Capítulo 5 - O Rei da Floresta

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- Celso pelo amor de Deus, adiante! - André suplicava - A gente não pode parar agora.

- Calma... Eu tô indo... Na velocidade... Que eu posso... - ele respondeu, ofegante.

Enquanto íamos floresta adentro, ficava cada vez mais escuro, fúnebre e ao longe já podíamos ouvir disparos de armas de fogo. Micaela e Débora não desgrudavam nem por um segundo e corriam de mãos dadas, era muito clara a relação de proteção das duas, mas me preocupava... Uma criança fugindo de assassinos tinha poucas chances de sobreviver, assim como um sedentário como Celso. O trabalho em equipe precisava ser perfeito, majestoso, mas será que conseguiríamos? 

- Já está bom. - Chico disse - Acho que já podemos descansar um pouco, corremos demais. Vamos analisar nossas fotos, decidir um rumo e voltar o mais rápido possível. 

- Graças a Deus - Celso sentou no chão apoiou as costas numa árvore. 

O gramado tinha tons amarronzados e os galhos eram baixos e sinuosos. Dava pra ver pouco do céu, mas a luz do Sol conseguia chegar até nós. André mostrou a foto primeiro, era um colar com um pingente vermelho no pescoço de alguém vestido de preto e no verso tinha os dizeres "Encontre-me na boca da Fera".

- O colar tá com alguém? E se for um predador? - Micaela perguntou.

André bateu um punho no outro.

- Aí finalmente vai ter uma ação, vou mostrar no que sou bom - ele disse. 

- Eles estão armados. - falei.

- Nada que um ataque surpresa não resolva. Não subestime os ratos, eles também podem ser predadores.

- Na verdade... - comecei.

- Nem vem, não corta meu barato. Agora virou a caça invertida, vai ser o dia da caça! - seus olhos brilhavam. Nem parecia o medroso que não queria dar um pulinho sobre um buraco. 

- Vamos precisar pensar muito nesse plano, não sabemos qual é o predador que está com seu colar, se eles estiverem andando de bando... - Chico disse.

- Você acha que eu tô ligando? Vai ser porrada em todos.

Eu não o reconhecia mais, ele mudou da água pro vinho em só um dia.

Micaela mostrou a foto dela. Era um anel dourado num dedo magérrimo e no verso os dizeres eram "O rei da floresta". Suspirei fundo e mostrei minha foto com o cálice dentro da caverna e a frase "Beba-me ou devoro-te". Não estava com cabeça alguma pra enigmas naquele momento, principalmente com gente querendo minha cabeça.

Olhei pro céu e pedi pra que não fossem quebra-cabeças complicados demais, o esforço necessário pra passar dali já era desumano mesmo sem eles. Chico estava com uma feição mais preocupada que o normal, talvez o stress de ter perdido nessa fase do teste anterior o estivesse perseguindo. Meu medo era que isso afetasse seu julgamento final.

- Já temos as informações, precisamos agora ver qual é o mais simples e buscar - falei.

- Não sabemos onde são as coisas daqui, a floresta é enorme, vamos ter que explorar - Celso disse ainda sentado. A luz do Sol refletia na sua careca.

- E o que vamos fazer então? Sair andando sem rumo procurando aleatoriamente? - Chico estava sem paciência.

- Não, vamos tentar subir numa árvore dessa e procurar uma caverna, um predador ou alguma coisa parecida com-

- O que é aquilo lá? - Micaela perguntou enquanto apontava pra uma árvore estranha no topo de uma colina. 

Uma árvore retorcida e antiga fazia suas raízes, a amostra, costurarem a colina, majestosa. Sua posição lembrava muito alguém sentado, fazendo a copa parecer uma cabeça e os galhos, suas mãos com os dedos cruzados. A colina ficava no ponto mais alto da floresta, fazendo a árvore, consequentemente, ser a maior também, reinando sobre todas as outras.

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