Capítulo 32

8 1 0
                                    

CAPITULO PESADO CUIDADO 


A governanta Lucinda recebia os convidados com aquela cara de urubu chupado que só ela tinha, enquanto garçons serviam rose em límpidas taças de cristal.
A sala estava deslumbrante com vasos cheio de lírios roxos que combinavam lindamente com as fascinantes molduras de ouro e marfim dos quadros a óleo, e quantos muitos dos convidados poucos reparação, e os que reparavam soltavam críticas nada favoráveis, mostrando o desagrado do rose ao jardim com muitas plantas desfavorecendo as peças.
Mas até mesmo os mais esnobes ali, não tiveram como não suspirar ao ver como estava deslumbrante o anfitrião que descia as escadas com o marido. Akira Gospoldin estava com um terno de veludo vinho que realçava seu tão de pele preta, os olhos verde água brilhavam de alegria, o cabelo branco parecia algodão doce. Arthuro descia de braços dados ao esposo, esse como todo homem Gospoldin estava com um fraque preto.

- Boa noite família. - cumprimentou o rapaz educadamente.

Todos os presentes ergueram suas taças saudando o anfitrião, se tinha uma coisa que os Gospoldin respeitavam eram os códigos, mesmo que contra vontade, e Akira apesar de está num nível muito abaixo de homem da família, ele era o dono da casa, e todos ali o deviam respeito por mais falsos que fosse.

Akira se juntou a um grupo de mulheres bem vestidas e começou a falar.

— Meu primo a casa está linda. — disse Josefan Gospoldin uma das primas prediletas do rapaz.

— Obrigado prima, ainda estou pondo a casa ao meu estilo.

— Nada parece ter mudado não é? - desdenhou a outra.

O jovem olhou a mulher de cima a baixo, o volumoso vestido cor de rosa e sua cara de sebo combinavam muito, Akira com sua língua nada afiada debateu educadamente.

— Como se sua maravilhosa opinião me valesse de algo querida, e quem é você mesmo?

— Caitora Gospoldin.

— Akira o jardim está lindo, ele só cera terra seca.

— Um verde dá sempre uma vida ao ambiente, e parece que as estátuas estão gostando. - sorriu o rapaz olhando pela janela aberta viu uma trepadeira enroscando no pescoço de um caçador matando um cervo.

— Elas parecem horrorizada na minha opinião. — se meteu de novo a prima Caitora.

— Quem é aquele? — indagou o anfitrião ignorando a mulher.

— Nosso primo e servo de meu marido. — ela fez pouco caso ao mencionar o rapaz. — Naomi.

O rapaz que Akira observava era bonito, sua pele era cor de pó de café, usava um vestido cru bege, em seus pulsos guilhoes de ferro, cobrindo o cabelo uma chunari bege com fios de ouro. Naomi estava ajoelhado no chão ao lado de seu mestre, um cinquentão barbudo e barrigudo que fez estômago de Akira revirar que nojo. A face do homem demonstrava presunção, seu olhar era de superioridade, como se tivesse o rei na barriga, Akira já não foi com a cara dele.

Ele deixa o círculo de mulheres e foi até o rapaz, lhe estendendo a mão.

— Junte-se a nós.

Naomi nem olhou direito para Akira e José Gospoldin falou secamente de modo controlador.

— Ele prefere ficar aqui comigo.

— Acho que ele que tem que falar isso não? — indagou Akira não gostando dos modos do homem.

— Viados não tem direito a falar, e mesmo se esse aqui falasse eu não iria permitir, se seu marido não sabe controlar a bixa dele, eu sei domar minha.

— Como você ousa falar assim comigo dentro da minha casa? Quem você acha que é?

— Sou homem. E você é uma bixinha, não devia ter direito a nada, mas o código nos obriga a engolir vocês. Você tem sorte, Arthuro é um bom homem, senão você seria mais um escravinho da família, é melhor você não se meter na vida dos outros.

— Olha aqui seu merda, você está dentro da minha casa, tem que me respeitar, ouviu bem?

— Tenho que respeitar Arthuro, você temos que engolir a seco.

