Hugo suspirou tristemente de sua janela, as crianças na rua corriam atrás de uma pipa, os idosos andavam de mãos dadas pela calçada, o sol parecia maravilhosamente quente, mas ele estava ali, trancado, naquele apartamento, para se proteger, apesar de todos parecerem calmos e felizes o garoto sabia que tudo era uma grande farsa, aquelas pessoas eram malignas, faziam mal uns aos outros, torturavam e matavam, se faziam de bonzinhos para atrair e destruir pessoas boas, os poucos que sobraram pelo menos,, ele nunca poderia ir lá fora, o mundo era um lugar inóspito e cruel, pobre criança,alienada mau sabe a verdade.
Hugo é um garoto de quinze anos que nunca pois os pés para fora do apartamento em que morava, um garoto pequeno para idade que tinha, sua pele morbidamente pálida dando para ver pequenas veias azuladas devido a nunca tomar sol, os olhos pretos e brilhantes sempre doce e cheio de amor, os cílios grossos, alongados e pretos, como estivesse sempre com rímel, deixando sua aparência ainda mais graciosa. O garoto balançou suas longas madeixas pretas que caia-lhe a cintura, e voltou para o quebra cabeças de duas mil peças que estava no chão da sala.
A imagem retratava uma nave espacial com um alienígena verde e cabeçudo, fazendo paz e amor com os longos dedos, Hugo sorriu para si mesmo, pensando em como seria legal viver no espaço, conhecer outros planetas e galáxias, e se existia mesmo alienígenas e se eles seriam tão ruins como a humanidade.
— Hugo venha almoçar. — chamou a mãe do garoto.
Ele se levantou do chão e foi para micro cozinha, onde um cheirinho de peixe cozido com brócolis perfumava o ar.
— Obrigado mãe. — disse o rapaz com um enorme sorriso se servindo de uma generosa porção de comida.
- O arroz também espertinho.
O rapaz comeu com vontade, dando grandes garfadas e se deliciando com o suco de acerola que tanto gostava, e quando terminou de comer lavou a louça do almoço.
— Filho está ficando lindo. — incentivou Paloma a seu filho.
— E onde vamos colocar ele mãe? — perguntou o menino.
— No corredor, ainda tem espaço nele. — falou ela rindo.
Apesar o apartamento deles ser levemente mofado, o lugar esbanjava vida tudo graças a Hugo, que todo quebra-cabeça que montava a mãe emoldurava, e eles penduravam pela casa, com isso cada centímetro da sala e do quarto do garoto tinha quebra-cabeça emolduradas, um pouco na cozinha e um enorme no banheiro, retratando o fundo do mar.
A mulher se sentou perto do filho o ajudando ajuntar as peças enquanto bebericavam o restante do suco.— Uma pena que não posso ficar mais filhote. — disse a mãe do garoto.
— Tudo bem mamãe, daqui a pouco a senhora está de volta e volta para mim. — sorriu o garoto esperançoso.
— Queria tanto que você estudasse normalmente, mas eles vão fazer mal a você, preciso te proteger, eles são perigosos, todo dia é uma luta para sobreviver, eu luto para te proteger...
Eles ouviram uma batida na porta, Hugo ficou estático, um suor frio desceu de sua têmpora, a mãe do garoto colocou o filho para o quarto ouvindo a segunda batida na porta.
— Já vai, meu amor se você sentir alguém vindo na direção do seu quarto se esconda.
— Sim mamãe, a senhora não quer que eu a proteja? - perguntou o garoto inocentemente.
— Não precisa, fique no quarto, pode ser perigoso.
Paloma correu para atender a porta, enquanto o filho se escondia no quarto. Ao abrir a porta deu de cara com um homem alto, com braços longos e cara de sapo esfomeado.
— Desculpe incomodar a senhora, prazer Osvaldo sou novo aqui no prédio. — disse o homem estendendo o braço engessado.
— Paloma. — a mulher o cumprimentou com um olhar indagador.
— Há sim, será que a senhora teria como me emprestar uma xícara de açúcar? Fiquei sem e não posso sair no momento.
— Claro não tem problema, vou pegar para você, só fique aí. — disse a mãe de Hugo pegando a caneca vazia que o homem estendia.
— Espero não está incomodado, ouvi vozes, está com visitas?
— Não, eu moro sozinha, o senhor deve ter ouvido a televisão. — cortou a mulher indo pegar o açúcar.
Mas está se enganando se conseguiu ludibriar o homem, ele olhou para cada canto da minúscula sala, e ali não viu televisão, ora poderia estar no quarto dela, o que intrigou Osvaldo também foi os dois copos de suco em cima da mesinha de centro, no chão um enorme quebra-cabeça, um par de pantufas de gatinho, mais ela estava de chinelo, porquê das pantufas indagou o homem consigo mesmo.
— Seu açúcar. — falou Paloma entregando a caneca ao indivíduo.
— Quando eu comprar eu devolvo a você. — ele sorriu.
— Não será necessário, por favor me dê licença tenho que me arrumar para o trabalho.
— Há sim obrigado...
A mulher bateu a porta com força, deixando homem estarrecido no corredor do prédio.
Paloma foi para o quarto do filho com o coração na mão, suas mãos tremiam de nervosismo, pois ela teve a impressão de quê aquele homem tinha ido ali para sondar, mas porquê? Mas horrorizada ainda foi ver que o filho tinha se escondido, e se esqueceu de esconder os dedos dos pés ao entrar debaixo da cama, como um gato escondido com rabo de fora.— Hugo. — chamou a mulher com um suspiro pesado.
O garoto saiu debaixo da cama, com uma teia de aranha agarrada no cabelo, a mulher sorriu tirando a sujeira e abraçando fortemente o seu filho contra seu peito murmurando debilmente.
— Eu vou proteger você, eu vou, não de preocupe.
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