magia desperta em mim estava entre as mais raras, mas infelizmente não era a magia que meus pais precisavam.

Sou adepto da Magia Psíquica, e no dia em que perdi meus pais, no dia em que a magia acordou em mim, um escudo psíquico tomou forma em torno da minha mente. Esse escudo impedia que qualquer Mago Psíquico pudesse me alcançar com a Cura Empática, proveniente da formação mágica de um Mago Psíquico experiente. Um escudo psíquico costuma proteger a mente dos magos como eu, para que outros magos com a mesma habilidade não possam usar algumas de nossas habilidades em nós, mas minha barreira foi muito além dessa proteção.

O escudo criado por mim me impediu de compreender quaisquer emoções para me proteger.

Não chorei no velório dos meus pais. Eu não chorei quando a terra cobriu seus corpos. Nem quando um Mago da Terra ergueu duas árvores sete palmos acima de seus túmulos, e gravou em seus troncos os nomes de cada um deles. Apenas observei as pessoas passarem por mim, cochichando e apontando como se houvesse algo de errado no lugar onde eu estava parado.

Eu deveria ter chorado como minha tia fazia? Ela parecia desesperada. Era sobre isso que aquelas pessoas cochichavam? Era sobre como eu era uma criança azarada o suficiente para ser o único sobrevivente de um acidente que deveria ter me matado?

Mas não havia nada dentro de mim. Nada além de uma fadiga terrível que me deixou de cama por duas semanas depois do enterro. Eu não sabia o que era aquilo que fazia meu corpo adoecer, nem o porquê de as pessoas chorarem, quando choravam, perto de mim.

Não foi fácil viver como alguém cujo corpo adoecia mesmo em meio a tanta magia, mas eu não precisava me preocupar em me encaixar em um lugar inexistente, nada me interessava, de fato.

Até conhecer a garota que me fez perceber que estava vivo por fora e quase morto por dentro.

Foi a partir daí que minha vida mudou completamente.

Falando nessa pessoa... ela acabou de parar atrás de mim. Suas madeixas louras têm o cheiro doce de morango, e caem ao lado do meu rosto quando ela apoia o queixo no meu ombro.

Sinto meu coração acelerar no mesmo instante.

— Você vai narrar tudo que eu fizer? — ela perguntou, saiu de trás de mim e se sentou sobre a escrivaninha, nem um pouco preocupada por estar empurrando o notebook para o lado e atrapalhando a minha boa postura (falei isso em voz alta enquanto escrevia).

— Estou cumprindo minha promessa.

— Pensei que fosse querer minha ajuda com as palavras, mas parece que está indo bem sem mim.

Ela se vira para sair e eu seguro seu pulso com delicadeza.

— Quero sua ajuda. Quero saber como você se sentiu. Me ajude com a sua versão dessa história, também.

O sorriso que mais amo, arqueou seus lábios rosados e encolheu seus olhos ao perguntar:

— Você quer narrar em primeira ou terceira pessoa, ursinho?

ㅤㅤ— Você quer narrar em primeira ou terceira pessoa, ursinho?

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ᴍᴏɴᴀᴄʜᴏᴘsɪs ᵏᵗʰOnde histórias criam vida. Descubra agora