Foi sorte Lucinda tocar sineta para o ritual, pois Akira estava prestes a voar em cima do homem, arrancar os olhos dele, e servir como oferenda a Koschei.

***

No meio do jardim uma ara de pedra negra abrigava uma ovelha amarrada balindo ocasionalmente, seus olhos inocentes olhando as pessoas presentes ali, quase formando um círculo. Akira tremia levemente, o rapaz já tinha participado de muitas cerimônias a Koschei, mas nunca fora ele a guiar um ritual, olhar aquele ser inocente amarrado, fazia com que eu estômago do rapaz embrulhasse de aflição, ele apesar de fugir ao máximo, tinha naquela noite que respeitar o código da família.

— Koschei não aceitaria tofu? — indagou Akira tentando se livrar mais uma vez.

— Fraco. — disse José Gospoldin.

— Comece meu amor. — incentivou Arthuro.

Cada um acender uma grossa vela roxa, as envolvendo em suas mãos, e com o movimento sincronizado eles começaram a bailar em volta do animal, seus sussurros ficando cada vez mais elevados.

Bol'shoy bog, bol'shoy bog, bol'shoy bog, bol'shoy bog
Bol'shoy bog, bol'shoy bog, bol'shoy bog, bol'shoy bog

O rapaz pegou a faca de pedra cerimonial é uma taça de prata para colher o leite do animal, sua voz estava presa na garganta, mas ele a forçou sair.

— Assim como o leite, nossa família continuar pura, não adulterada, não contaminada, que o leite e sirva para banhar-te oh Deus amado.

— Glória a Koschei. - entoou todos ali.

Com a mão direita o garoto respirou líquido nos fiéis. Com carinho ele passou a mão na pelagem espessa e macia do animal.

— Com essa pele faça teu manto poderoso Deus, agradecemos por nos cobrir com suas bênçãos.— Akira engoliu em seco.

— Glória a Koschei.

Bol'shoy bog, bol'shoy bog, bol'shoy bog continuavam a cantar.

— Que a carne dessa criatura seja vosso alimento, como glorioso Deus tu nos alimenta todos esses séculos.

— Glória a Koschei...

O rapaz queria fugir dali, suas mãos tremiam ao segurar a faca de pedra acima do pescoço do bicho, um nó se formará na garganta dele, as lágrimas teimando em se formar.

— Como o sangue da nossa linhagem se perpetue, o sangue desse animal saciará tua sede magnífico senhor.

Com golpe rápido que dor no coração do garoto, ele fincou a grande lâmina na garganta da criatura, fazendo o sangue brotar, caindo na terra, sujando a ara e manchando a pele branca de vermelho. Com a taça de ouro Akira recolheu o sangue que jorrava em abundância do fermento da ovelha que baleia em agonia, com a taça cheia ele levou os lábios e bebeu um gole do nojento líquido quente.

— Glória a Koschei.

Ele entregou a taça ao marido que bebeu, e passou para o velho Gospoldin e assim por diante num balé macabro.

Bol'shoy bog, bol'shoy bog, bol'shoy bog, bol'shoy bog, bol'shoy bog.

— Que os balidos de agonia e dor desse animal seja música a teus ouvidos, alegre os seus sentidos poderoso é amado do senhor.

— Glória a Koschei. — todos disseram com mais força.

— Que a morte desse inocente ser, mantenha a graça, a força, pureza e inocência de todos Gospoldin, que por muitos séculos suas graças iluminem nossos seres. — disse Akira com a voz embargada, ele não conseguiria mais, ele estava esperançoso que tudo aquilo acabasse e que o pobre animal pudesse descansar em paz.

E entre os balidos cada vez mais fracos da ovelha, eles continuavam a dança graciosamente em volta do sacrifício, fazendo as chamas das velas balançar com ar noturno, e a cera roxa pingar em suas mãos, pois a dor é um aprendizado, e o aprendizado é poder.
Bol'shoy bog, bol'shoy bog, bol'shoy bog, bol'shoy bog.


Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Nov 22, 2020 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

LUA CHEIA o sangue dos inocentesOnde histórias criam vida. Descubra agora